quinta-feira, junho 19, 2008

A incompetente de serviço

O plano traçado de desmantelamento da qualidade do ensino público continua a sua marcha impávida e serena. Desta vez a propaganda teve como pretexto os resultados dos alunos dos 4º e 6º anos nas provas de aferição de Matemática e Português: é impossível que, se essas provas fossem fiáveis e seguissem os critérios de outros anos lectivos, delas resultassem menos de metade das negativas e um aumento exponencial de sucesso, em apenas um ano! Quem é professor sabe que esta é mais uma mentira produzida pelo artifício dos números e sem consistência ou tradução materializada em efectivas aquisições cognitivas dos alunos. Aliás, basta consultar os dados de estudos bem mais fidedignos, como o estudo internacional PISA, para desmascarar os sofismas da retórica ministerial.
O que move a sinistra equipa liderada por Lurdes Rodrigues é subordinar vilmente a qualidade do ensino público à batalha das estatísticas, é o cego anseio de encetar uma política ávida em apresentar indicadores de sucesso, com os graves atropelos à dignidade da profissão docente e aos níveis de exigência das aprendizagens. Este é, sem dúvida, o governo das «novas oportunidades» ao desbarato e a baixo custo para todos os que precisam de qualificações não superiores.
Saberá Lurdes Rodrigues, ou os senhores Lemos e Pedreira, qual é o quadrado de 100, como se perguntava numa das provas de aferição? Já agora, porque não o triplo de 567? E como iludir a crítica da Associação de Professores de Português ao exame nacional de Língua Portuguesa do 9º ano, realizado ontem e segundo a qual continha orientações e ajudas excessivas aos alunos e com uma parte de gramática ao nível do 2º ciclo? Assim é fácil propagandear o sucesso...
Suspeito que, para o próximo ano lectivo, a incompetente ministra de serviço (infelizmente há tempo demais) se venha a lembrar de juntar em anexo as respostas e soluções às perguntas dos exames nacionais e provas de aferição, para finalmente apresentar os tão sonhados 100% de positivas, mesmo com uma escola pública apodrecida.
Com um governo e sindicatos assim, não se pode pedir chuva se não há nuvens, mas apenas lágrimas!

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