O milho dos pombos e o dos parvos
O acto de vandalismo que tem ocupado convenientemente os média nacionais é isso mesmo: um acto de vandalismo. Desvalorizá-lo é pactuar com práticas criminosas e confundir comportamentos imbecis e anómicos com a elevação cívica e a dignidade «eco-ideológica» que caracterizam os genuínos movimentos ambientalistas protagonizados por cidadãos de bem. Nem mesmo é admissível legitimar esse acto considerando-o como um exemplo de "desobediência civil". O recurso a este conceito, por parte dos defensores do bando de delinquentes que compõe o «Verde Eufémia», é abusivo e só por ignorância ou desonestidade intelectual pode ser associado ao presente e destrutivo expediente de arruinar uma parte de uma seara de milho transgénico, em Silves.
Com efeito, foi em 1849 que, num contexto de conflito bélico de definição de fronteiras entre os EUA e o México e no quadro de uma sociedade escravocrata apologista de um sistema esclavagista, Henry David Thoreau publicou um opúsculo de vinte páginas intitulado «Civil Disobedience», no qual, batendo-se por valores humanistas, concebeu a «desobediência civil» como a oposição a situações de violência e de injustiça mantidas ou fomentadas por um Estado ou regime político; e não a acção violenta contra indivíduos. Para Thoreau, a «desobediência civil» deve ser também uma desobediência civilizada e daí que tenha posteriormente inspirado personalidades como Luther King ou Gandhi, que desenvolveram formas de protesto deliberadamente não-violentas.
É caso para dizer que, neste triste episódio no Algarve, foi pior a emenda que o soneto, prejudicando-se a imagem pública da luta pela preservação ambiental. Definitivamente, está fora do campo semântico deste conceito a devastação de meia-dúzia de maçarocas geneticamente modificadas e propriedade de um particular agricultor. Até inocentes pombos perceberiam essa diferença!
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