quarta-feira, abril 04, 2007

Mentiras fundamentais da «Paixão de Cristo» - 3

3.1. Nenhum Sinédrio julgou e condenou Jesus
Segundo Mateus, Marcos e Lucas, o processo de condenação de Jesus situa-se na véspera da Páscoa, dia da Preparação, coincidindo a Páscoa, nesse ano, com um sábado. Nessa época, os dias contavam-se entre os «pôr-do-sol», o que dá a entender que Jesus teria sido julgado e condenado pelo Sinédrio no mesmo dia, o que era ilegal (o Sinédrio não podia reunir ao sábado, dia sagrado dos judeus). Ao Sinédrio, conselho com 70 membros, estava permitido julgar e condenar delitos ordinários, religiosos ou civis, mas não processos que envolvessem a pena de morte, pelo que transferiram o processo para Pôncio Pilatos, à data a figura máxima do poder político-militar na Judeia. Curiosamente, e contrastando flagrantemente com os outros evangelhos, no de João não há qualquer julgamento pelo Sinédrio, sendo Jesus directamente interrogado por Anás e Caifás, sumo-sacerdotes do Templo de Jerusalém, e saindo daí directamente para ser julgado por Pilatos, única autoridade com poder para aplicar a pena capital.
Portanto, a condenação por "unanimidade" de Jesus é implausível, para mais contando o Sinédrio com, pelo menos, três membros favoráveis a Jesus e aos nazarenos, a saber, José de Arimateia, Nicodemos e Gamaliel.
3.2. A verdadeira condenação de Jesus
O inquérito de Pilatos a Jesus é uma invenção criada pelos evangelistas, que lhe deram um forte dramatismo e efeito teatral, para simultaneamente enfatizarem a suposta grandeza de Jesus perante a autoridade máxima romana e não hostilizarem esta, pondo-a a par da dimensão intelectual, filosófica e política do nazareno. A complexidade do diálogo inspira-se na dialéctica platónica e de outros filósofos, então bastante divulgados no império.
A audiência verificou-se na 6ª feira de manhã, dia da Preparação da Páscoa do dia seguinte, não havendo tempo para a purificação; nenhum judeu entraria nas instalações de Pilatos na véspera da Páscoa, sem terem depois tempo para se purificarem. Daí a dúvida: se nenhum judeu entrou no tribunal onde Pilatos interrogava Jesus e se este não pôde revelar a alguém, até à sua morte, os termos do diálogo com o prefeito romano, como pôde saber-se os termos exactos do interrogatório? E dado que Pilatos não falava aramaico e é improvável que Jesus falasse grego, o diálogo terá decorrido com intérprete e terá sido breve, limitando-se a poucas perguntas talvez dirigidas igualmente a outros réus, cujos crimes deveriam ser da índole e gravidade dos de Jesus, nomeadamente os célebres dois "ladrões" que ladearam Jesus no Calvário e Barrabás, presos nos dias anteriores.
A propósito de Barrabás, este seria outro pretendente a «messias»: o seu nome vem de «Bar» (quer dizer «filho») e «Abba» (quer dizer «pai/deus»). Algumas versões de Mateus dizem que Barrabás também se chamaria Jesus...
Pilatos tê-los-á condenado a uma pena romana pelo crime político de sedição, isto é, insurreição contra o poder de Roma. No caso de Jesus, e à luz do direito romano, os judeus apenas intervieram na medida em que o poderoso partido judeu dos saduceus, que o nazareno desafiou, o denunciou à autoridade romana sob a acusação de intuitos políticos de tomada de poder nessa Páscoa.
A insistência de Pilatos em considerar Jesus inocente de tal crime, apesar da confissão reiterada de Jesus de ser o «messias» de Israel, faria do procurador um inconsequente mental às ordens dos saduceus, o que é historicamente insustentável, dada até a conhecida crueldade de Pilatos. Por isso, a cena da lavagem das mãos é uma das inúmeras falsidades inventadas nos relatos evangélicos!

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