quinta-feira, julho 27, 2006

As falhas no sítio errado

O rifte de Afar, na Etiópia, perto do Mar Vermelho, vive um período de grande actividade sísmica, que provocou a abertura de uma falha em terra, estendendo-se ao longo de 60 quilómetros e com cerca de 8 metros de fundo. Este fenómeno natural está a ser monitorizado por cientistas, que estimam que um mar pode nascer ali dentro de um milhão de anos. Por agora, a abertura progressiva da falha está a acentuar a separação das placas tectónicas da península arábica e de África, o que pode resultar no isolamento dos territórios que hoje são a Etiópia e a Eritreia; ou seja, uma parte significativa de África está a separar-se do continente africano.
Como na política, o dinamismo geomorfológico da Terra tem ciclos de abertura e fecho dos oceanos e mares. Só é pena que um rifte como o de Afar não atravesse a Avenida 5 de Outubro, em Lisboa, e esteja sob o gabinete de uma patética ministra, cuja arrogante ignorância e reiterada incompetência a leva a produzir Decretos ilegais de contratualização de professores e a autorizar ilegitimamente a repetição de exames como medida política paliativa para ocultar a irresponsabilidade que cabe por inteiro ao seu ministério, mudando com isso as regras do jogo no decurso do mesmo... A recente presença no Parlamento desta sinistra criatura demonstrou quão trágica é a condução dos destinos da Educação nesta ditosa e desleixada pátria.

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Arbeit Macht Frei

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terça-feira, julho 25, 2006

Tooneladas de siso - 2º quilo

A importância de ter um bom colchão ortopédico!

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Legendar o silêncio icónico (13)

Na praia, nem sempre o problema é a maré!
(O problema dos resíduos sólidos.)

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segunda-feira, julho 24, 2006

«Políticos, Caciques e Outros Anátemas» - 11º Acto

Um relatório preliminar da Inspecção-Geral de Obras Públicas sustentou a necessidade de se aprofundarem investigações judiciárias a quatro casos relativos a actos de gestão e a negócios da administração dos CTT presidida por Carlos Horta e Costa. Não esquecendo o princípio da presunção de inocência, tais casos são, contudo, escandalosamente suspeitos:
i) a administração da empresa aprovou a venda de um imóvel em Coimbra, por um preço abaixo (em mais de um milhão de euros!) de uma primeira avaliação e a um comprador (TCN) que informou que seria substituído no negócio por outra empresa (Demagre), como efectivamente aconteceu e sem novas deliberações da equipa de Horta e Costa. A escritura foi feita na manhã de um dia de Março de 2003, tendo a empresa compradora vendido esse imóvel à ESAF (ligada ao BES) na tarde do mesmo dia e por mais 5,186 milhões de euros; ou seja, o prédio de Coimbra valorizou 35% em poucas horas!
ii) outro imóvel, agora em Lisboa, foi vendido à Demagre (que mais uma vez se substituiu à TCN como compradora), que pagou com um cheque sem provisão, o qual foi, portanto, devolvido, não se consumando o negócio por falta de pagamento. Horta e Costa não só não optou pela "perseguição penal" contra a Demagre, como continuou estranhamente a negociar com a mesma e até a protegê-la.
iii) contra um estudo interno de responsáveis dos CTT para contratualização de aluguer, manutenção e gestão da frota dos Correios, Horta e Costa e um outro administrador da sua equipa, Manuel Baptista, adjudicaram o contrato a uma proposta mais cara e menos credível feita a uma empresa cujos dois únicos sócios são os dois consultores que intervieram no processo; Manuel Baptista sustentou a adjudicação com base na experiência da empresa adjudicada, a Autoaliança, nesse sector de negócios. Ora, a Autoaliança foi constituída apenas dois dias antes de ser referida por Manuel Baptista como putativa parceira dos CTT!
iv) a lista de trabalhos efectuados durante três anos por uma empresa de consultoria de recursos humanos não está de acordo com as facturas constantes da contabilidade dos CTT, havendo indícios de que serviços não prestados à empresa pública foram facturados pela empresa de consultoria.
É este o exemplo de sucesso e paradigma de produtividade que os defensores do liberalismo e da redução do peso da intervenção do Estado na economia propagam nas suas prelecções públicas. O que se passa no sector privado deve ser inenarrável e só deverá ter paralelo com a lei da selva. Mas enfim, vícios privados, públicas virtudes...
Como estamos em Portugal, este será mais um caso para a colecção de casos em que a culpa morre invariavelmente solteira e a impunidade protege os do costume. Viva a selecção!

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Legendar o silêncio icónico (12)

O sorriso tranquilo de quem tem mão na situação...
(A moda na era digital!)

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quinta-feira, julho 20, 2006

Os filantropicamente misantropos

Há um admirável, mas historicamente recorrente, desígnio filantrópico a brotar de milionárias consciências, cuja confluência de vontades tem sido divulgada, ou melhor, publicitada a um ponto tal, que desconfio radicar mais numa instrumentalização da pobreza para benefício particular e prestígio pessoal e empresarial, do que num efectivamente descomprometido e intencionalmente desinteressado gesto de genuína solidariedade.
Depois de Bill Gates (especula-se já que, a partir de 2008, dedicar-se-á exclusivamente à Fundação fatuamente baptizada, modéstia à parte, com o seu nome e o da esposa) e de Warren Buffet (que doou milhões de euros à Fundação do patrão da Microsoft), Portugal também tem os seus abastados cidadãos com veia filantrópica: onze empresários lusos, membros do escol pátrio das lucrativas actividades, conceberam e apresentaram um projecto que pretende salvar o país do flagelo social que é o insucesso escolar. Talvez o Presidente da República tenha servido de inspiração, aquando do "roteiro da inclusão social" com que debutou a sua demanda presidencial fora de Belém.
Assumir uma perspectiva crítica face ao comportamento caritativo convocado nesta reflexão, pode parecer censurável e ser considerado um juízo revelador de insensibilidade social ou indiferença antropológica; pode até servir para invocar o argumento hipócrita de que não é só a esquerda ideológica que tem preocupações com as áreas sociais, pois também nestas a direita moderna e liberal (e o sector privado, capitalista, de que faz a apropriada apologia) elabora um quadro de actuação e de práticas de gestão, que são até mais eficazes e eficientes. Ora, é neste ponto que reside o busílis da questão, que exige que se desmonte e desvele na sua ignominiosa face o que na verdade move o voluntarismo filantrópico da endinheirada gente.
Assim, e servindo-me da inquirição de Almeida Garrett, para fazer um rico, quantos pobres são necessários? Isto porque as fortunas das escassas elites milionárias implicam o custo desumano medido em multidões de explorados, esfomeados, subnutridos e escravizados, hoje como no passado e incluíndo formas de produção indignas e degradantes, como o trabalho infantil e o turismo sexual, entre outras. Há, portanto, uma reciprocidade em ciclo vicioso: para se acumular riqueza nas mãos de uns poucos é impossível não explorar, pelo que se legitima e até justifica essa exploração através da caridade e solidariedade que encobrem os reais interesses por detrás da conveniente filantropia - não é filantropo quem quer, mas quem pode! Eis assim o verso e o reverso da atitude parasitária misantrópica: para o capitalismo dominante, exploração e filantropia são recursos instrumentais do mesmo objectivo de tácita e autorizada concentração de riqueza.
Finalmente, a ideia de que o sector privado é incomparavelmente mais produtivo e eficaz que o sector público, até pode ser verdade: é que edificar fortunas implica minar a actividade económica e financeira com as inexoravelmente insuperáveis e crónicas doenças do capitalismo, como a corrupção, o nepotismo, as falcatruas, as oportunas e proficientes falências, as deslocalizações, etc.. Filhas deste mesmo capitalismo, alguém quer contar a história de Pedro Caldeira, ou do destino de gigantes como a Enron ou a Afinsa?
Bem haja aos magnatas filantropos de todo o Mundo e arredores!

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quarta-feira, julho 19, 2006

Balanço e contas de 2005 da papal multinacional

O Estado do Vaticano, considerado o Estado mais rico do mundo (graças a Deus!), encerrou as contas de 2005 com um balanço positivo de uns simples 9,7 milhões de euros, o melhor resultado dos últimos oito anos. É caso para dizer que nem só de terços e ladaínhas vivem os homens de sotaina e estola... E o apuro anual não foi ainda superior porque, imagine-se, a morte de João Paulo II e a eleição de Bento XVI custaram cerca de sete milhões de euros às finanças da $anta $é - uma pobreza franciscana! - e o sector dos meios de comunicação registou um saldo negativo de 11,8 milhões de euros (divulgar as moradias celestes e promover os votos a Iavé e aos santos para se obter uma graça têm sido apostas evidentes na estratégia comercial, perdão, espiritual, da católica ou universal Igreja). Aliás, a Rádio Vaticana bateu o recorde de custos com um défice de 23,5 milhões de euros.
Confesso que, em rigor, não consigo perceber a real dimensão pecuniária de tantos zeros, mas tratando-se de assuntos de Deus justifica-se a proporcional e correlativa grandeza dos números.
Por cá, e falando de apenas uma das sucursais portuguesas desta empresa com filial sede em Roma, o $antuário de Fátima, ali para os lados de Ourém, publicou as contas relativas também ao ano transacto. Neste caso, e salvaguardadas as diferenças com a Basílica de $ão Pedro na produção de missas e afluência de crentes, os números são mais vermelhos: verificaram-se prejuízos no valor de 3,7 milhões de euros. As despesas foram de cerca de 8,5 milhões de euros, agravadas pela ampliação das instalações (de que a construção da imprescindível, utilíssima e necessária Igreja da Trindade é a obra mais visível), no valor de 12,4 milhões de euros. As receitas com doações de peregrinos amortizaram e amenizaram o ingente esforço empresarial: estes deixaram em Fátima 9,3 milhões de euros, para além dos 4,5 milhões de euros que constam da rubrica «outras receitas». Ou seja, ao todo a diocese de Leiria-Fátima encaixou 13,8 milhões de euros declarados.
Aos pobres (de espírito e os outros) deste mundo, incumbe a resignação pelo dizimal sacrifício que alimenta a prosperidade da policial instituição divina, sem a qual Deus não lograria o seu propósito comercial, isto é, de fé... A outra vida, a existência além-tumba, é um investimento que exige e justifica todas as imolações terrenas. Resta aguardar até ao próximo ano, para se saber se as receitas voltam a recrudescer e, quiçá, o seu volume seja tal que potencie inclusivamente uma O.P.A. da Igreja Católica à IURD ou à Igreja Maná!
Rezemos para que isso aconteça, se Deus quiser!

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Primum vivere deinde philosophare - 13

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terça-feira, julho 18, 2006

Primum vivere deinde philosophare - 12

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quinta-feira, julho 13, 2006

Da actual (in)utilidade dos sindicatos

Em recente tertúlia com amigos, à volta de uma mesa que se ia enchendo de copos de imperial e cascas de alcagoitas, em aprazível esplanada resguardada em sombra da inclemência solar de um cálido fim de tarde, participei numa daquelas conversas vadias em que se abordam os mais díspares assuntos numa sequência pouco linear, em que um tema puxa outro, ao ponto de se começar por falar dos incêndios florestais e a morte de bombeiros, e se acaba numa discussão acerca das virtudes do ar condicionado nos automóveis e os seus efeitos nas vias respiratórias. Pelo meio, ainda se falou no futuro da selecção, no preço dos imóveis no Porto e arredores, da discreta demissão/substituição de Freitas nos Negócios Estrangeiros, da camada de ozono e da utilidade dos sindicatos portugueses. Não, nem Marcelo Rebelo de Sousa nem Miguel Sousa Tavares estiveram presentes!
Enfim, muitos dedos de conversa e outras tantas imperiais para lubrificar a palavra na aridez sedenta da garganta.
Ora, o tema que suscitou maior discussão foi o da utilidade dos sindicatos, tendo eu sido acusado de incoerência por ser tão crítico dos governos e não ser sindicalizado; mais: os sindicatos são também alvo das minhas heréticas diatribes. Assim, haveria inconsistência da minha parte, pois muito me queixo e pouco faço para alterar o curso dos acontecimentos que censuro (nunca deram tanta importância à minha insignificância!). Depois da contra-argumentação, creio lá ter conseguido defender-me e conseguir a absolvição de tão injusta acusação.
Esta circunstância inspirou-me na escrita deste postal. Eis alguns dos argumentos que invoquei: dados da Comissão Europeia indicam que, em 1997, só 25% dos portugueses activos estavam sindicalizados; inversamente, nos países nórdicos, a taxa de trabalhadores sindicalizados oscilava entre 75 e 82% e onde, curiosamente, as greves são raras (e não frequentes e inócuas como por cá) e há facilidade em obter acordos e pactos sociais. Por conseguinte, questiono se o problema laboral, nas suas variadas componentes e dimensões, é dos trabalhadores ou dos sindicatos...
Penso que, em Portugal, uma das razões que concorrem para a fraca adesão sindical é a proximidade suspeita - para não dizer promiscuidade - com os directórios partidários: veja-se o alinhamento da CGTP com as prioridades do PCP, ou o da UGT com as do PS e PSD. Assiste-se até a situações de activismo e de intervenção sindical extemporâneas, em áreas que, concorde-se ou não, transcendem o mero âmbito laboral (como o aborto, a regionalização ou a guerra no Iraque). Portanto, os sindicatos portugueses não são independentes dos partidos e chegam mesmo a ser cavalos de Tróia destes, instrumentalizados que são em detrimento muitas vezes dos próprios trabalhadores.
Outra razão que contribui para o divórcio crescente com o movimento sindical, radica na incapacidade de estas organizações de (presumível e suposta) defesa do mundo do trabalho não terem sabido congregar em torno de si processos reivindicativos adaptados às contingências inéditas do actual modelo laboral, fortemente caracterizado pelo incremento da desregulação entre trabalho e capital, não respondendo convenientemente aos propósitos e expectativas da prole assalariada, seja a da função pública ou a do sector privado. Paralelamente, fenómenos sociais novos não têm tido o acompanhamento sindical adequado, como são os casos da precariedade, da flexibilidade e da mobilidade laborais, extensíveis à imigração e à contratualização em serviços nos shoppings.
A julgar pela baixa capacidade de mobilização dos trabalhadores portugueses, os sindicatos vão continuar a perder legitimidade representativa que nem as manifestações de rua, os panfletos ou as palavras de ordem disfarçarão. Oxalá eu esteja enganado, porque, por extensão, são os próprios trabalhadores que vão perder, confrontados com uma espada de Dâmocles que paira entre os seus endividamentos familiares e as suas fontes de subsistência, reféns de uma impotência causada pelo voraz e vicioso sistema económico vigente e também por em Portugal não haver governantes, dirigentes sindicais, administrações nem patrões com a consciência... nórdica!

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quarta-feira, julho 12, 2006

Tooneladas de siso - 1º quilo

A enorme utilidade do retrovisor direito!

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Um cartão amarelo para Madaíl

Há coisas que, por maior compreensão e tolerância que possamos ter, exorbitam o âmbito do tolerável e do compreensível e convertem a ousadia em sinónimo de insolência. Discordo em absoluto do comportamento de Gilberto Madaíl, que, na sua qualidade de Presidente da Federação Portuguesa de Futebol (consta que nesse cargo ganha cerca de 25.000 euros mensais), pediu ao governo que isente os jogadores da selecção nacional, presentes no Mundial da Alemanha, do pagamento de IRS relativo ao prémio de "apenas" 50.000 euros que lhes foi atribuído por terem chegado às meias-finais.
Considero reprovável um tal pedido, num país em que a pressão fiscal sobre os cidadãos é das maiores do mundo e em que o salário mínimo ronda uns míseros 400 euros. Isentar de IRS os jogadores da selecção, mormente numa conjuntura desfavorável como a que há muito vivemos, contrariaria princípios elementares de justiça fiscal e de equidade no tratamento dos cidadãos por parte do Estado, o que descredibilizaria ainda mais o poder político. Além disso, conceder em tal pedido significaria "tirar trocos a quem ganha milhões", para usar a expressão do insuspeito teórico neoliberal Medina Carreira.
Sei que a profissão de futebolista é de desgaste rápido, porém de tesouraria proporcional, designadamente ao nível da alta competição (então, que dizer dos mineiros, ou dos operadores de máquinas?); e ao beneficiarem de 50.000 euros só de prémio, tais jogadores ganharam mais num mês do que milhões de portugueses em cinco ou seis anos. E como premiar aqueles que, anonimamente, promovem o país com a sua simpatia, prestabilidade, competência e zelo profissional?
Este pedido cheira a formas subreptícias de subliminar nepotismo, sobretudo reportando-se aos jogadores da selecção: é que eu pensava que eles suavam a camisola das quinas por amor à mesma... E se tivessem sido campeões do mundo, é até provável especular que, para os seleccionáveis atletas, Gilberto Madaíl pedisse ao governo 1% do PIB! Prouvera a todos poderem reformar-se aos trinta e poucos anos...

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terça-feira, julho 11, 2006

Primum vivere deinde philosophare - 11

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A versão turca do conto «O velho, o rapaz e o burro».
(A ultrapassagem justifica o procedimento)

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segunda-feira, julho 10, 2006

Troppo bene Italia!

A final de Berlim, jogada ontem entre Itália e França, consagrou a "squadra azzurra" como tetracampeã mundial e, logo, como a segunda melhor selecção de sempre na história dos mundiais, atrás da pentacampeã selecção brasileira. Dos 18 Mundiais já realizados, a selecção transalpina esteve presente em 16 e foi finalista em seis - portanto, em um terço das finais já disputadas! -, perdendo apenas duas delas.
Foi um jogo equilibrado, sobretudo na primeira parte (os dois golos do empate a uma bola aconteceram aos 7 e aos 16 minutos), e em que Zidane, considerado o melhor jogador desta edição 2006, terminou a sua carreira da pior forma ao ser expulso por ter agredido ostensivamente Materazzi com uma cabeçada violenta no peito deste, já no prolongamento. A equipa treinada por Marcelo Lippi só na marcação das grandes penalidades se superiorizou à selecção gaulesa que, na contabilidade dos 120 minutos jogados, foi a melhor equipa em campo, dispôs de mais ocasiões de golo (das poucas que a partida teve) e tomou quase sempre a iniciativa do jogo, ao ponto de a Itália se ter praticamente limitado a defender na segunda parte e na meia hora de prorrogação de tempo, mesmo jogando em superioridade numérica após a expulsão de Zidane. Valeu invariavelmente, nessa circunstância, o habitual rigor defensivo italiano: os "azzurri" sofreram apenas dois golos nos sete jogos que disputaram!
Por conseguinte, a França merecia melhor sorte, mas no futebol, como na vida, o pragmatismo acabou por ser decisivo e determinante; e, no caso italiano, foi preponderante neste campeonato o valor e a profissional regularidade do colectivo, coeso e funcional táctica e tecnicamente (por exemplo, Pirlo, Grosso e Materazzi, defesas, foram importantes na manobra ofensiva e chegaram mesmo a marcar). Para os que tinham dúvidas decorrentes de um jejum de 24 anos e do desastroso Euro 2004, a Itália provou que, desde 1934, nunca deixou de ser a maior potência europeia de futebol e a segunda melhor do mundo, e creio mesmo que a sua afirmação continuará nos próximos anos, prosseguindo no Euro 2008, na Suíça.
Este quarto título mundial vem, curiosamente, numa conjuntura interna adversa que decorre dos escândalos de corrupção que envolvem o próprio seleccionador Lippi e os maiores clubes italianos, Juventus e Milan, os quais poderão ser despromovidos para divisões inferiores. Não é só em Portugal que a ausência de «fair play» parece ordenar comportamentos antidesportivos, mas tomáramos nós que a justiça lusa fosse tão justa, célere e imune a pressões como a italiana dá mostras de ser.
Agora só falta arranjar espaço no emblema da Federazione Italiana Giuoco Calcio para lá colocar a quarta estrela - já começa a ser uma constelação! Parabéns aos novos campeões do mundo e arriverdeci, até ao seu regresso...

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sábado, julho 08, 2006

Fracos fazem fraca a forte gente!

O governo português, pela mão da ministra da Educação e com o pusilânime beneplácito político de Sócrates e Cavaco, tem dado continuidade a medidas de desmantelamento da qualidade do ensino público, mediante a produção de perversos despachos e circulares, alguns ilegais (como planificar o próximo ano lectivo com base num quadro normativo por aprovar e que contraria o que está em vigor), que vão inevitavelmente conduzir à inequívoca degradação em curso da dignidade da profissão docente e concomitante corrosão da autoridade professoral - científica, pedagógica e institucional. Com efeito, as profundas e subversivas alterações ao Estatuto da Carreira Docente (ECD) representam a consolidação da prática de um sistema de ensino que, por detrás de intenções demagogicamente publicitadas como positivas à leiga generalidade das pessoas, vai minar os alicerces que deveriam presidir a orientações sensatas de promoção efectiva de um ensino de qualidade, rigoroso, sério, exigente e responsável, bem como de valorização da actividade docente, a qual é escravizada pelo novo documento do ECD.
A desvalorização agressiva e maldosa do papel e utilidade sociais dos professores, conjugada com a decana puerilização do ensino que (de)forma cidadãos cognitivamente limitados e intelectualmente desinteressados (os estudos da OCDE são inexoravelmente categóricos na identificação das graves deficiências dos estudantes portugueses; há alunos que concluem o 12º ano sem saber ler ou escrever correctamente!), acaba afinal por não surpreender quando se sabe que, como muito bem observou Nuno Crato, na proposta de a(du)lteração do ECD, que verá a luz do Diário da República em Outubro, não se inscreve uma única vez a palavra «ensinar» (!!?). Por outro lado, e como vem sendo tradição nos sucessivos elencos governativos, o titular da pasta da Educação é invariavelmente alguém que faz profissão nos meios académicos e cujo currículo até pode estar inundado de interessantes teses, aclamadas prelecções em seminários como ilustres paineleiros convidados, estudos teóricos e livros publicados (a disponibilidade de calendário dos professores universitários dá para tanto), mas que do ensino básico e secundário só têm a experiência do tempo em que eram alunos. Ora, a Educação em Portugal tem sido, nos últimos 25 anos, campo de experimentação de conjecturas académicas importadas de escolas e correntes que se dizem pedagógicas e que fazem parte das tão divulgadas "ciências da educação" - verdadeiras aberrações anacrónicas produtoras de receituários pseudopedagógicos e autêntica fonte de receitas para as Universidades, que delas ministram mestrados e doutoramentos perfeitamente estéreis e inócuos, senão mesmo obstaculizadores de um ensino decente e promotor de aprendizagens reais e de saberes fundamentais, como o atesta a lastimável cultura geral dos jovens que aparecem na escola e dela saem e julga(ra)m frequentá-la.
A intromissão da ignorância escudada em presunção nunca é recomendável e mais contraproducente se torna se os ignorantes exercem o poder. Já diz o aforismo: "Quem te manda a ti, sapateiro, tocar rabecão?"
Sou professor do ensino secundário e, de 2003 a 2005, tive o aumento salarial congelado e continuo, ano após ano, a perder poder de compra, num claro desincentivo à auto-formação, que é muito cara; além disso, o último ano e meio de serviço não vai contar como tempo de serviço (contrariando a lei e as mais elementares regras éticas e deontológicas) e a progressão na carreira foi bloqueada indefinidamente, suspeito mesmo que definitivamente. Não é assim que se aposta na Educação, que continua a ser vista como uma despesa e não como um investimento; nem é com primeiros-ministros como Sócrates que esse nobre objectivo se concretiza: o engenheiro tem os seus dois filhos a estudar no ensino básico na Escola Alemã, desembolsando 1500 euros por trimestre, fora as actividades extra-curriculares, com direito à possibilidade de obterem um futuro ingresso em universidades no estrangeiro. Melhorar o ensino não é difícil, mas fazê-lo com vontade política e boa fé é dispendioso, pressuposto que estes sucessivos governos têm desprezado e encoberto por névoas de desinformação demagógica que por conivências e interesses obscuros nem os 25 (!) sindicatos de professores sabem desvelar e denunciar, nem os próprios docentes visados sabem combater, classe acéfala e subserviente que é e cujo zelo de escravo já aqui uma vez lamentei. Nunca vi tamanha superação da fidelidade canina como a que se testemunha nos gabinetes dos Conselhos Executivos!
Com "professores" destes a "ensinar" "alunos" assim, orientados por "governantes" destes com "sindicatos" assim, Portugal continuará a ser tranquilamente presença assídua na cauda dos rankings de desenvolvimento da União Europeia e outros. Mas qual é o problema? Como país iminentemente católico, segue-se o princípio bíblico que afirma que "os últimos são sempre os primeiros"...

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quinta-feira, julho 06, 2006

Portugal 0 - França 1

O FIM DO SONHO E A REPETIÇÃO DA HISTÓRIA
Noventa minutos bastaram para a selecção gaulesa, jogando quanto baste e sem se desgastar muito, tal como fizera contra o Brasil, desmoronar o sonho português de lograr chegar a uma final do Mundial. Mais uma vez, um penálti (algo duvidoso mas merecedor do benefício da dúvida) concretizado por Zidane reforçou a maldição francesa: tinha sido assim nas meias-finais do Euro 2000 e já anteriormente no Euro 84 ficámo-nos também pelas meias-finais tombando frente aos do costume.
A selecção das quinas jogou abaixo do que poderia, não tendo fluidez, objectividade atacante nem profundidade na construção das jogadas; os jogadores lusos imprimiram pouca velocidade nos lances ofensivos e foram sendo facilmente desarmados pela possante muralha defensiva francesa e só de remates de meia-distância, sobretudo de Cristiano Ronaldo e de Maniche, é que a bola chegou com algum perigo à baliza de Barthez, que foi um mero assistente do jogo, tão poucas vezes teve que se empenhar (um remate de Deco aos 4 minutos e outro de livre de Ronaldo aos 78). Pauleta andou em subrendimento nesta competição - assisti-lo foi sempre tarefa inglória - e estranho que Scolari não tenha dado oportunidade a Nuno Gomes, mais experiente e eficiente que Postiga, e fisicamente a equipa nacional revelou-se debilitada. Portugal só se pode queixar da sua confrangedora ineficácia atacante (um só golo, contra a Holanda, na fase de eliminatórias) e da sua incapacidade em criar espaços nos sectores intermédio e avançado que permitissem penetrar no sector defensivo adversário.
FIZEMOS O LUGAR DE OUTSIDER
Nesta 18ª edição do Mundial de Futebol, Portugal fez o papel de outsider: nas meias-finais, as outras selecções qualificadas eram anteriores campeãs do mundo (Alemanha, Itália e França). Em recentes edições anteriores, tal papel foi desempenhado pela Croácia, pela Turquia ou pela Suécia, como mais remotamente o foram a Hungria, a Holanda ou a extinta Checoslováquia. A história é taxativa e demonstra que os portugueses se precipitaram nas congeminações de vitória que idealizaram: o Alemanha 2006 volta a confirmar que as selecções campeãs mundiais pertencem a países relevantes geográfica e demograficamente - e logo também politicamente -, atributos que Portugal não tem. Alguém me desmente?
Parece que a tradição ainda é o que era!
Agora, frente à Alemanha, resta-nos cumprir no sábado aquele jogo curioso de consolação de semifinalistas vencidos para a medalha de bronze. O melhor que podemos fazer é igualar os "magriços de 66" com um terceiro lugar (no entanto, estes não tiveram oitavos-de-final e passaram directamente da fase de grupos para os quartos-de-final, pois eram bem menos as nações em competição). Depois começará o apuramento para o Euro 2008, novo ciclo para a lusa esperança em ser deveras campeão, pois campeões de vitórias morais já temos troféus virtuais que cheguem.
Graças à França, os vendedores de móveis de Paços de Ferreira já podem respirar de alívio...

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quarta-feira, julho 05, 2006

Legendar o silêncio icónico (10)

Como um analfabeto interpreta o rumo a seguir...
(Será uma inscrição em Braille para condutores invisuais?)

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Breves notas e diatribes (2)

1. Circula há umas semanas, via SMS e e-email, uma mensagem em que se refere que as vacas na Índia são sagradas e em Portugal são ministras, numa implícita mas clara alusão a Lurdes Rodrigues, a desinformada e arrogante "pedaboba" da Educação e titular desta infeliz e mártir pasta governativa. Sem dúvida que tal vitupérica associação ou insinuação pejorativa é um ultraje e demonstra à saciedade uma total ausência de sensibilidade a todos os títulos reprovável. De facto, na sua graciosidade bovina, as vacas não mereciam ser comparadas a tão sinistra gente!
2. Continuando a falar de mulheres que, pela sua vida activa, são figuras públicas: Cândida Almeida, directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, declarou na terça-feira, no âmbito de um curso para inspectores-chefe da Polícia Judiciária, que "o poder político fala muitas vezes no combate à corrupção, mas na prática provoca estes impedimentos"; ou seja, a própria lei é um dos entraves ao combate à corrupção. Por exemplo, a actual lei de Protecção de Testemunhas não se pode aplicar aos casos de corrupção, pois prevê medidas de protecção mais fortes para os crimes de terrorismo, associação criminosa e tráfico de seres humanos, deixando assim de fora a protecção aos delatores de casos de corrupção.
Por seu lado, Fátima Mata-Mouros, que foi durante seis anos juíza de instrução criminal, asseverou que "não temos processo penal para os megaprocessos. Não há estruturas de julgamento para isto". E acrescentou ainda que "com o Código do Processo Penal que temos, os megaprocessos estão condenados ao fracasso ou à injustiça".
A frontal franqueza destas magistradas tem o mérito de, pelo menos, confirmar que Portugal é um país da treta. Ou, evocando novamente o impropério à ministra de gabinete da 5 de Outubro, este é um país da teta!

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segunda-feira, julho 03, 2006

Primum vivere deinde philosophare - 10

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Inglaterra 0 - Portugal 0 [1-3 g.p.]

Depois de tanta especulação, troca de argumentos e estatísticas e insinuações pouco desportivas entre as imprensas inglesa e portuguesa, lá teve início o tão aguardado jogo em Gelsenkirchen; os portugueses queriam vingar 1966 e a actual arrogância e sobranceria dos ingleses e estes queriam vingar 2004. Levaram a pior os súbditos da isabelina majestade.
A primeira parte foi equilibrada, com as jogadas de ataque repartidas entre as equipas, que ocupavam os espaços de maneira densa revelando enormes preocupações tácticas (o primeiro canto da partida só surgiu aos 40 minutos). Lampard e Gerrard tiveram forte marcação, anulando a poderosa meia-distância da armada britânica; Petit esteve particularmente bem nessa marcação. Portugal atacava sobretudo por acção de Cristiano Ronaldo, não conseguindo estender o jogo ofensivo, o que teve como contrapartida que o flanco esquerdo nacional ficasse mais vulnerável às investidas dos monárquicos. Figo compensava nas duas alas e também de modo tacticamente irrepreensível. Pauleta não se via. Mas tudo se passava de forma mastigada, com passes curtos na transposição de bola da defesa para a frente. O domínio de posse de bola foi repartido na primeira metade do jogo. A inexistência de oportunidades de golo justificou o 0-0 ao intervalo.
A segunda parte começou com toada idêntica, mas paulatinamente a Inglaterra ia assenhoreando-se do jogo muito por culpa da selecção das quinas, que concedia mais espaços para a movimentação adversária. Aos 61 minutos deu-se a expulsão de Rooney, colocando Portugal em vantagem numérica. Mas não se deu por isso e a manobra ofensiva nacional continuava lenta, procurando infrutiferamente linhas de passe que penetrassem por entre a inexpugnável muralha defensiva britânica. Fazia-se sentir a falta da criatividade de Deco em campo... Depois de Pauleta, o subrendimento de Tiago levou à sua substituição (respectivamente por Simão e Hugo Viana). Não havia fluidez e profundidade no jogo de Portugal. Aos 83 minutos Ricardo salva um remate de livre bem direccionado e executado por Lampard, na primeira e única oportunidade de golo em todo o encontro. Por seu lado, o sector atacante das cores lusas continuava confrangedoramente ineficaz e sem soluções. Figo, diminuído fisicamente, foi rendido por Postiga aos 86 minutos. Não havia ponto-de-lança a conseguir discutir o jogo aéreo na área inglesa.
Cumprido o tempo regulamentar, foi sem surpresa que houve necessidade de recorrer ao prolongamento: anteviam-se mais 30 minutos de nervos. Só aos 102 minutos Simão rematou com perigo à baliza de Robinson; Portugal dominava, mas novamente com circulação de bola enrolada e sem objectividade, de pé para pé em reversíveis lateralizações frente à area insular e cruzamentos sucessivos perfeitamente inócuos perante o acerto defensivo dos de sua majestade. Do nosso lado, Fernando Meira e Ricardo Carvalho revelaram-se também uma dupla de centrais irrepreensível. Só através dos remates de meia-distância é que a bola transpunha a linha de defesa adversária e quebrava a parcimónia do ataque português.
E assim se chegou à lotaria das grandes penalidades, em que Ricardo, uma vez mais, foi o carrasco dos ingleses ao defender três (!) penaltis (de Lampard, Gerrard e Carragher). God save the queen e os leões de São Jorge!
P.S. - Gostamos de comer francesinhas (eu, pelo menos, gosto), mas depois de um jogo para inglês ver e face ao saldo desfavorável com os gauleses, Portugal terá de, na sua meia-final, jogar à grande... e à francesa! O céu é o limite...

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