quinta-feira, maio 29, 2008

Primum vivere deinde philosophare - 84

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terça-feira, maio 27, 2008

Farinha do mesmo saco

Apesar de, graças à sua incontida vaidade e ambição, ter aniquilado o seu capital de credibilidade política (que, para mim, nunca teve) nas últimas eleições presidenciais, Mário Soares continua a assinar artigos de opinião na imprensa e a participar em conferências a propósito de temas sobre os quais devia estar calado ou, então, fazer um mea culpa. Dando uma no cravo e outra na ferradura, o «ilustre» ex-presidente (com vocação de monarca) tanto tece diatribes contra a política neoliberal e remete para "causas externas" a situação actual de crise, como a seguir vende José Sócrates como a fina flor do socialismo lusitano no activo, eternizando as núpcias de simpatia entre ambos. Ou seja, ao mesmo tempo que apoia entusiasticamente as políticas do primeiro-ministro, dá-lhe reprovadores puxões de orelhas com argumentos dignos de Louçã ou Jerónimo...
Como cúmplice que é do sistema (pouco) democrático português, Soares não tem legitimidade para dar lições de moral e, no fundo, ao apregoar as virtudes da preocupação pelos problemas sociais, o que parece querer dizer é que os salários têm de ser baixos, mas não tão baixos que faça o PCP e o BE ganharem votos; as desigualdades sociais têm de ser grandes, mas não tão gritantes para que o povo não deixe de sustentar o sistema; os ricos têm de pagar impostos suficientes para manter a aparência de justiça social e equidade; o governo tem de congeminar uns subsídios avulsos para que o «socialismo» do PS não perca o ar de esquerda... Porém, que a dourada reforma de Soares não seja abalada por tão popular desassossego, que, não tarda, no Largo do Rato vai mesmo reflectir-se sobre a pobreza e os seus danos colaterais, ou não estivessemos a caminho de um ano de eleições que vai despertar a compaixão de Sócrates para uma súbita deriva humanista, generosa e altruista.
Soares tinha razão aquando do PREC, ao alertar para os perigos do comunismo, mas o tempo veio demonstrar que os sucessivos inquilinos de Belém e de São Bento são igualmente farinha do mesmo saco; e Sócrates não tem que se preocupar em meter o socialismo na gaveta: Soares já o fez há muito!

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Legendar o silêncio icónico (83)

Eu também gostava de ter um saco assim!
(Mas já nem dinheiro há para pôr lá compras...)

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segunda-feira, maio 26, 2008

Portugal neoliberal

A objectividade dos dados estatísticos desmascara e desmonta a retórica cínica e de circunstância que pauta os discursos neoliberais de PS, PSD e CDS: pela enésima vez, somos informados de que, no contexto dos países da UE, a desigualdade em Portugal é ímpar e aproxima-se mais das escandalosas assimetrias sociais que existem nos EUA do que dos países europeus em que o Estado social ainda vai sendo uma realidade. Com efeito, o modelo de desenvolvimento português teima em basear-se no aprofundamento da desigualdade na distribuição dos rendimentos e no agravamento da carga fiscal, ignorando convenientemente a constatação inequívoca de que o desenvolvimento económico (o famoso PIB) é maior nos países com menos desigualdade na distribuição do rendimento. Quem ensina a esta tralha de políticos que nos (des)governam que é nos países com menor desigualdade salarial antes dos impostos que mais se investe em despesas sociais e em que se registam menores taxas de desemprego?
E é assim que Portugal é já um paraíso para a desmesurada acumulação de capital nas mãos de uma pequena minoria obscenamente privilegiada, à custa da precariedade das condições de subsistência da maioria da população. O que Sócrates e o PS têm feito é dar sequência e livre curso às ideias do PSD e do CDS - daí a crise de identidade e de liderança que aflige estes partidos de direita -, aproveitando-se do Estado para o destruir e desmantelar por dentro em favor de interesses privados.
Que mais provas são precisas para se provar que o capitalismo é uma forma de parasitismo económico e uma violência social? Definitivamente, este país não é para honestos!

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domingo, maio 25, 2008

Legendar o silêncio icónico (82)


Era sem-abrigo e tinha um dos melhores amigos do mundo!
(Os homens têm muito a aprender com os cães...)

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quinta-feira, maio 22, 2008

Humores # 21

1. Estando na sala de sua casa, diz o primeiro-ministro para os filhos e um seu adjunto, enquanto a mulher-a-dias aspirava:
- Vou atirar esta nota de 100€ pela janela e fazer um português feliz.
- Mas, pai, não achas preferível atirar duas de 50€ e fazer dois portugueses felizes? - diz um dos filhos.
- Não faça isso, sr. primeiro-ministro! Atire 20 notas de 5€ e faça 20 portugueses felizes! - diz o adjunto lá no seu canto.
Ouvindo isto tudo, reage a mulher-a-dias:
- Porque é que o senhor engenheiro não se atira da janela e faz dez milhões de portugueses felizes?
2. Quando cheguei à noite a casa, a minha esposa insistiu que a levasse a sair e, ainda por cima, a um sítio bem caro. E eu não me fiz rogado: levei-a a uma bomba de gasolina!
3. A D. Beatriz é organista numa igreja, tem 80 anos, é solteira e muito admirada por todos pela sua simpatia e doçura. Uma tarde, convidou o novo padre da igreja para ir lanchar a sua casa; ele ficou sentado no sofá, enquanto ela foi preparar um chá. Olhando para cima do órgão, o jovem padre reparou numa jarra de vidro com água e, lá dentro, boiava um preservativo. Quando a D. Beatriz voltou com o chá e as torradas, o padre não conteve a sua curiosidade e inquiriu a anciã acerca de tal decoração em cima do órgão. E responde ela apontando para a jarra:
- Ah, refere-se a isto... Maravilhoso, não é? Há uns meses atrás, ia eu a passear pelo parque, quando encontrei este pacotinho no chão. As indicações diziam para colocar no órgão, manter húmido e que, assim, ficava prevenida contra todas as doenças. E sabe uma coisa? Este Inverno ainda não me constipei!

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terça-feira, maio 20, 2008

Os selvagens do capitalismo

A propósito dos obscenos aumentos sucessivos do preço dos combustíveis, o ministro da Economia, Manuel Pinho, finge-se surpreendido e diz estar preocupado com o impacto que tais aumentos terão na perda do poder de compra das famílias e na competitividade das empresas. E isto apesar de Pinho ser um selvagem do capitalismo, co-autor e co-responsável da realidade económica em Portugal, defensor como é das «virtudes» da ditadura do capital - quem não se lembra, entre outros dislates, das suas declarações na China promovendo a mão-de-obra barata lusitana?
Mais uma vez, e por muitas justificações que se dêem, o liberalismo económico se desmente a si próprio: a liberalização dos preços dos combustíveis não trouxe vantagens para os consumidores particulares nem para as pequenas e médias empresas. Além disso, é desonesto que a generalidade dos governos se subordinem aos selvagens do capitalismo e discorram sobre as vantagens da concorrência sem equacionarem as condições de possibilidade de uma efectiva, real e salutar concorrência.
Pode ser que eu esteja a ver mal as coisas e a ser injusto para com os selvagens do capitalismo, que persistem em lograr o lucro rápido e fácil, mas agora talvez com preocupações ambientais!

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Primum vivere deinde philosophare - 83

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sábado, maio 17, 2008

Classificação final da Superliga 07/08


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sexta-feira, maio 16, 2008

Geração «Lurdes Rodrigues»

A ministra da Educação que, para mal dos nossos pecados, nos coube em sorte é digna de figurar num qualquer Guiness Book of Records, tantos são os disparates pedagógicos que debita e tantas as atrocidades que comete contra a dignidade e integridade do ensino público. O mais recente sofisma da sinistra figura é a tese de que as reprovações de alunos são ineficazes e não prosseguem fins formativos - claro que o argumento principal é omitido e consiste na despesa anual que cada aluno representa para o Estado, pois o ensino é sobretudo uma despesa e não um investimento; e, além disso, os conhecimentos deixaram de ter importância, a exigência é um anacronismo e a escola é um espaço principalmente lúdico, onde os pais podem depositar os filhos enquanto trabalham desalmadamente para lhes garantir o sustento.
Neste quadro, aqui fica um depoimento de apoio à ministra, escrito por um aluno que bem pode ser considerado como fazendo parte da geração «Lurdes Rodrigues», herdeira que é da falência imposta ao ensino público:
«Eu axo q os alunos n devem d xumbar qd n vam á escola. Pq o aluno tb tem direitos e se n vai á escola latrá os seus motivos pq isto tb é perciso ver q á razões qd um aluno não vai á escola. primeiros a peçoa n se sente motivada pq axa q a escola e a iducação estam uma beca sobre alurizadas.Valáver, o q é q intereça a um bacano se o quelima de trásosmontes é munto montanhoso? ou se a ecuação é exdruxula ou alcalina? ou cuantas estrofes tem um cuadrado? ou se um angulo é paleolitico ou espongiforme? Hã? E ópois os setores ainda xutam preguntas parvas tipo cuantos cantos tem 'os lesiades', q é um livro xato e q n foi escrevido c/ palavras normais mas q no aspequeto é como outro qq e só pode ter 4 cantos comós outros, daaaah. Ás veses o pipol ainda tenta tar cos abanos em on, mas os bitaites dos profes até dam gomitos e a malta re-sentesse, outro dia um arrotou q os jovens n tem abitos de leitura e q a malta n sabemos ler nem escrever e a sorte do gimbras foi q ele h-xoce bué da rapido e só o 'garra de lin-chao' é q conceguiu assertar lhe com um sapato. Atão agora aviamos de ler tudo qt é livro desde o Camóes até á idade média e por aí fora, qués ver??? O pipol tem é q aprender cenas q intressam como na minha escola q á um curço de otelaria e a malta aprendemos a faser lã pereias e ovos mois e piças de xicolate q são assim tipo as pecialidades da rejião e ópois pudemos ganhar um gravetame do camandro. Ah poizé. tarei a inzajerar?»

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quinta-feira, maio 15, 2008

Serviço cívico

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Sócrates é discípulo de frei Tomás

Após as polémicas sobre o modo suspeito e pouco transparente como se licenciou em «inginharia» civil numa Universidade menor e defunta (curso esse que nem sequer era reconhecido pela Ordem dos Engenheiros) e como assinou projectos de construção no concelho da Guarda (de edifícios que são verdadeiros atentados urbanísticos e estéticos), José Sócrates foi novamente apanhado em falso ao ter fumado no avião que o levou, e à sua comitiva, à visita oficial à Venezuela. Desta vez, o «inginheiro» violou uma lei que o seu próprio governo pariu e ainda tem a desfaçatez de se desculpar em público com o argumento de que desconhecia o teor da lei - como diz o povo, mais facilmente se apanha um mentiroso que um coxo!
Qual discípulo de frei Tomás - seguidor do pregão «olha para o que ele diz e não faças o que ele faz» -, e procurando redimir-se num acto de contricção público encenado frente aos microfones e câmaras do costume, prometeu cinicamente que vai deixar de fumar. Caro «inginheiro»: por mim, que sou cidadão deste país com uma licenciatura acima de toda a suspeita, com os impostos em dia e eleitor assíduo, pouco me importa que deixe de fumar, que bata com a cabeça na parede ou vá fazer safaris para o Quénia - o que eu lhe exijo é que pague os 750€ de multa previstos na lei que o seu incompetente governo aprovou. Isso é que o primeiro-ministro devia ter prometido em público.
Porém, já sei o que a casa gasta e que as promessas de Sócrates valem o que valem. Por conseguinte, não admira que ele volte a ser visto a fumar. Com tanto atropelo à lei, honroso seria que o primeiro-ministro prometesse que vai deixar de... governar!

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segunda-feira, maio 12, 2008

Em ninho de cucos / 20

Ontem, em plena missa de Pentecostes, Bento XVI tropeçou e caiu de costas, num exercício de destreza física quase tão exigente como o de Fidel Castro há uns anos - acontece aos piores! Porém, ao contrário das más línguas, considero que os «sumo pontífices», uns após outros, são inequivocamente bafejados com a asa da protecção divina e o amparo do Espírito Santo: afinal, com toda aquela indumentária efeminada, o que surpreende e admira é que não tombem mais vezes...
Versão não oficial da notícia ventilou que, instantes antes do inesperado mergulho, ter-se-á ouvido uma voz a comentar na Basílica de São Pedro que "o pecado é a queda do homem", o que reforça a ideia de que os desígnios do altíssimo são deveras insondáveis, mas não se fazem esperar. Contudo, esta versão dos factos foi prontamente desmentida por uma outra, oriunda de fontes próximas da sagrada adega do Vaticano: antes de se iniciar a missa, jovens acólitos terão reparado que o vinho destinado ao serviço eucarístico havia sumido e outros viram Sua Santidade a soluçar, provavelmente contristado por tão estranha evaporação...
Mais tarde, Bento XVI teve de enfrentar novo imprevisto, a saber, a falha do microfone com que falava aos fiéis. Decididamente, Deus é um brincalhão e a Igreja italiana continua na busca do equilíbrio!

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quinta-feira, maio 08, 2008

A música inconveniente de Geldof

A hipocrisia tem crónica alergia à verdade e, por conseguinte, é vê-los a demarcarem-se das corajosas palavras de Bob Geldof: "Angola é gerida por criminosos" e "as casas mais ricas do mundo estão a ser edificadas na baía de Luanda e são mais caras do que em Chelsea e Park Lane". Foi deste mundo contundente que o músico britânico denunciou publicamente o que todos os governantes e diplomatas sabem mas que cobarde e convenientemente calam, tornando-se cúmplices de um regime corrupto e cruel escudado na aparência da democracia, como lobo em pele de cordeiro.
Mas o que é estranho é terem o BES e o Expresso convidado Geldof para preleccionar na conferência sobre desenvolvimento sustentado que conjuntamente organizaram, uma vez que se trata de um cidadão livre pensador e activista de causas cívicas, que não está comprometido com a iniquidade dos poderosos. Numa próxima conferência que organizem, não surpreenderá que o BES e o Expresso convoquem Bush para falar das virtudes da paz, já que não podem convidar Maomé para tecer considerações sobre as qualidades do toucinho!

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quarta-feira, maio 07, 2008

Só eles sabem porque não ficam em casa

Notícias assim são a prova da pertinência e lucidez do aforismo de Emil Cioran: Deus é um desespero que começa onde todos os outros acabam. Se estamos em evolução, parece todavia que os crédulos não - aliás, como podia ser de outro modo se o próprio Deus não evolui?
As igrejas, os credos, as confissões e as religiões são o maior «negócio da China» alguma vez congeminado pelo vampirismo teológico, pois vendem-se soteriológicas promessas de redenção sem amostra concreta do produto vendido, garante-se divina protecção, embora faça parte do sacrifício e da contingência de existir o ser atropelado, morto, violado, espancado, roubado, ter dor de dentes, apanhar uma intoxicação alimentar... Assim é fácil e a exploração da pobreza espiritual fica a custo zero!
Poder-se-á objectar: é estúpido fazer uma relação de causa-efeito entre um atropelamento e o acto de peregrinar a Fátima, como se a Fátima só os imortais peregrinassem. Muito certo, mas é aí que está o cerne da questão, pois a imortalidade aniquilaria o fenómeno religioso como a fé e os peregrinos (deste e de todos os credos) são, afinal, tão atropeláveis como os não crentes e apesar de estes não apelarem à divina providência e protecção. Em terra de cegos...
Já agora, o condutor ficou bem?

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segunda-feira, maio 05, 2008

Primum vivere deinde philosophare - 82

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sexta-feira, maio 02, 2008

Triste fado

Como se comprova na última edição da revista Sábado, a este espécime de sangue azul não se pode criticar a falta de frontalidade. Afinal, já Amália, ao cantar as letras de Aníbal Nazaré e Fernando Carvalho, dizia que:
"(...)
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado"

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As boas causas são pouco católicas

Apesar de ter petróleo e recursos hídricos, mais de seis décadas de governação do Partido Colorado valeram ao Paraguai o ser um parente pobre do Mercosul e estar internamente dominado pelo nepotismo e por flagrantes e inaceitáveis assimetrias sociais. As eleições presidenciais do passado dia 20 de Abril, neste país de cerca de sete milhões de habitantes, valeram a eleição de Fernando Lugo, um bispo católico que foi suspenso a divinis (estas sofisticadas brincadeiras conceptuais da igreja romana são, de facto, divinais!) por ter teimosamente entrado na vida política activa a favor de causas nobres como o combate à pobreza e à exclusão social e por ter renunciado e abandonado a vida religiosa antes da autorização do Papa.
Portanto, o Paraguai tem um bispo católico rebelde como presidente recém-eleito e é mais um enésimo episódio que vem demonstrar como a intervenção ou activismo socialmente meritório, útil e consequente, é incompatível com o sagrado ofício de dar hóstias, dirigir ladaínhas e demais rituais esclerosados e estupidamente inócuos por parte de uma instituição que é vergonhosamente cúmplice da opressão sobre os mais ignorantes, desprotegidos e economicamente vulneráveis. É aliás longa a lista de clérigos proscritos pela multinacional da banha da cobra sediada no Vaticano, designadamente os da América Latina, continente da Teologia da Libertação...
Para se ser um justo e activo militante político, lutando contra ignóbeis injustiças e desigualdades, está visto que não se pode pertencer ao clero católico - se calhar, foi isso que, por exemplo, o bispo de Díli não aprendeu. É que, tal tarefa, suja e macula a asséptica limpeza das batinas e sotainas. Afinal, as boas causas são pouco católicas, pois não se pode ter os pés bem assentes na terra com a cabeça no céu!

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