sexta-feira, julho 25, 2008

A banhos

O céu, azul de luz quieta,
As ondas brandas a quebrar,
Na praia lúcida e completa -
Pontos de dedos a brincar.

No piano anónimo da praia
Tocam nenhuma melodia
De cujo ritmo por fim saia
Todo o sentido deste dia.

Que bom, se isto satisfizesse!
Que certo, se eu pudesse crer
Que esse mar e essas ondas e esse
Céu têm vida e têm ser.

Fernando Pessoa

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quarta-feira, julho 23, 2008

A teia cigana

Confesso: sou alérgico ao atavismo e ao auto-isolamento característicos da generalidade das comunidades de etnia cigana, reiterado novamente pelo recente episódio no bairro social da Quinta da Fonte, em Loures. Como convicto interculturalista que sou, lamento que uma etnia, grupo social ou comunidade preserve incondicionalmente as suas raízes, práticas e costumes culturais, mesmo que obsoletos, anacrónicos e implicando um enclausuramento voluntário e unilateral face à sociedade envolvente.
Os ciganos, em geral, demoram a perceber que é possível e desejável possuir abertura de espírito para assimilar modelos de comportamento mais amplos e abrangentes, sem com isso descurar os traços essenciais da identidade normativa e axiológica da sua comunidade de origem. É incompreensível persistirem em hábitos de vida retrógrados, qual teia, como sejam a formação de autênticos clãs, o patriarcalismo sexista, a inflexibilidade nos papéis sociais atribuídos, a imposição da iliteracia, endogamia e maternidade precoce às suas jovens raparigas, ou a herança de um imobilismo profissional e socialmente estático, alheado de imperativos de formação escolar e académica... Tanto mais quando, ao que julgo perceber, o sedentarismo tem vindo a substituir o anterior nomadismo típico dos modelos de vida da diáspora original.
Afinal, não é só à sociedade que acolhe que cabe fazer um esforço de integração, mas também e incontornavelmente aos grupos acolhidos - e de esforço se trata, pois a tolerância activa para aceitar e integrar as diferenças exige uma vontade efectiva e uma disponibilidade sincera e cosmopolita, que, por imperativos de padrão cultural, não é espontânea. Se os ciganos não querem ser discriminados nas «quintas das fontes» em que coabitam, dêem-se ao trabalho de não discriminar os maioritários outros com quem têm, seguramente, o direito de (con)viver e coexistir!
Ah! E antes de abandonarem a Quinta da Fonte e exigirem mordomias imobiliárias ao autarca de Loures, paguem as módicas rendas em dívida, de 4€ mensais! Haja paciência...

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sexta-feira, julho 18, 2008

Qunu (África do Sul), 18.07.1918

A dignidade de um homem e o seu valor como pessoa aferem-se pela acção e pelas práticas concretas que em biografia se inscrevem no contexto do tempo que lhe coube viver. Nelson Mandela é um dos grandes homens que a História testemunha e é uma felicidade ser contemporâneo de alguém assim. Hoje faz 90 anos de idade: Parabéns!
«our deepest fear is not that we are inadequate.
our deepest fear is that we are powerful beyond measure.
it is our light, not our darkeness, that frightens us.
we ask ourselves: who am i to be brilliant, gorgeous, talented and fabulous?
actually, who are you not to be?
there is nothing enlightened about shrinking so that other people won't feel insecure around you.
your playing small does not serve the world.
and when we let our own light shine, we unconsciously give other people permission to do the same.»

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terça-feira, julho 15, 2008

Humores # 22

1. José Sócrates, numa das suas múltiplas visitas a escolas consideradas «modelo», onde foi distribuir uns computadores, resolveu formular um problema aos alunos, mas desta vez parece que sem ter havido casting prévio...
- Meninos, tenho um problema para vocês resolverem. Quem acertar na solução ganha um computador que eu próprio ofereço! Então, é assim: um avião saiu de Amesterdão com uma velocidade de 800 km/h; a pressão era de 1.004,5 milibares; a humidade relativa era de 66% e a temperatura 20,4 ºC. A tripulação era composta por 5 pessoas e a capacidade era de 45 lugares para passageiros; a casa de banho estava ocupada e havia 5 hospedeiras, mas uma estava de folga. A pergunta é: quantos anos tenho eu?
Os alunos ficaram assombrados e o silêncio era total. A professora ficou estupefacta. É então que o Joãozinho, lá no fundo da sala e sem levantar a mão, diz de pronto:
- Você tem 46 anos, senhor inginheiro!
José Sócrates, surpreendido, fita-o e diz:
- Caramba, acertaste em cheio! Vou dar-te o computador, pois eu tenho mesmo 46 anos. Mas como chegaste a esse número, rapaz?
E Joãozinho replica, com convicta serenidade:
- Bem, foi muito fácil! Foi uma dedução lógica, porque eu tenho um primo que é meio parvo e tem 23 anos...

2. O marido, ao chegar a casa, diz à mulher:
- Querida, hoje vou amar-te!
Responde a mulher:
- Quero lá saber... Até podes ir a Júpiter, desde que me deixes dormir!

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Legendar o silêncio icónico (86)

Um iniciado na prática do naturismo?
(Ou talvez algures na costa africana!?)

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sábado, julho 12, 2008

José Patinhas Sócrates

O primeiro-ministro vai taxar em 25% os lucros especulativos que há vários meses as empresas petrolíferas vêm obscenamente acumulando por efeito das mais-valias associadas ao efeito de stock, estimando com isso que os cofres do Estado arrecadem 100 milhões de euros que serão destinados ao financiamento de políticas sociais que apoiem os mais pobres. Num comentário sobre esta medida, apresentada com o invariável aparato coreográfico e cénico - desta vez perante os directos televisivos no parlamentar debate do «estado da nação» -, bem poderíamos dizer que Sócrates é um altruista de última hora e que, finalmente, despertou para a vergonhosa situação de injustiça social que o seu governo aprofundou. Mas é puro engano!
O «engenheiro» debita mentiras sucessivas com um ar sério de convicção generosa e de moralista solidário. Alguns exemplos recentes: os carros movidos a electricidade a serem comercializados em breve pelo consórcio Renault-Nissan terão uma redução de 30% em impostos, quando se sabe que - e bem! - tais viaturas estão isentas de imposto; aponta números de cidadãos abrangidos pela sua súbita generosidade, quando se sabe que é mais reduzido o universo dos mesmos (entre pensionistas, estudantes, famílias com baixos recursos, utentes de transportes públicos, etc.) que beneficiarão de tais alívios fiscais; e agora veste o traje de Robin Hood com argumentos de um João Sem Terra.
Com efeito, e feitas as contas sem a hesitação guterrista, Sócrates reconhece oficialmente que a especulação em torno do ouro negro rende às petrolíferas cerca de 400 milhões de euros e apenas vai cobrar 25%. Isso não é, segura e honestamente, forma de moralizar a situação, antes alinhando no embuste, pois as empresas em apreço ficarão com 75% da especulação, ganhos cujo mérito é nulo, o que faz com que a imoralidade compense! Outros países optaram por uma tributação dessas mais-valias entre 40 a 60%, num pertinente paralelo com a tributação das mais-valias associadas à mudança do uso do solo. No mínimo, o pouco robinesco Sócrates podia e devia aplicar uma taxa respectiva de 50%.
Talvez por isso, no debate parlamentar de anteontem, tenha disfarçado ter sido desmascarado por Francisco Louçã com uma encenação de virgem ofendida pela contundente intervenção do bloquista - Sócrates despreza a verdade e odeia que chamem os bois pelos nomes. Não, quem está mais perto dos Tios Patinhas não pode ser candidato a Robin dos Bosques!

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quinta-feira, julho 10, 2008

Primum vivere deinde philosophare - 87


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terça-feira, julho 08, 2008

Apito atrapalhado

Comédia ou thriller, o certo é que, depois das versões «dourado» e «final», temos agora o «apito atrapalhado», designação que bem podia nomear a indecorosa trapalhada criada pelo presidente do Conselho de Justiça da FPF, Gonçalves Pereira (como pode alguém ser juiz com comportamentos assim!?), que encerrou uma importante reunião decisória antes de esgotada a ordem de trabalhos e porque o quórum lhe era desfavorável. Além disso, declarou o impedimento de um dos cinco vogais do CJ, quando ele próprio é suspeito de parcialidade em favor de um dos recorrentes e, logo, mais incompatível do que Gonçalves Pereira é difícil vislumbrar...
No meio do tiroteio provocado por tantas jogadas de bastidores aparece Gilberto Madaíl que, pasme-se, se mostrou surpreendido com o imbróglio gerado, exímio que é em deixar-se ultrapassar pelos acontecimentos e prestando-se ao negligente e patético papel de assobiar para o lado, como se nada tivesse a ver com a contenda. Enquanto uns ganham, outros limitam-se a «empatar»!

Pela enésima vez, a promiscuidade de interesses nos órgãos jurisdicionais e disciplinares desportivos, mormente no futebol, revela-se uma aberração que persiste graças à voluntária cumplicidade e favorecendo os mais fortes: num passado recente, Leça FC e Gil Vicente FC foram inapelavelmente despromovidos de divisão na secretaria por ilícitos que também são praticados pelos clubes de maiores dimensões - por aqui se vê que a lei é a mesma para todos, desde que os poderosos não deixem de ser beneficiados. A separação de poderes parece ser um princípio ainda desconhecido das leis desportivas, o que atesta a menoridade da justiça desportiva em relação à justiça civil dos tribunais públicos (que, de si, é já sofrível). Aliás, um clube recorrer para os tribunais administrativos significa despromoção automática, pelo menos para a arraia miúda como o clube de Barcelos. Para quando a seriedade de instituir um Tribunal Desportivo?
Em Portugal, já não interessa o crime do criminoso mas antes o processo de apuramento da culpa e autoria do crime: deixou de estar em causa a corrupção de árbitros por dirigentes, passando a pretextar-se a ilegalidade das justas sentenças dadas em função de escutas telefónicas; já não interessa que o CJ seja favorável à decisão da CD da Liga, mas sim apurar o teor de actas e a legalidade de reuniões menos ortodoxas... É como se o importante fosse o papel em que se escrevem as leis e não a própria lei.
Com tanta «fruta» a nutrir o futebol em Portugal, não admira que tantos maus exemplos «frutifiquem»!

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segunda-feira, julho 07, 2008

Legendar o silêncio icónico (85)

A câmara de horrores da educação em Portugal!
(E, nesta bizarra caderneta, ainda há cromos em falta...)

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sábado, julho 05, 2008

Fingir um debate

Não será preciso fazer um grande esforço de atenção para se perceber que, na pretérita 4ª feira, a RTP concedeu ao presumível engenheiro que é primeiro-ministro uma hora de tempo de antena disfarçada de entrevista política. Mais uma vez, os títeres de serviço foram José Alberto Carvalho e Judite de Sousa, serventes da vaidade pública de um governante exímio em propaganda e, mais do que jornalistas, concluo que aqueles se limitaram a ser actores numa encenação de qualidade duvidosa.
Para ilustrar o que digo, e como exemplo do insatisfatório exercício de interpelação feito a José Sócrates, atente-se no momento em que a esposa do presidente da Câmara de Sintra pergunta ao chefe do executivo se acha que a descida de 1% no IVA irá ter um "impacto positivo junto dos consumidores". Ora, que responde o inquilino de São Bento? Começa por recorrer ao tique imperativo do costume - "ouça..." - e acrescenta triunfante que "... negativo é que não tem"! Ou seja, na useira retórica tosca de quem, à falta de razões válidas, argumenta com o claro propósito de iludir e esconder a verdade (de que 1% de descida do valor do IVA não tem um impacto perceptível), o que Sócrates pretendeu foi fazer passar a ideia falaciosa de que, se algo não tem um impacto negativo, então tem um impacto positivo, o que nem sempre corresponde à verdade, como é o caso em apreço da descida do IVA de 21% para 20%.
Perante esta habilidosa estratégia manipulatória de opiniões mais desatentas, nem Carvalho nem Judite retorquiram, o que claramente parece indiciar que o objectivo do tempo de ant..., perdão, da entrevista era consumar a glorificação do entrevistado e não propriamente contribuir para o esclarecimento frontal, sério e rigoroso dos assuntos abordados. Sem dúvida, os «jornalistas» servem muitas vezes de bizarros espelhos de ampliação do ufano narcisismo de gatos que querem dar a aparência de leões - permanece, no entanto, a comum atitude felina que não oculta a popular interjeição: «aqui há gato!»

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quarta-feira, julho 02, 2008

Em ninho de cucos / 21

Como se comprova pela notícia, Cavaco Silva foi ao Vaticano reunir com o representante de Deus na Terra. Entre os pontos da ordem de trabalhos constou a regulamentação da Concordata, que isto de amizades é muito bonito mas só se houver alguma compensação que valha a pena, mesmo que os benefícios não sejam tão proveitosos como a Concordata de 1929 com Mussolini - não se entra no céu por dá cá aquela palha nem se fazem discriminações entre ditadores e democratas...
Mas os dois chefes de Estado conferenciaram igualmente sobre o estado do mundo e, nessa conformidade, decerto abordaram a pedofilia do clero católico, as finanças da Santa Sé, a saudade sentida pelo Estado Novo, pelo «dia da raça», por Salazar e o cardeal Cerejeira, pela Inquisição em Portugal e a matança de judeus, hereges, bruxas e homossexuais; isso para não aumentar a latitude dos vaticanos feitos e rememorar a Contra-Reforma, a chacina dos cátaros no Languedoc pelo papa Inocêncio III, o genocídio de culturas na América, em África ou na Ásia, a «Taxa Camarae» com que o papa Leão X ficou para a posteridade como um dos maiores sovinas e ladrões da história, as rentabilíssimas bulas (Cavaco ofereceu mesmo ao papa um exemplar encaixilhado da bula concedida a Afonso Henriques pelo papa Alexandre III) que encheram os sagrados cofres papais, entre tantos outros feitos que abrilhantam e dignificam o esplendor da santa madre igreja católica romana.
Será que Bento XVI mostrou ao nosso presidente as salas e os quartos onde durante séculos se fizeram banquetes e orgias e onde incontáveis papas - como, e só para citar alguns por ordem cronológica, Sotero, Cornélio, João VIII, Adriano III, Romano, Bento IV, Sérgio III, João X, João XI, João XII, Leão VIII, Clemente VI, Alexandre VI, etc. - «paparam» adolescentes, adúlteras e meretrizes? Ou as caves onde se realizaram autos-de-fé e se sentenciaram com a morte milhares de inocentes?
Enquanto se fizerem estas visitas oficiais aos presumíveis e presumidos sucessores de Pedro, há mesmo muitas razões para se falar sobre o estado do mundo!

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Primum vivere deinde philosophare - 86

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terça-feira, julho 01, 2008

A inenarrável directora da DREN

Margarida Moreira é a conhecida directora da DREN, celebrizada pela sua medonha atitude pidesca ao perseguir um seu subordinado pelas tristes razões conhecidas como «caso Charrua». Daí para cá, nem a sua mudança de visual ocultou a mesma figura sinistra ao serviço da destruição do ensino português sob a batuta do governo. Mas o cartão de militante do PS e a fidelidade canina aos mestres Sócrates e Lurdes têm seguramente alguma coisa a ver com o lugar que ocupa na DREN... As ideias da distinta directora que sucessivamente têm vindo a lume são puras pérolas de ignorância pedagógica, moldadas com a delicadeza da mais pura incompetência.
Desta vez, o país soube que a soberba de Margarida Moreira chegou ao ponto de dar instruções para que, na convocação dos professores correctores dos recentes exames, fossem escolhidos professores que alinhem no facilitismo oficial; asseverou a senhora que:
"talvez fosse útil excluir de correctores aqueles professores que têm repetidamente classificações muito distantes da média". Como se vê, para esta ilustre aspirante a pedagoga, os objectivos e a qualidade do sistema educativo resumem-se a estatísticas e, vai daí, a prioridade é eliminar os factores que impedem o conveniente artifício dos números, argumentando, entre outros disparates, que
"os alunos têm direito a ter sucesso" - mas, o que diz Margarida Moreira do correspondente e anterior dever que o aluno tem de estudar?
Ou seja, melhorar a qualidade do ensino consegue-se com os professores que se escolhem para corrigir os exames e tudo o resto, inclusivé a capacidade cognitiva dos alunos e a seriedade das aprendizagens, é irrelevante e mero capricho de anacrónicos docentes rigorosos e exigentes e empecilhos das «novas oportunidades».
Com tanto mal que está a fazer ao país, o PS devia ser ilegalizado, a bem da democracia!

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