sexta-feira, março 17, 2006

Pobre GNR! Pobres de nós!

Um dos problemas de que, neste chão lusitano, padece a orientação política dos sucessivos governos é ser bastas vezes... desorientada! Não há uma definição clara de prioridades de actuação nem de objectivos que se coadunem com princípios essenciais da vida em democracia e da promoção efectiva do bem público. O que é realmente importante e premente apoiar, desenvolver, financiar, incrementar ou construir, é muitas vezes preterido pelo que é acessório, supérfluo, inócuo e gerador de desperdício.
Vem esta consideração a propósito de uma notícia que li e que dá conta de que o destacamento da GNR do Barreiro se confronta com falta de meios indispensáveis ao normal funcionamento dos seus postos, o que se tem traduzido na contingência de os seus efectivos terem de se quotizar para comprarem resmas de papel e tinteiros para as impressoras de serviço, bem como têm pago do seu bolso a manutenção das viaturas e as botijas de gás para o banho quente de depois do serviço. Na Azambuja houve até um caso de impossibilidade de receber uma queixa por assalto a viatura, dada a falta de papel no posto da guarda! E no ano passado, uma sargento do Regimento de Cavalaria foi mordida por pulgas na arrecadação onde se lavava e fardava, tendo contraído uma infecção de pele...
E reparem que estamos a falar de aglomerados populacionais urbanos, densamente povoados e com elevadas taxas de criminalidade, em plena área metropolitana de Lisboa!
O Presidente da Associação dos Profissionais da Guarda, José Manageiro, assevera mesmo que a dotação orçamental da instituição é insuficiente para pagar as despesas correntes dos postos, havendo alguns cujos computadores em serviço são dos militares.
Apesar disso, e por ocasião dos 94 anos da GNR e por decisão do seu comando-geral, cerca de 1800 gnr's estiveram há poucas semanas em Lisboa, durante dois dias, com 200 viaturas operacionais para um desfile em frente aos Jerónimos. Quanto é que isso não terá representado em termos de combustível (mal) gasto e ajudas de custo?! E ainda assim, o ministro António Costa ousa falar em dificuldades em liquidar vencimentos na GNR.
E agora, a cereja em cima do bolo: no fim de 2005, estes militares foram informados que vão ter de pagar do seu bolso o novo barrete de serviço; 25 euros para enfiarem o barrete!, sendo apenas comparticipados com 5 euros do subsídio de fardamento a que têm direito...
Caros concidadãos, por favor, no caso de serem assaltados, roubados, violados, espoliados, chantageados, ameaçados, atropelados ou baleados, não se dirijam às autoridades competentes, respeitando assim a insuficiência logística das mesmas, que não poderão atender aos vossos pedidos. Em vez disso, dirijam-se a um dos muitos estádios de futebol construídos para o Euro 2004, onde encontrarão milhares de cadeiras disponíveis para confortavelmente se recomporem da violação ou violência de que foram alvo e, já agora, e se resultarem lesões físicas, sarem vocês as próprias feridas da carne, pois é provável que encontrem centros de saúde fechados por falta de verbas para funcionamento. Boa sorte e não deixem de acreditar em Deus!

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