quinta-feira, maio 04, 2006

Afinal, quem é a besta?

A defesa dos direitos dos animais é uma matéria que me interessa particularmente, preocupado que estou com questões como a destruição de ecossistemas e da biodiversidade (provocada sobretudo pela poluição atmosférica e pela desflorestação), os maus tratos e/ou abandono infligidos aos animais, entre outras. Por outro lado, vivendo num país em que a matança doméstica do porco e as touradas constituem elementos de cultura, o sentimento zoófilo recrudesce, em contraste com a insensibilidade dos que se divertem em espectáculos públicos em que se paga para assistir e dos que exercem uma violência injustificável, gratuita e extemporânea sobre os animais.
Vem esta reflexão a propósito de, numa incursão que fiz pelo sítio da Associação Animal, ter tomado conhecimento de que Victor Hugo Cardinali foi visto a picar elefantes na zona dos olhos e da face com um aguilhão-gancho de metal, durante um "espectáculo" de circo (confesso que tenho algum pudor em chamar "espectáculo" a atrocidades deste género!). Confrontado com este seu comportamento aversivo, o domador terá retorquido que bateu no elefante por este se recusar a fazer o exercício exibicional, não podendo o paquiderme, no seu entender, fazer aquilo que quer, pois está em causa o respeito ao domador (?!).
Desconhecerá este senhor que o elefante não existe para se exibir em entretenimentos circenses nem para viver confinado a espaços exíguos e ser obrigado a uma itinerância errante? E que isso é extensivo a leões, tigres, focas, serpentes, etc.? Será que, na sua atitude ignóbil, Cardinali perspectiva a Natureza como um grande circo feito para diversão humana?
É minha convicção profunda que racionalidade e sadismo não são conceitos compatíveis.
Sou insuspeito para fazer esta crítica: assumo a minha condição omnívora e há circunstâncias em que admito ser concebível uma relação simbiótica ou harmónica entre o homem e outras espécies, sem que tal se revista de uma escravização bestial. Por exemplo, a domesticação de elefantes em países da Ásia. Mas de certeza que o circo não é um paradigma dessa cooperação interespécies.
Há circunstâncias em que tornar doméstico o animal não humano coincide com tornar selvagem o animal humano, não se vislumbrando quem é, afinal, a grande besta!

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2 Comments:

Blogger O Micróbio II said...

Nestes tempos em que a ecologia nos torna mais sensíveis para com a natureza, chegamos facilmente à conclusão de que os animais também têm direitos. As consequências desta posição leva-nos a afastar a absurda tese de que os animais são simples bens materiais disponíveis para todo o uso. Obviamente que devemos ter bem presente a diferença essencial que nos separa dos animais, assim como também não devemos esquecer que não somos donos absolutos da natureza.

10:17 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Estamos, cada vez mais, a sofrer as consequências de não respeitarmos a natureza. Afinal foi ela que nos adaptou. Nós é que não concordamos com as suas orientações e inventamos muito. Temos a ideia estúpida de que alguma entidade divina nos escolheu para usufruir das outras espécies que habitam este planeta a nosso belo prazer. É óbvio que temos de comer, mas, tal como as outras espécies, deveriamos zelar pelo equiíbrio do nosso planeta.
Crueldade em nome do espectáculo é simplesmente criminoso.

12:29 da tarde  

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