quarta-feira, março 08, 2006

«Políticos, Caciques e Outros Anátemas» - 4º Acto

Um outro exemplo recente, do rol quase infindo de exemplos que se poderiam dar, em que as estruturas políticas dos partidos do costume se assemelham a estruturas mafiosas, reside nas entrelinhas de um artigo de opinião de um militante do PS, Rui Namorado, que no Diário de Notícias do passado dia 5 escreve, a propósito do seu partido: "(...) não é admissível a promiscuidade entre a política e os negócios. Quem ocupar posições de relevo no universo das grandes empresas privadas, ou tiver actividades de intermediação em negócios, não deve ocupar lugares de direcção no partido. (...) A independência do poder económico é um princípio constitucional que não pode deter-se à porta do Partido Socialista". Se Rui Namorado tivesse referido nomes de correligionários seus - por exemplo, o de Pina Moura - e publicado o seu artigo de opinião antes das eleições autárquicas de 2005, até que poderia ser considerado como um homem de coragem.
Escreve ainda este professor universitário, que está longe de ter descoberto a pólvora destas perversidades democráticas, que: "A rede dos interesses pequenos e das ambições paroquiais quer reter o PS no seu labirinto", para salientar mais à frente que cabe a José Sócrates (!?) desconsiderar "sem ambiguidades os pequenos feudalismos que aprisionaram a alma do PS". Ficámos a saber, por conseguinte, que: i) estando o PS no seu labirinto, o sentido de orientação dos socialistas é precário e depende mais do improviso de fios de Ariadne que de engenho para ler os sinais em meandros de transparência e lisura na acção política (se eu pudesse, introduziria o minotauro no dédalo fundado por Soares!); ii) a alma do PS está cativa; mas alguma vez a alma do PS, a existir, esteve livre? A cabana do pai Soares pôs o socialismo na gaveta há mais de duas décadas e a tareia que apanhou nas últimas presidenciais são disso um singelo reflexo, mas Rui Namorado já esqueceu aquilo que pretende precisamente lembrar no seu artigo; iii) o PS brinca com os portugueses que nele depositaram a sua confiança, fingindo ou simulando um dinamismo reformista e de acção política, afinal inconsequente e improcedente: "O PS não pode continuar no seu labirinto. Por isso, nem pode ficar paralisado pela inércia das rotinas, nem deixar-se possuir por qualquer sofreguidão na procura de uma saída. Mas principalmente não pode cair na tentação de fazer de conta que anda para não sair do mesmo sítio", refere o professor de Coimbra.
Está explicado nesta peça de teatro, que vai no seu 4º acto, por que motivos Portugal é uma espécie de Albânia da União Europeia. Mas também está explicado que o exemplo português é indissociável da ideia de que a democracia é apenas o menos mau dos sistemas políticos, cujas virtudes só se optimizam deveras em sociedades bem informadas, instruídas, críticas e com membros efectivamente responsáveis e sérios, avessos à cunha compensatória e ao silêncio cúmplice que quase parece corajoso. Há que acabar com este sistema de que «são todos bons rapazes».
Até quando se manterá válido o aforismo: as moscas mudam, mas o excremento é o mesmo?

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Nothung new on the horizon, my dear friend.

12:34 da manhã  

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