sexta-feira, maio 02, 2008

As boas causas são pouco católicas

Apesar de ter petróleo e recursos hídricos, mais de seis décadas de governação do Partido Colorado valeram ao Paraguai o ser um parente pobre do Mercosul e estar internamente dominado pelo nepotismo e por flagrantes e inaceitáveis assimetrias sociais. As eleições presidenciais do passado dia 20 de Abril, neste país de cerca de sete milhões de habitantes, valeram a eleição de Fernando Lugo, um bispo católico que foi suspenso a divinis (estas sofisticadas brincadeiras conceptuais da igreja romana são, de facto, divinais!) por ter teimosamente entrado na vida política activa a favor de causas nobres como o combate à pobreza e à exclusão social e por ter renunciado e abandonado a vida religiosa antes da autorização do Papa.
Portanto, o Paraguai tem um bispo católico rebelde como presidente recém-eleito e é mais um enésimo episódio que vem demonstrar como a intervenção ou activismo socialmente meritório, útil e consequente, é incompatível com o sagrado ofício de dar hóstias, dirigir ladaínhas e demais rituais esclerosados e estupidamente inócuos por parte de uma instituição que é vergonhosamente cúmplice da opressão sobre os mais ignorantes, desprotegidos e economicamente vulneráveis. É aliás longa a lista de clérigos proscritos pela multinacional da banha da cobra sediada no Vaticano, designadamente os da América Latina, continente da Teologia da Libertação...
Para se ser um justo e activo militante político, lutando contra ignóbeis injustiças e desigualdades, está visto que não se pode pertencer ao clero católico - se calhar, foi isso que, por exemplo, o bispo de Díli não aprendeu. É que, tal tarefa, suja e macula a asséptica limpeza das batinas e sotainas. Afinal, as boas causas são pouco católicas, pois não se pode ter os pés bem assentes na terra com a cabeça no céu!

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