terça-feira, fevereiro 26, 2008

Congelar a estupidez

Se a concentração, há cerca de uma semana, de um punhado de professores descontentes à porta da sede nacional do Partido de Sócrates, pode ser considerada como ilegítima perturbação de direito de reunião, já as concentrações que se têm multiplicado nos últimos dias decorrem do exercício de um direito cívico, mesmo que em consequência de convocatórias informais e características da era tecnológica em que vivemos (mail, sms, blogues). Face ao crime legislativo que os irresponsáveis do Ministério da Educação pretendem impor - seja na avaliação do desempenho docente, seja no estatuto do aluno, seja no modelo de gestão escolar -, os professores podem e devem recorrer ao direito à indignação e manifestar a sua repulsa por tantos atentados simultâneos à dignidade da sua profissão.
Depois dos protestos na área de Saúde, os protestos de professores a que temos assistido são a prova inequívoca do desespero em que o Governo está a lançar uma classe profissional de relevante importância nacional, como se a culpa do apodrecimento da qualidade de ensino fosse dos docentes e não dos carrascos que sentam comodamente o rabo nos gabinetes da 5 de Outubro ou do palácio de São Bento. De facto, Lurdes Rodrigues tem um conhecimento prático da vida escolar tão ajustado à realidade como ajustada é a capacidade que um analfabeto tem de interpretar um texto, mormente se de pedagogia se tratar...
Fazer depender a avaliação dos professores de itens como o abandono escolar e as classificações atribuídas aos alunos é apenas um singelo exemplo da má fé, ignorância e inqualificável chantagem, apenas possível em pessoas patologicamente obcecadas em resultado de um qualquer recalcamento recôndito e obscuro.
Este fenómeno de intervenção popular tem a virtude de se constituir como uma forma de luta social complementar e autónoma em relação aos sindicatos e organizações afins, logo, menos politizadas. E a urgente demissão da ministra da Educação e dos seus secretários de Estado faria neste momento mais pelo futuro de Portugal do que a redução de todos os défices. E, já agora, porque não obrigá-los a restituir todo o dinheiro que auferiram enquanto parasitaram no Ministério? Que bom seria se a força dos argumentos derrotasse os argumentos da força...
Justo seria se, em vez de se congelarem aumentos de salários e progressões na carreira, se congelasse a estupidez e a incompetência!

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