Serão precisos mais 80 anos?
Em 31 de Maio de 1921, no Tribunal de Dedham (EUA), teve início o histórico julgamento de Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, sob um aparato policial inaudito: o exterior era patrulhado a cavalo e de motorizada, e a sala da audiência foi alterada com portas deslizantes anti-bomba e grades de ferro nas janelas. Os réus eram dois anarquistas nascidos na Itália, acusados de roubo e homicídio. Desde a acusação que o julgamento foi injusto, sobretudo por decorrer numa conjuntura fortemente influenciada por pressões anti-anarquistas, anti-imigração e anti-italianas. Nesta época, os radicais anarquistas italianos encabeçavam a lista dos subversivos perigosos dos EUA, tendo sido acusados de diversos crimes.
Apesar de Sacco e Vanzetti terem apresentado provas objectivas e irrefutáveis da sua inocência, o juíz Webster Thayer, o advogado de acusação Frederick Katzmann e o júri relevaram mais as posições políticas dos réus, do que as provas inequívocas. Katzmann chegou mesmo a insinuar que Sacco não tinha combatido na Grande Guerra porque falava mal inglês e não amava os EUA, mas somente o seu salário; e Thayer declarou ao júri que Vanzetti talvez não tivesse cometido o crime de homicídio que lhe era imputado, mas que era todavia culpado por ser inimigo das instituições norte-americanas.
As provas apresentadas pela polícia revelaram-se equívocas e as testemunhas de acusação duvidosas, num cenário delatório forjado para incriminar Sacco e Vanzetti e assim obter dois bodes expiatórios. Daí que ambos tenham sido considerados culpados e condenados à pena de morte. Nem mesmo o recurso que apresentaram (com base no facto de, por coincidência, terem encontrado na prisão de Dedham um imigrante português, Celestino Madeiros, que confessou ter sido ele quem cometeu de facto os crimes atribuídos aos infelizes anarquistas italo-americanos) demoveu o juiz Thayer e o Supremo Tribunal Judicial.
Sacco e Vanzetti foram executados por electrocussão em Massachussets, em 23 de Agosto de 1927; faz hoje 80 anos. Em 23 de Agosto de 1977, Michael Dukakis, o então governador deste Estado, publicou uma proclamação que efectivamente absolvia os dois homens do crime. Lamentavelmente, tratou-se de uma absolvição póstuma e a injustiça cometida, bem como o importante impacto que o caso teve em 1927, não serviram para eliminar as mesmíssimas injustiças que actualmente estão relacionadas com a aplicação da pena capital, muitas das quais ainda relacionadas com o fenómeno da imigração.
Para os leitores deste blogue que queiram saber mais sobre o caso Sacco e Vanzetti, aqui ficam as referências a um documentário, ao trailer do filme «Sacco & Vanzetti», de 1971, e a imagens do funeral dos malogrados homens. Para pôr fim à pena de morte, com o qual se têm feito inúmeros obscenos crimes de Estado, serão precisos mais 80 anos?
1 Comments:
fica a pergunta..e sara que 80 anos chega?
olha passe no meu blog e participe na sondagem! obrigado
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