O supérfluo e o essencial
Recebi por mail um interessante texto de autor desconhecido, cujo conteúdo opinativo partilho plenamente e que testemunha uma experiência pessoal a que, penso, não devemos ficar indiferentes. Há que questionar a pacóvia atitude tão típicamente nacional de, muitas vezes, se dar mais importância à vaidade do acessório em detrimento do que é essencial: é incompreensível que se tenham gasto milhões de euros em estádios de futebol, ainda por cima com reduzidas assistências, e se fechem escolas, tribunais, esquadras e unidades de saúde; os exemplos mais recentes são a Ota e o TGV... Eis o conteúdo do mail:
Há uns meses optei por ir de Copenhaga a Estocolmo de comboio. Comprado o bilhete, dei comigo num comboio que só se diferenciava dos nossos «Alfa» por ser menos luxuoso e dotado de menos serviços de apoio aos passageiros. A viagem, através de florestas geladas e planícies brancas a perder de vista, demorou cerca de cinco horas. Não fora ser crítico do projecto TGV e conhecer a realidade económica e social desses países, daria comigo a pensar que os nórdicos, emblemas únicos dos superavites orçamentais, seriam mesmo uns tontos. Se não os conhecesse bem, perguntaria onde gastam eles os abundantes recursos resultantes da substantiva criação de riqueza. A resposta está na excelência das suas escolas, na qualidade do seu Ensino, nos seus museus e escolas de arte, nas creches e jardins-de-infância em cada esquina, nas políticas pró-activas de apoio à terceira idade. Percebe-se bem porque não construíram estádios de futebol desnecessários, porque não constroem aeroportos em cima de pântanos nem optam por ter comboios supersónicos que só agradam a meia dúzia de multinacionais.
O TGV é um transporte adaptado a países de dimensão continental, extensos, onde o comboio rápido é, numa perspectiva de tempo de viagem/custo por passageiro, competitivo com o transporte aéreo. É por isso, para além da já referida pressão de certos grupos que fornecem essas tecnologias, que existe TGV em França ou Espanha (com pequenas extensões a países vizinhos). É por razões de sensatez que não o encontramos na Noruega, na Suécia, na Holanda e em muitos outros países ricos.
Tirar 20 ou 30 minutos ao percurso ferroviário Lisboa-Porto, à custa de um investimento de cerca de 7,5 mil milhões de euros, não terá qualquer repercussão positiva na economia do País. Para além de que, dado hoje ser um projecto praticamente não financiado pela União Europeia, ser um presente envenenado para várias gerações de portugueses que, com mais ou menos engenharia financeira, o vão ter de pagar. Com 7,5 mil milhões de euros pode construir-se mil escolas Básicas e Secundárias de primeiríssimo mundo, que substituam as mais de cinco mil obsoletas e subdimensionadas (a 2,5 milhões de euros cada uma), mais mil creches inexistentes (a 1 milhão de euros cada uma), mais mil centros de dia para os nossos idosos (a 1 milhão de euros cada um). Ainda sobrariam cerca de 3,5 mil milhões de euros para aplicar em muitas outras carências, como a urgente reabilitação de toda a degradada rede viária secundária.
Infelizmente, Portugal persiste no erro de preferir o supérfluo ao essencial, de ter governos PS, PSD e CDS mais interessados em defender interesses obscuros e não o interesse verdadeiramente nacional, de subordinar a qualidade da decisão política aos imperativos da economia neoliberal. Não se queixem os eleitores portugueses de que infraestruturas básicas numa sociedade desenvolvida lhes sejam retiradas pelos seus eleitos, a troco de um aparato que não passa de coisa nenhuma!
2 Comments:
Do luxo oco da Pimenta ao Lixo oco do Ostenta.
Nada de novo. Para inglês ver e povo sofrer.
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