segunda-feira, junho 23, 2008

O novo velho PSD

Voltaram a baralhar-se as cartas e voltou tudo a ser como dantes, na mais fiel ressonância laranja do cavaquismo. E, ontem, no seu discurso de tomada de posse como presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite revelou ser sua ideia-chave de acção política poupar nos investimentos públicos supérfluos (claro, não revelou quais), em curso ou projectados, e centrar antes a atenção na sobrecarregada e exaurida classe média e nos mais pobres. Quem diria que esta «dama de ferro» em versão lusa se iria comover com os desfavorecidos, tendo ela, num passado ainda recente, feito do combate ao défice a razão motriz da sua praxis governativa: não só fracassou nesse desiderato como é um dos principais responsáveis do estado actual de degradação social que se vive em Portugal e de que oportunisticamente mostra um súbito lamento condoído.
Portanto, soa cinicamente a falso tudo o que agora Ferreira Leite assevera e censura, nas linhas e nas entrelinhas. E que dizer dos novos acólitos da neófita liderança, impolutos barões surgidos de uma cómoda penumbra de inactivismo, dada a proximidade de eleições e na perspectiva de o partido reocupar em breve o poder?
Mas Sócrates é um digno discípulo e sucessor da nova líder laranja, ao ponto de há meses Passos Coelho andar a solicitar-lhe que esclareça o que a distingue do PS. Ferreira Leite debita hoje a mesma retórica conveniente de Sócrates até 2005: na oposição, reivindicam os partidos do centrão, com piedade cristã, mais justiça social e equidade na repartição dos bens, que rapidamente olvidam e espezinham mal se alojam no poder, fazendo tábua rasa das preocupações sociais apregoadas na oposição.
O «socratismo», que nos vai contaminando a vida e consumindo a carteira, secou a direita, ocupando o espaço ideológico de actuação do PSD e do CDS ao desmantelar impiedosamente o Estado social. Com Sócrates ou Ferreira Leite - e demagogias de circunstância à parte -, o futuro próximo de Portugal afigura-se continuar negro: as assimetrias sociais aprofundar-se-ão (veja-se o que se passa no Trabalho, na Educação, na Saúde ou na Justiça), a proletarização da classe média consolidar-se-á e a alternativa entre pobres e ricos converter-se-á na dicotomia entre pobres e muito ricos.
Pena que PS e PSD não nos (des)governem quando estão... na oposição!

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2 Comments:

Blogger Ai meu Deus said...

Belo texto. Mas mais bela ainda é a ilustração. Bem esgalhada!

9:40 da tarde  
Blogger morffina said...

Que sacrilégio, essa imagem! :)

1:04 da manhã  

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