quarta-feira, março 26, 2008

O que há de bovino na religião

Por imperativos académicos do Mestrado em curso, estou a ler a História do Cristianismo de Carter Lindberg (Teorema, 2007) e, a páginas 34, defronto-me com uma curiosa comparação usada por este autor para explicar a «doutrina»:
"Para usar uma analogia caseira: a doutrina foi entendida vezes demais como uma cerca eléctrica destinada a impedir as vacas eclesiásticas de se extraviarem de casa. Se uma tal vaca eclesiástica é suficientemente louca para se extraviar, será destruída. No reino temporal, até há pouco tempo, a corrente eléctrica era fornecida pelo Estado. Agora, com a separação entre Igreja e Estado, a corrente está desligada e, com o aparecimento do relativismo histórico, as próprias cercas desapareceram, em larga medida. Por conseguinte, talvez seja melhor voltarmos a uma compreensão mais antiga da doutrina como análoga a uma manjedoura, cuja finalidade é juntar o gado fornecendo-lhe comida."
Fiquei seduzido pela acuidade e pertinência desta impensável analogia, pois nunca antes me tinha ocorrido que se pudesse vislumbrar tão sublime bovinidade na crença religiosa. Mas, às vezes, a evidência mais próxima dos olhos é a que mais custa a ver: não surpreende que se associem as emanações doutrinais da fé à vivência acefalamente ruminante e a algo parecido com um campo de concentração. De facto, ainda está para nascer um pastor de homens!

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1 Comments:

Blogger Ai meu Deus said...

Lida assim, desgarradamente, parece-me uma analogia demasiado pobre em termos de explicação da doutrina. Na verdade, continua a ser (para mim) um mistério (um milagre?) esta coisa curiosa: que os Homens sejam doutrináveis (isto é, aceitem teorias sem qualquer tipo de "prova"). Aqui é que me parece que está o ponto da questão.

11:40 da tarde  

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