quarta-feira, maio 31, 2006

A sinistra gente do "mistério" da educação

É já um facto indesmentível que o grupo do engenheiro Sócrates escolheu a classe dos professores como um dos alvos preferenciais e prioritários de acção governativa, delegando na titular da pasta da Educação uma persistente incumbência de mostrar obra feita e anunciar propagandisticamente medidas avulso e a conta-gotas que, por um lado, nada de substancial resolvem no putrefacto sistema de ensino nacional, a não ser agravarem as mazelas de que este padece; e, por outro lado, vão cerceando direitos adquiridos da classe docente, tidos agora como absurdos privilégios. E este contexto é tanto mais irónico quanto se sabe que os professores constituiram - lamentavelmente - uma forte base de apoio eleitoral que consagrou a maioria absoluta do PS em 2005; não fizeram - lamentavelmente - greve aos exames nacionais há um ano; cumprem na escola, sem pestanejar e com zelo de escravo, as tarefas mais ridículas sem as contestar, ou fazendo-o somente com débeis e inócuos murmúrios sussurrados entredentes em psicanalítica catarse grupal nas salas de professores...
Em contrapartida às crescentes exigências da função professoral, assiste-se ao simultâneo desprestígio e desincentivo de um desempenho docente de qualidade, traduzido, por exemplo, no congelamento da progressão na carreira; na deslocalização de milhares de professores confrontados com a não abertura de vagas (que viola a lei e só por critérios economicistas não são disponibilizadas) e agora obrigados à itinerância e ao exílio nómada por um período mais dilatado de três e, futuramente, quatro anos; na burocratização galopante de tarefas e procedimentos atinentes à avaliação e a cargos/funções extracurriculares; na desvalorização do tempo de trabalho para a preparação das actividades lectivas (consumidas em patéticas e antipedagógicas "horas de substituição"); no excessivo número de alunos, de turmas e/ou de níveis de tantos professores; na produção incessante de legislação permissiva que impõe artificialmente o sucesso escolar; na violência escolar que recrudesce e está a jusante da conflitualidade social; etc. etc. etc..
Neste temporal de desinvestimento na educação, paga o justo pelo pecador e, se maus professores há, os que são competentes acabam por se ver indiferenciadamente envolvidos nesta teia de persecutória desconfiança, responsabilização e desautorização, neutralizando e anulando dessa forma o voluntarismo, empenho e dedicação que ainda possam restar em alguns. Não é assim que se penalizam ou punem os professores incompetentes e irresponsáveis que parasitam o sistema (à semelhança de tantos outros nas demais profissões e incluindo os muitos políticos oportunistas que contaminam e comprometem com a sua presença e ignorante arrogância o progresso, desenvolvimento e bem-estar do país), sacrificando o conjunto indiscriminadamente. O desrespeito que a sinistra Lurdes e os sequazes capatazes Lemos e Pedreira evidenciam no ódio que vão destilando sobre os professores, radica também na atitude submissa e subserviente da classe docente face aos poderes que a (des)regulam, classe essa cuja massificação a tornou genericamente amorfa, anódina, descaracterizada, acéfala e com laivos de incultura preocupantes.
Decorre desta conjuntura que medidas como a mais recente, que intromete os encarregados de educação na avaliação dos professores, não são já de estranhar e vêm na sequência de outras que atentam contra a dignidade da profissão docente. Com efeito, esta última (mas não derradeira) proposta é deontologicamente perversa, socialmente ilegítima e pedagogicamente contraproducente, só suportada talvez por obscuros interesses e pela estupidez e desonestidade intelectual dos pedabobos "cientistas da educação" (?), dos eduardos sás e danieis sampaios que infectam com as suas cómicas receitas sapienciais irrealistas, impertinentes e de puro academismo teórico e retórico, os meios de comunicação que lhes dão cobertura e os corredores da 5 de Outubro.
Vamos então pôr os pais a avaliar os profes e, por que não, que isso sirva de inspiração aos colegas Costa da sinistra Lurdes para pôr réus a avaliar o desempenho de juízes ou solicitar a autuados que avaliem os guardas que os brindaram com coimas! Assim vai Portugal, umas vezes menos bem e quase sempre mal...

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segunda-feira, maio 29, 2006

Viriato, Quixote, Sebastião, Godot e a selecção

Estamos a poucos dias do início de mais um Mundial de futebol e, como é hábito nestas circunstâncias, a comunicação social dirige, até à náusea, os holofotes da informação para os deuses-jogadores da selecção, vendendo pela enésima vez a esperança de sermos os próximos campeões da internacional competição, optimismo cujo exagero apenas se justifica pelo fito de aumentar índices de audiência e receitas publicitárias. É a economia de mercado a jogar em pleno. Parece até que, de repente, as vitórias possíveis e sempre prometidas da selecção se constituem como paliativos ou factores de resolução das graves dificuldades que o país continua(rá) a atravessar. O que vale é que o período de competição dura poucas semanas e os portugueses são pioneiros e inexcedíveis no psicológico consolo de transformar toda as concretas derrotas em vitórias morais.
E como enquanto o pau vai e vem folgam as costas, enquanto se produz a anestesia mnésica da realidade no limbo mórfico e mórbido do futebolês, o socrático governo aproveita o tempo assim ganho de distracção popular para congeminar novas medidas legislativas que fingem ser benéficas e cuja ineficácia e inutilidade se desvelam afinal mais tarde, a tempo do início de mais um Mundial de futebol, configurando o nietzschiano eterno retorno ou ciclo vicioso do miserabilismo nacional que contrasta com o ostentar de camisolas, o agitar de cachecóis e o drapejar de bandeiras nas janelas e varandas. Tudo num cromático paroxismo de adereços que simbolicamente recordam que, mesmo fugindo aos impostos, conduzindo na estrada com ímpetos criminosos, desrespeitando o património natural que parece que ainda vamos tendo, ou cuspindo para o chão imundo que outros vão pisar, somos patriotas até à medula e com o alto patrocínio sazonal das hipermétricas lojas do sr. Belmiro.
Como campeões de oníricos vencimentos e embalados em uníssono hino coral, a lusa grei incessantemente nutre-se de uma saudade do futuro que adia para a próxima oportunidade as conquistas não logradas no presente, numa recusa da impotência inexorável perante os instantes decisivos. Reproduz-se a imagem da queda das máscaras das divindades no campo, arrastadas pelo choro convulsivo de simples e contingentes homens mitificados, porém com chuteiras de barro e nervos de palha. É o nosso esplendor na relva desde Eusébio em terras britânicas.
Viriato foi traído pelos seus, Quixote via gigantes que julgava derrotar na figura de humildes moinhos, Sebastião dissolveu-se no capricho bélico das vitórias antecipadas com a benção de Deus, Beckett fez-nos esperar por um Godot que não aparece... Não é por acaso que empresas de mobiliário de Paços de Ferreira estão a fazer uma campanha em que dizem devolver aos seus clientes o valor pago na aquisição de móveis, se Portugal vencer o Mundial na Alemanha. Ora, a fatalidade da derrota serve já de negócio e fonte de lucro, explorando um filão de desfecho mais que previsível e de contornos de despudorada necrofagia espiritual.
Prever o insucesso dos sucessores de Viriato é fácil profecia e inócuo pretexto para fazer de rico... sem gastar um tostão!

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sexta-feira, maio 26, 2006

Legendar o silêncio icónico (5)

Os anjos podem não ter sexo, mas têm cauda!
(Este é o mais famoso e chama-se Gãobriel)

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Refutar a monarquia e nostalgias afins - 2ª Parte

Retomo a refutação da monarquia no ponto onde ontem a deixei na 1ª parte.
As pessoas devem ser escolhidas pelo mérito, conhecimentos, experiência e capacidades intelectuais que possam ter; é daí que deve advir a sua excepcionalidade. Aliás, os monárquicos de todo o mundo deviam, neste particular, aprender com o exemplo búlgaro e assim compreender que a república é inclusiva e a monarquia é exclusiva.
O melhor advogado da res pública só pode ser republicano e não um defensor da ordem de um só; alguém que é escolhido pelos seus concidadãos e de entre eles, com base em critérios plausíveis, como o percurso político e profissional. Sim, ser chefe de Estado é exercer um cargo político e um Presidente tem, em princípio, uma profissão e contribui para o PIB, não tem privilégios ou isenções fiscais nem orçamento de Estado especial que o desvincule dos sacrifícios que têm de ser de todos, sobretudo num país pobre, carenciado e falido como Portugal.
Os monárquicos, portugueses ou não, devem ter presente as razões por que a monarquia foi cedendo lugar à república democrática em tantos países no mundo, muitos com uma secular tradição real. É o caso de Portugal: o 5 de Outubro de 1910, uma das datas mais positivas e importantes da nossa história, deve-se essencialmente à desmobilização cívica dos partidários da monarquia, ao descontentamento e saturação por oito séculos de impasses, crises e insolvências. Curiosamente, ante e pós Olivença, ainda hoje é assim: o líder do PPM, Nuno da Câmara Pereira, diz de Duarte Pio o que Maomé não disse do toucinho, e por aqui se vê que na monarquia há uma ilusão de unidade e a que possa haver é imposta, hoje como em 1383-1385 ou em 1580. E ainda apregoam os régios apologistas que o rei é mais do que um símbolo da representação e da unidade do Estado...
Outro argumento falacioso é o de dar continuidade à própria história do país: «só um rei descendente dos fundadores da nacionalidade, melhor que outros, pode transportar na sua pessoa essa carga positiva necessária à auto-estima de todos nós.» Em primeiro lugar, esse argumento passadista e emocional, falho de racionalidade, serve igualmente para defender o regresso às tradições inquisitorial, esclavagista ou cruzadista; em segundo lugar, hoje já não há espadas, lutas a cavalo, sabres, mosquetes, bestas ou escudos, nem faz já sentido o «contra os canhões marchar», visto que o mundo e as mentalidades evoluem, procuram não se fixar em tradições inócuas. Por outro lado, não é consensual quem será o actual messiânico legítimo herdeiro do trono e descendente da primordial majestade afonsina, nem, creio, isso é relevante para quem tem mais pertinentes preocupações na vida. Em quarto lugar, a generalidade dos portugueses não relaciona, bem pelo contrário, a baixa auto-estima que possa ter com a pretensão de ter uma cabeça coroada - quem tem sede no deserto não pensa numa imperial fresquinha, mas em simples água!
Outro ambíguo argumento, invariavelmente falacioso, é afirmar salazarentamente que um «chefe de Estado Real que simbolize na sua família os valores da família portuguesa comum e, desse modo, seja mais facilmente sentido e ouvido pelos portugueses.» Ou seja, o rei seria uma espécie de pai, cujo paternalismo se dirige aos súbditos com "valores da família portuguesa comum" (?), excluindo os outros que não têm valores comuns. O que é que isso quer dizer? As mães solteiras, os casais que usam preservativo, os ateus, os não católicos ou os agnósticos, etc., seriam proscritos? O rei é um exemplo ou modelo de virtudes dos que estão desejos das certezas morais pretéritas?
Enfim, e para concluir, a proposta de um regresso ao passado é o anseio que uns poucos defendem, certamente patrocinados pela imprensa cor-de-rosa que se nutre das extravagâncias reais de monarcas, infantes, príncipes e consortes. Por mim, prefiro a república com todos os seus defeitos, que a monarquia com todas as suas (eventuais) virtudes!

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quinta-feira, maio 25, 2006

Refutar a monarquia e nostalgias afins - 1ª Parte

Sobejam as razões para, no confronto entre os modelos de organização sócio-política republicano e monárquico, refutar este último. Aqui enunciarei algumas das que considero serem mais importantes nesse cotejo, e na sequência de textos vários que recentemente tive oportunidade de ler de monárquicos portugueses cheios de nostalgia de um passado felizmente irreversível, em que provavelmente ostentavam familiarmente brasões, benefícios e bens imóveis, decorrentes de títulos de nobreza e aristocracia e forais que tais, hoje obsoletos e ridículos, e eram baptizados com extensos e sonantes apelidos que incluíam muitas partículas, arcaísmos e consoantes repetidas (um exemplo fictício mas paradigmático: Ruy de Souza e Mello Telles de Menezes Corrêa e Albuquerque do Espírito Santo), extintos pela graça do bom senso republicano, mais assumidamente popular e sem tons de azul no sangue das veias.
Antes de mais, a monarquia é intrinsecamente inconsistente com a democracia: não se pode ser democrata e reservar exclusivamente o cargo mais elevado da hierarquia do Estado a uma pessoa e família, fundamentando na hereditariedade o acesso à chefia do Estado. A monarquia é discriminatória e potenciadora de fórmulas dinásticas arbitrárias, autocráticas e autoritárias, que a própria história profusamente testemunha. Portanto, a monarquia é anti-democrática, pois não respeita a plena e efectiva soberania popular e coloca-se à margem ou acima do exercício do jogo democrático, que radica no respeito, de jure, da igualdade (de direitos, de género, de oportunidades, etc.).
A república é o sistema político mais próximo dos cidadãos, até porque o Presidente é eleito por sufrágio universal, directo (como em Portugal e na França) ou indirecto (como em Itália), e converte-se num primus inter pares, facultando a possibilidade de atingir a chefia do Estado a um aristocrata, burguês, clérigo ou plebeu (veja-se o caso actual de Portugal e do Brasil). A monarquia veda essa possibilidade logo à partida, afastando-se dos cidadãos e legitimando a formação de elites governantes que pululam em torno da esfera dos "reais interesses", indisputáveis eleitoralmente (exemplo ilustrativo disso foram os acontecimentos que conduziram ao regicídio de 1908 e o prévio mal-estar, descrença e desânimo que o monarca gerou pela sua incompetência, insensibilidade e distanciamento social face aos "interesses reais" da pobre, explorada e esfomeada plebe). Asseverar que o rei representa os mais desprotegidos só pode ser interpretado como afronta a estes ou como cegueira idiossincrática destituída de conveniente fundamento documental.
Por imperativos constitucionais, o Presidente eleito é suprapartidário e o seu mandato está sempre periodicamente submetido ao escrutínio popular, não se perpetuando em monopólio vitalício do cargo e estando limitado na sua acção pelos preceitos da Constituição e demais códigos jurídicos. A permanência demasiado indefinida em cargos públicos é perversa e contraproducente, por razões que só os que ignoram a psicologia e os nepóticos humanos hábitos de caciquismo, compadrio e clientelismo se dispensam de equacionar e invocar; e o rei é um ser humano e não uma entidade divina ou sobrenatural dotada de infalibilidade, ao contrário do que às vezes se quer fazer passar e que a história reiteradamente confirma. Para decidir é necessário formar opinião, e fazê-lo é tomar partido, e isso em harmoniosa articulação institucional com o sistema partidário e as perspectivas ideológicas existentes e representadas nos órgãos de soberania. Dizer, portanto, que o rei está acima dos partidos é uma mistificação tantas vezes também cabalmente desmentida pela história.
A democracia e a sua representatividade mediante partidos não é crime, fraqueza ou pecado, mas um mal menor que o da régia vigência: grave foi a cumplicidade e o conluio da monarquia com sistemas teocêntricos que mutuamente se legitimaram, confundindo o Estado com a Igreja e fazendo perigar a laicidade que sustenta a justa e tolerante configuração das sociedades contemporâneas mais desenvolvidas. A promiscuidade entre monarcas e a Igreja Católica foi um exemplo em Portugal da ausência de imparcialidade e de equidistância por parte de reis portugueses, muitos dos quais se subordinaram humilhantemente à monarquia papal.
Voltarei brevemente ao assunto.

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Primum vivere deinde philosophare - 3

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quarta-feira, maio 24, 2006

Estado dubitativo - 5

A circunstância que a seguir se descreve é ficcional, porém, bem real!
Após dormir numa cama, feita em Paços de Ferreira com madeira brasileira, com a cabeça bem acomodada sobre a almofada de algodão egípcio, Eustáquio Maria acordou ao som estridente do seu despertador japonês. Levantou-se e calçou os chinelos argentinos, de pele bovina. Tomou um duche revigorante com champô e gel franceses, após o qual se barbeou com a máquina eléctrica chinesa que comprou a bom preço. Secou o corpo numa toalha de linho marroquina e vestiu-se: camisola cingalesa de algodão, boxers e jeans de marca made in Singapura e calçou os ténis vietnamitas. No pulso, o desportivo relógio analógico suíço.
Bebeu o sumo de laranja israelita, acompanhado de torradas de trigo norte-americano, preparadas na torradeira holandesa e barradas com manteiga açoriana, e bebeu o café colombiano feito na sua máquina expresso checa. Confirmou que não se esquecera da máquina de calcular sul-coreana nem do telemóvel finlandês e consultou a internet no seu computador tailandês para ver as previsões meteorológicas para esse dia. Depois de ouvir as notícias das 8 no seu rádio alemão, sentado no sofá de couro dinamarquês, saiu de casa e entrou no seu carro sueco. Mais tarde, o Eustáquio Maria almoçou num centro comercial num restaurante de comida indiana, onde as refeições são servidas em louça indonésia, e que degustou com vinho chileno em copo de vidro espanhol.
Ora, a dúvida é a seguinte: pelo exposto, será que é possível estar integrado na sociedade e evitar os efeitos da globalização económica? Poderá Portugal ser competitivo com um aparelho produtivo ineficiente? Alguma vez exportaremos (quase) tanto como o que importamos? Não será o consumo uma pedra de Sísifo que nos consome? Haverá solução ou resposta... em Portugal?!

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terça-feira, maio 23, 2006

«Políticos, Caciques e Outros Anátemas» - 9º Acto

Vi o "Prós e Contras" de ontem e se dúvidas alguém ainda tivesse sobre o quinto poder, exercido por grupos económicos detentores de canais de comunicação social, elas dissiparam-se certamente.
Desde logo, a presença de câmaras e microfones constitui, por um lado, um factor inibidor da naturalidade e espontaneidade de comportamentos e, por outro lado e concomitantemente, configura uma situação artificial em que a preocupação primordial é alinhar numa encenação protocolar e formal, despida de qualquer contaminação de gestos desalinhados e depurada de posturas, poses e posições genuinamente adoptadas, porém de telegenia desfavorável. Do lado dos jornalistas, condicionados por shares e índices de audiência que atraem fontes de receita, sobretudo publicitárias, o imperativo noticioso radica na busca do instante comprometedor que, não obstante a sua irrelevância, fragiliza o alvo em mira (político, artista, desportista e outros). O espectáculo/circo mediático instalou-se e para o cidadão mais distraído, ou menos atento, é fácil aceitar uma ideia, produto, opinião ou sentido de voto, meramente na base da superficialidade fútil do que é avulso e acessório, e que encobre a essência do que é consistente e realmente pertinente e importante.
Tudo é comercializável, vendável, tabloidizável, objecto de lucro... A democracia é o pano de fundo e cenário em que se erige a ditadura da imagem e onde se consolidam popularizações demagógicas que acabam devoradas pelas próprias máquinas mediáticas que as sustentaram e serviram de correia de transmissão. A instrumentalização da comunicação social é uma tentação irresistível e centenária, independente de regimes políticos; e, neste particular, a democracia incorre, em muitos aspectos, no que de mais vil e soez existe nas estratégias de propaganda manipulatórias, autênticos sistemas de legitimação simbólica característicos dos regimes autoritários e autocráticos. Um ângulo, um perfil, um gesto, um esgar, uma palavra ou frase, uma manchete... Detalhes aparentemente inocentes, contudo medidos, calculados, (des)integrados no contexto mais amplo de uma encenação que se converte num artifício proveitoso, mesmo que falso e forjado, que beneficia alguém e que oculta o que é substantivo para a formação de uma opinião pública esclarecida.
Curioso que a exposição e denúncia das feridas que afectam e infectam o jornalismo, subserviente face a uma lógica de capitalismo de mercado e de liberalismo economicista, tenham sido feitas num programa televisivo que é um paradigma do jornalismo-espectáculo em directo, feito sobre um palco de teatro com uma plateia a assistir e a debitar palmas encomendadas para animar e acirrar os ânimos dos paineleiros em contenda, e no qual a pessoa a que chamam jornalista se comporta menos como uma sóbria moderadora e mais como uma folclórica apresentadora e técnica de animação. Ou seja, os factos vêm a lume pela mão de um jornalismo que se comporta como pirómano disfarçado de bombeiro; e o pior é que, neste tórrido clima de promiscuidade e de escrutínio mútuo, todos têm rabos de palha!

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sexta-feira, maio 19, 2006

Primum vivere deinde philosophare - 2

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quinta-feira, maio 18, 2006

Uma página da vergonhosa história católica

Uma das páginas mais negras da história de Portugal, e talvez por isso convenientemente obliterada da memória colectiva, foi escrita há precisamente 500 anos, por força do secular conluio entre a sinistra e artificial Igreja Católica e a arbitrária autoridade real. O Édito de Expulsão de 5 de Dezembro de 1496 obrigava a sairem do reino português todos os judeus nele residentes que recusassem ser baptizados (ou evangelizados, para usar um ameno eufemismo), contrariando desse modo a régia vontade de D. Manuel I, disposta com carácter de lei no Conselho de Estremoz. Estava dado o primeiro passo para o estabelecimento em Portugal da Inquisição, em 1536, que, sob o lema "misericórdia e justiça", durante três séculos instalou o pesadelo, o terror e o medo em solo lusitano, mediante os tragicamente conhecidos «autos-de-fé».
Antes, no entanto, Lisboa foi palco de um massacre que vitimou cerca de 4000 judeus, entre 19 e 21 de Abril de 1506. Portugal vivia um período de seca e de fome, agravadas pela peste que dizimava milhares de pessoas, a ponto de el-rei D. Manuel ter fugido da capital indo refugiar-se em Évora. Os judeus foram considerados culpados pela conjuntura atroz que se vivia, com o dominicano beneplácito que instigou a plebe ao ódio pelos descendentes de Judá.
No tomo II da sua "História de Portugal" (Livraria Bertrand), Oliveira Martins escreveu a propósito deste triste episódio, que aliás se inclui no vasto livro negro da história da igreja papal romana. Vale a pena ler o seguinte excerto, impressionante no efeito visual que suscita:
"As mulheres agitavam-se coléricas pronunciando ditos obscenos, palavras descompostas, à mistura com as expressões de refinada devoção e de um fervente beaterio. Incitavam os homens à matança; e, do púlpito, o frade, oráculo do céu, definia com palavras o sentimento da multidão. Os judeus eram a causa da fome, eram a causa da peste! De cruz alçada, saindo da igreja, os frades vinham clamando, heresia! Heresia! Concitando o povo à matança.
Já houvera sangue, já crepitava o lume; e a cor rubra e os primeiros ais dos moribundos exacerbavam, como um touro, a fúria da plebe, açulada pelos sermões dos frades energúmenos. Desencadeou-se a tempestade, rebentando numa hora a cólera reunida em muitos séculos. Cresceram as fogueiras no Rossio e na Ribeira; e os bandos iam caçar pela cidade os judeus escondidos, invadindo as casas. Traziam-nos às manadas de quinze e vinte, amarrados, feridos, cuspidos, semimortos; e lançavam-nos, aos montes, nas fogueiras. As chamas crepitavam, e os gritos dos moribundos conseguiam ouvir-se por entre o vozear da plebe. Os sinos dobravam a rebate, chamando os fiéis à matança. (...) No primeiro dia, domingo, não faltou gente: matou-se meio milhar. Na segunda-feira eram já mil e quinhentos os que andavam na faina da matança. As justiças tinham fugido, o povo escondera-se, os judeus aferrolhavam as portas, enquanto os escravos acarreavam lenha para as fogueiras, os bandidos assaltavam as casas com vaivéns e escadas. Arrancavam as crianças do colo das mães desesperadas, e, tomando-as pelos pés, esmagavam-lhes os crânios tenros contra os muros. As casas escorriam sangue, que se precipitava pelas escadas vindo reunir-se em poças nas ruas. Havia um cheiro nauseabundo de carne queimada, risadas ferozes nos rostos dos pretos, os olhares terríveis na face macilenta dos frades, que pregavam à esquina das ruas. Os desgraçados corriam às igrejas perseguidos, rojavam-se nos altares abraçados aos santos e aos sacrários, e dali eram levados à fogueira arrastados pelos sicários. Na segunda-feira mataram-se mais de mil. Na terça acalmou a fúria porque já não achavam quem matar. Três dias e duas noites durou a orgia; e no fim contavam-se mais de trezentas pessoas queimadas, mais de duas mil mortas, e não se sabe quantas mulheres, chorando com amargura a sua viuvez, a sua orfandade, a sua miséria, a sua desonra."
Comparado com os métodos utilizados pela Igreja Católica - de excepcional grandeza referencial! - poder-se-ia perversa e maliciosamente dizer que os campos de concentração nazis e soviéticos primaram pela discrição e que, afinal, Hitler e Stalin não eram absolutamente destituídos de pudor ou sensibilidade. Mas em matérias tão violentamente desumanas e degradantes como estas, as alternativas são dilemáticas na apreciação das instituições: entre umas e outras, venho o diabo e escolha!...

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quarta-feira, maio 17, 2006

Legendar o silêncio icónico (4)

O masoquismo imbecil ou a prova de que o ridículo não mata.
(Chegou a invocar-se a desculpa de se tratar de um ariano bronzeado!)

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terça-feira, maio 16, 2006

A vida do lado de dentro das palavras

Todas as linhas de um texto brotam da etérea imaterialidade do pensamento, por sua vez sustentada na coeva materialidade da palavra falada, escrita ou gestual em que se erige; pensamento e linguagem são afinal os simultâneos elementos primordiais de construção existencial em que os sentimentos e emoções, ódios e afectos, crenças e razões, teorias e impressões se alicerçam, num lastro de mundividências colectivas e individuais que assim se tornam intercambiáveis por recurso à genética comunicabilidade dos signos linguísticos. A criação simbólica representa a abolição dos mudos silêncios e a instauração de universos paralelos que se interpenetram dinamicamente e se constituem como visões e perspectivações da realidade, tantas vezes conflituais e incompatíveis nos estr(e)itos quadros da interpretação e interpelação dessa mesma realidade concreta.
A diversidade sociocultural reflecte, por conseguinte, a riqueza e a diversidade de códigos e sistemas linguísticos, que modelam distintos esquemas de representação do mundo, da vida e da morte, da sociedade, do Eu e do Outro, da transcendência e da imanência... A palavra é o traço identitário de uma nação, funda a proximidade e a distância sem necessária correspondência espacial, o comum e o alheio, o conhecido e o desconhecido; estabelece a convencional fixidez da legalidade jurídica com que se disciplina e regula a desmesura e o excesso da animalidade que em nós habita; preenche o vácuo da inefável sentimentalidade e da intrínseca indizibilidade das forças que governam a physis universal; é relato e póstumo testemunho dos pretéritos egrégios que trespassaram e que por ela revivem e ressuscitam em imortal diálogo; é vínculo de presentificação da ausência, de actualização da temporalidade consumida e de antecipação projectiva no devir; é campo fértil onde germina a fecunda imaginação criadora e em que se esboça o perfil da transfiguração catártica...
Em antónimo reverso se estrutura também o avesso de tudo isso: a palavra é emergência de beligerância e violência, vil comburente do ódio, da mentira e instrumento de censória divisão; é cimento dos muros da discórdia e entropia que corrói e degenera a possibilidade do precário apaziguamento logrado; é conhecimento convertido em criminosa autofagia e arma letal de destruição terrena; é território de espiritual dilaceração e angustiada dúvida...
O universo fixa-se nos limites assinalados pela palavra, tão incontornável na sua inexorabilidade que ela subsiste ainda fora das suas margens. Tudo se joga semanticamente dentro de si e na pragmática da sua ambivalência, nada de si exclui. A palavra é a pele dos sentidos, revestimento significante com que em pensamento nos apropriamos do mundo e dos seres, nominal substituto de configuração do ôntico objecto.
Por isso, a vida também se diz e se lê do lado de dentro das palavras e a morte é o lado de fora da vida. Daí que o princípio não foi Deus, porque no princípio era o Verbo!

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segunda-feira, maio 15, 2006

«Políticos, Caciques e Outros Anátemas» - 8º Acto

Ainda bem que o preço do barril de petróleo não parece querer deixar de aumentar, dando desta forma cobertura ao verdadeiro escândalo que o clientelismo político-partidário criou nos órgãos de cúpula da GALP. Os impostos que agravam exponencialmente o preço de um litro de combustível em Portugal servem para manter o monopólio desta empresa e alimentar uma fonte de receitas que beneficia não apenas os cofres do Estado, mas também uns quantos que pela sua inutilidade parasitam esses mesmos cofres.
Assim, os bolsos do "povo" têm de beneficiar os 290 000 euros de indemnização pagos a um quadro superior da GALP em 2004, que de lá saiu para a REFER pela mão de António Mexia (um verdadeiro espírito de missão!); ou os 6600 euros mensais para o jovem rebento de Miguel Horta e Costa, que, certamente pelos seus méritos e decana experiência, ingressou precocemente nos quadros da empresa; ou os 6350 euros mensais, além de gabinete e seguro de vida (no valor de 70 meses de ordenado!), concedidos a Freitas do Amaral de 2003 a 2005, como consultor da empresa (deve ter sido importantíssima essa consultadoria!); ou os 8000 euros mensais pagos ao administrador da área do imobiliário (a fazer o quê?), o democrata-cristão Manuel Queiró; ou a contratação de um administrador espanhol com a oferta de 15 anos de antiguidade, pagamento de casa e colégio dos filhos, fora outras regalias; ou os 17 anos de antiguidade e seguro de vida equivalente a 70 meses de ordenado (Freitas não é mais do que os outros...), que se juntam a um salário de 17 400 euros por mês, a Guido Albuquerque, cunhado do ex-ministro laranja de Durão e Santana, Morais Sarmento (que curiosa familiar coincidência!); ou os 3000 euros, só pelas presenças, dados a Ferreira do Amaral por um cargo não executivo (que importância não tachista tem este tipo de cargos?), mais os 10 000 euros de PPRs - compensou o alto serviço à pátria que foi ter servido de carne para canhão do PSD em anteriores eleições presidenciais disputadas contra a candidatura do virtual vencedor Sampaio; ou os 10 000 euros de remuneração de um engenheiro agrónomo para a área financeira (na minha ignorância, nunca tinha vislumbrado a relação entre agricultura e refinação de petróleo!); ou os 9800 euros por mês pagos à especialista em Finanças que foi para o Marketing; ou os 30 000 euros que ganha o presidente da Comissão Executiva e os 17 500 euros pagos aos vogais; ou os 20 000 euros mensais auferidos por Murteira Nabo...
Nabo é o povo que valida e se conforma com estes escândalos e abastece na GALP. Com cargas fiscais tão elevadas e excessivas sobre os produtos petrolíferos, até eu, que, como o Jesus de Fernando Pessoa, nada percebo de economia, finanças ou gestão, seria bem sucedido na prossecução dos objectivos da empresa. Bendita guerra no Iraque, bendito crescimento sino-indiano, bendita instabilidade na Nigéria, bendita crise de petróleo!

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sexta-feira, maio 12, 2006

Primum vivere deinde philosophare - 1

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A ONU ou a arte de pôr raposas a guardar galinheiros

Parece não haver remédio nem esperança na construção efectiva de uma ordem mundial justa e fraterna, antes cada vez mais pautada pela desordem que germina da incompatibilidade entre os interesses em confronto e que conflituam irresolúvel, vil e violentamente entre si. Assistimos à contínua agonia do pequeno grande moribundo a que só sarcasticamente se pode chamar ainda de Organização das Nações Unidas. E isso só nos pode tornar mais pobres e temerosos do instável devir que está longe de anunciar hossanas que resgatem a humanidade da sua própria autofagia. Vale-nos que, no caminho para o precipício, só nos aperceberemos do passo no abismo no momento da queda.
Desta vez, o pesar decorre da triste notícia que foi a eleição, na primeira volta da votação, da China, de Cuba e da Arábia Saudita para o novo Conselho... dos Direitos Humanos da ONU! Ou seja, puseram-se raposas a guardar os galinheiros. O Irão e a Venezuela não lograram fazer parte de tão benemérita instituição, talvez para o escândalo não ser absoluto. Porém, pode ser que o consigam no futuro, a par dos Estados Unidos, de Angola, do Sudão, do Nepal ou de Myanmar... Isto depois de, sob proposta cubana, terem sido suspensos os "repórteres sem fronteiras" da extinta Comissão de Direitos Humanos, com o beneplácito convicto da Líbia, da Arábia Saudita, do Egipto e do Paquistão.
O descrédito assume já proporções tão indisfarçáveis, que começam a sobrar razões para, em nome da Ética que ainda houver, ouvir o canto do cisne e dar o toque a finados das Nações Unidas! Paz à sua e às nossas almas!

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quinta-feira, maio 11, 2006

Estado dubitativo - 4

Fiquei deveras perplexo, surpreendido, estupefacto, impressionado, admirado, estático e baralhado com o que Eduardo Prado Coelho escreveu no Público de anteontem, na sua coluna diária "O fio do horizonte". Sob o título "Trabalhos forçados", esta eminência da gelatinosa intelectualidade camaleónica nacional, num rasgo de lucidez e clarividência analíticas, critica o Ministério da Educação pela forma como despreza e subestima a classe docente. Por exemplo, veja-se este excerto:
«Pelo caminho que as coisas estão a tomar, assistiremos a uma barbarização dos professores cada vez mais desmotivados, cuja única obsessão passa a ser defenderem-se dos insultos e dos inqualificáveis palavrões que ouvem à sua volta. A escola transforma-se num espaço de batalha campal, com o apoio da demagogia dos paizinhos, que acham sempre que os seus filhos são angelicais cabeças louras. E com a cumplicidade dos pedagogos do ministério. Quando precisaríamos como de pão para a boca de um ensino sólido, estamos a criar uma escola tonta e insensata.»
E isto é apenas um excerto... Claro que EPC não descobriu a pólvora, pois até um mentecapto descortina intuitivamente que a ministra Lurdes e o secretário Valter dão fiel continuidade aos seus antecessores e têm a consistência político-administrativa da cera exposta a uma fonte de calor. Mas será que, ao contrário da ministerial senhora, EPC tomou conhecimento das condições de trabalho em muitas escolas? Foi uma indisposição momentânea ou houve zanga de comadres? Ou, se o tem, deixou caducar o seu cartão de militante do PS e/ou não tem actualizado o pagamento das quotas?
Algum setôr me pode tirar a dúvida?

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quarta-feira, maio 10, 2006

O dialéctico exercício do contraditório / 1 - 3ª Parte

Caro micróbio, retomo o fio da argumentação onde o tinha deixado e para a concluir.
13. Em toda a tua reflexão tens subjacente, pelo menos é isso que transparece, que a religião-ficção afronta o "corpus" dogmático da crença, como se houvesse um só cristianismo - o católico -, e não uma profusão de interpretações que originaram (e ainda originam) ainda outras tantas confissões, que nem o nazareno carpinteiro patrono é factor de ecuménico entendimento. A este propósito, lembra-te que o pior inimigo dos dogmas católicos são as próprias Escrituras, já que estas os refutam peremptoriamente, motivo por que se impôs na Igreja Católica, praticamente desde o início, que a "Tradição" (as convicções subjectivas da elite patrística) tenha uma importância igual, mas que acaba por ser superior, ao das Escrituras, que supostamente, estas sim, são a palavra de Deus.
A Igreja Católica continua a endoutrinar a sua grei através do catecismo e de textos manipulados e truncados escandalosamente, evitando a leitura directa e discutida eucaristicamente (como o fazem, e bem, outras confissões cristãs) da Bíblia, sem a desvirtuar com anotações extemporâneas. Aliás, João de Médicis, mais tarde Papa Leão X (1513-1521), numa carta dirigida ao cardeal Bembo, conforme atestou o seu contemporâneo Pico della Mirandola, resumiu há muito o pensamento mais íntimo e inconfessável da cúpula católica: escreveu o leonino papa que «Desde os tempos imemoriais que se sabe quão proveitosa nos tem sido esta fábula de Jesus Cristo». Foi um papa e não um reles cónego de província quem escreveu cinicamente esta asserção, e não era gnóstico...
14. Assim, estabeleceres um certo paralelismo entre os escritos gnósticos e as actuais produções literárias heterodoxas / heréticas é, no mínimo, forçado e discutível. Só o teu fervor religioso (ou voluntarismo?) o justifica. Além disso, os escritos dos séculos II e III não são inválidos por não terem sido escritos no século I; o Evangelho de João foi escrito em finais da primeira década do século II (por João, o Ancião, um grego cristão, e não pelo apóstolo homónimo) e com base nas memórias de João, o Sacerdote (judeu), e não é por isso que deixou de ser texto canónico.
Os critérios de selecção que tornaram proscritos os Evangelhos apócrifos são um bom mistério que daria um novo "código da Vinci", mas isso já é outra história... A afirmação que citas de Ireneu de Lyon, do "Adversus haeresis", é a prova da arrogância e arbitrariedade eclesial, que já vem dos primeiros tempos, e das mentiras forjadas para amaldiçoar os hereges. Toda a interpretação que não fosse a oficial era censurada e humilhada (mais tarde perseguida e alistada no Index); mostra-me, micróbio, uma prova de um autor gnóstico que tenha «mudado de pensamento segundo os tempos, sem ter uma única opinião estável». Essa sentença de que «preferem disputar acerca das palavras em vez de se converterem em discípulos da verdade» é testemunho imortalizado da imposição de uma única verdade, como se no joio metafórico das Escrituras se concluísse o trigo de uma só verdade. Antes não ter "a" verdade e mudar de pensamento do que, como o inenarrável Ireneu, acreditar que a Terra é o centro do Universo e tem quatro vértices (que grandes e iluminadas verdades tinha!)... E ainda citam e dão crédito a estas personagens tragicamente cómicas!
Por outro lado, foi em meados do século XX que o Concílio Vaticano II admitiu que a liberdade religiosa é um direito de qualquer pessoa, contrariando as convicções anteriores, como a do Papa Gregório XVI que, em 1832, condenou «aquela absurda e errónea opinião, melhor dizendo, delírio que consiste em garantir a todos a liberdade de consciência». Ricos papas teve a Igreja de Roma! Valeu a Ireneu ter vivido no século II, poupando-o assim às deambulações e inflexões teológicas instáveis dos seus sucessores "colegas" de fé e ortodoxia...
15. A tua avaliação da «moda da religião-ficção» não me parece, portanto, a mais correcta, rigorosa e imparcial. Se há ingenuidades religiosa e laicista, considero indesmentível. Embora a primeira seja menos sustentável que a segunda; alicerçar na «falta de cultura de fé» (ó que é isso? a tua fé?) a ingenuidade laicista parece-me simplista, redutor e um não argumento: antes, deves definir "fé"; de que tipo de "cultura" se trata; e se há só uma autêntica fé, justificando-a.
16. Mas apesar de tantas divergências contigo, amigo micróbio, acabo por concordar com a tua conclusão. Há, com efeito, uma «depauperada cultura religiosa, literária e histórica da maior parte da população, capaz de acreditar em algo pelo simples facto de o ver publicado». Mas é precisamente por isso que também há crenças e religião; e que o milagre de Fátima - um dos embustes oportunistas da instituição que defendes - e o nacional culto mariano existem, entre outras credulidades afins (confronta isso com o escrito em Êxodo 20 e 34; ou em Salmos 115, etc.). Claro que é politicamente incorrecto e especulativo defender que «os gostos do grande público (...) são medíocres»; se calhar, é por isso que há inúmeros católicos!
Chegado aqui, julgo que já estou a ser aborrecido e chato e a abusar do tempo de antena. Apesar de ter escrito mais do que o que devia e menos do que queria, e de estar ciente de que é impossível esgotar o assunto, espero que não leves a mal polemizar contigo e que, mais uma vez to digo, saibas que a nossa amizade é proporcional às nossas divergências.
Um grande e cordial abraço!

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terça-feira, maio 09, 2006

O dialéctico exercício do contraditório / 1 - 2ª Parte

Meu caro Micróbio:
Retomo no ponto onde a deixei, a réplica iniciada ontem a propósito do conteúdo do teu post "A moda da religião".
6. Concordo quando afirmas que «trata-se sobretudo de vender», bem como com a ideia de que «pode-se vender hoje o oposto daquilo que se vendeu ontem» (é o que faz a tua Igreja através de, por exemplo, concílios e encíclicas papais!). Por isso, a religião-ficção tem toda a legitimidade para descobrir o filão para vender, servindo-se afinal da mesma ambição da "ficção-religião" (católica ou outra) no sucesso obtido em tal desiderato. Não será presunção tua afirmares que a religião-ficção «não tem valor»? Já não estamos no tempo de impor censoriamente aos outros juízos estéticos e/ou éticos. Será que, só por afrontar dogmas secularmente instituídos, uma obra herética "não tem valor"?
As campanhas das editoras destes livros, por maiores que sejam, duvido que alguma vez façam sequer sombra concorrencial ao marketing, directo e indirecto, da Igreja Católica (que devia ser palestino-israelita e é romana!). "Os amores de Madalena (que os teve!) e outros, poderão bem ser títulos inventados, mas não há mácula nisso, pois a criatividade com que a igreja papal deturpa as Escrituras é difícil de bater. Já agora, mais dois títulos inventados para a tua irónica lista: "A esquizofrenia de Moisés" ou "O corcunda de Tarso", que poderiam perfeitamente figurar nos expositores de livros e outros escaparates.
7. Concordo igualmente com o virgiliano "sacra auri fames": para entender toda a moda da religião-ficção há que entender previamente a ganância da ficção-religião; é pagar na mesma moeda ou provar do próprio veneno. Não podem ser só as religiões instituídas a ter a «sagrada fome do ouro» e a submeter os crentes (ou crédulos?) a sacrificiais dízimos e penitenciais ladaínhas cobradas, com que se compram as edénicas assoalhadas celestes e eternas. Isto apesar de, com isso, se dar a Deus o que é de César...
8. Curiosa contradição: depois de defenderes que o propósito da religião-ficção é «vender bem» (a tal "sacra auri fames") o que «não tem valor», qual zurrapa "engarrafonada", admites que «nalgumas obras da literatura religião-ficção sobressai o que se pode chamar "nostalgia da fé". Embora a tua Igreja tenha, durante séculos, imposto a sua fé a ferro e fogo (estranha atitude cristã!), a fé não se impõe nem se empresta, mas pode vender-se e comprar-se! Falando por mim, se leio e escrevo de e sobre religião, não é por "nostalgia da fé": a que tive não foi escolhida, mas imposta no processo de socialização a que fui familiarmente subordinado, formatada por tradição cultural, com a força persuasiva - e catequeticamente intimidatória! - que isso implica. A penúltima coisa que me pode acontecer (a última é morrer e eventualmente ir parar ao inferno) é ter «um certo complexo de inferioridade em relação à Ciência e à Modernidade»; privilegio apenas o esforço persistente de racionalidade cognitiva, crítica e ideológica. Nunca me ocorreu ir à Igreja quando estou doente ou precisar de ser operado, pois reputo os médicos e estabelecimentos de saúde mais eficazes que curandeiros, exorcistas ou monólogos oratórios receituais; e se médicos e hospitais existem não é, presumo, por complexo de superioridade!
9. A Bíblia é uma narração apologética e não histórica, e parece que ignoras isso. Por conseguinte, ninguém inventou mais do que os autores bíblicos, sendo a ideia de "revelação divina" (tão infantilmente ridícula; valha ao menos que o ridículo não mata...) uma prévia invenção colossal e magistral, prontamente desmentida por uma rigorosa, lúcida, séria, objectiva e intelectualmente honesta exegese dos textos. Por exemplo, que dizer das profecias escritas após os acontecimentos a que se referem terem acontecido? O que dizer da ficção apologética neotestamentária criada à volta da vida historicamente concreta de Jesus?
Ninguém modificou mais os dados de fé que a Igreja a que pertences, e a Bíblia é, por si, esotérica, doutrinal e idiossincraticamente, esoterismo esse intrínseco às próprias tradições judaica e cristã.
10. O Cristianismo tem pelo menos uma semelhança com a Democracia: a maioria pode não ter razão! É o que, penso, acontece: creio que o mundo cristão, e os das outras confissões, está enganado (e a sua elite clerical engana!) há 20 séculos e falsifica a realidade. [Anteriormente, vários mitos e lendas prevaleceram por muito mais tempo, basta investigar um pouco sobre culturas ancestrais e respectivos cultos de adoração.]
Sobre isso, apenas solicito o recurso ao confronto entre conhecimento científico e credulidade religiosa, entre a prova empírica e tangível e o dogma fideísta e só tangível a uma exígua minoria já cadáver (como a vida depois da morte). Com isto, e ao contrário do teísta, não cometo a falácia da petição de princípio, nem creio que o Big Bang tenha originado Adão e a sua consorte, mesmo que tudo isso seja falso.
11. Só o Papa tem veleidades de difundir "urbi et orbi" as suas magnânimas mensagens, na sequência aliás do nominal catolicismo (= universalismo). Presunção e água bent(o)a...
12. O gnosticismo da Igreja primitiva foi um movimento de pensamento que, tal como o que veio a (de)generar em ortodoxia dominante: i) «está conectado com crenças antigas» [lendas e mitos mesopotâmicos, babilónicos, persas, caldeus, assírios, egípcios, gregos, romanos, etc,]; ii) «confluem ideias orientais [lendas sobre Baal, Hórus, Osíris, Mitra, Shiva, Baco, Ausónio, Adónis, Dioniso, Krishna, Buda, etc.], traços de platonismo [dualismos cosmológico e antropológico], juntamente com religiões misteriosas secretas». Qual a diferença significativa quanto a influências? Ou queres acusar o granito de não ser como o basalto e, por isso, não se classificar como rocha? O Sol não se tapa com uma peneira, mesmo em dias nublados... Cristianismo e Gnosticismo são ambos sincretismos!
Espero, numa terceira parte, concluir a réplica ao teu texto. Até breve e um abraço!

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segunda-feira, maio 08, 2006

O dialéctico exercício do contraditório / 1 - 1ª Parte

Caro Micróbio em segunda geração (Carlos Glaziou):
Tive o grato prazer de te conhecer num recente encontro de bloggers, em Seia, em que ambos participámos, e na conversa que tivemos ao serão, sobre religião, ficou claro que esta é uma matéria sobre a qual temos profundas divergências. Li com atenção o teu recente post "A moda da religião" e constatei que o teu fervor religioso te leva, curiosa e paradoxalmente, a censurar aquilo que defendes. Com a abertura de espírito e a tolerância que caracterizam os nossos debates privados via mail, e no horizonte da nossa jovem amizade, venho deste modo contra-argumentar e confrontar o meu ateísmo com o teu teísmo católico. Aliás, é a primeira vez que me dirijo epistolarmente a alguém desde que, há três meses, fundei a presente modesta página da blogosfera.
1. Ao contrário do que inicialmente afirmas, a «literatura da religião-ficção» não é uma moda, a não ser que as modas durem mais de três décadas seguidas (mas então já temos uma conjuntura ou tradição). Essa heresia livresca é uma prática de décadas, embora agora tenha talvez mais visibilidade: há mais editoras de livros e mais produção literária; há mais leitores (e mais hipermercados!); e uma maior divulgação cultural, graças ao aumento do mercado mediático. O sucesso do fenómeno Dan Brown apenas se limitou a trazer para a ribalta esse género de literatura; Nikos Katzantzakis, Salman Rushdie, Taslima Nasrin, Roger Peyrefitte ou José Saramago, são apenas alguns outros exemplos de uma «moda» que vem de longe e parece não acabar. Na literatura como no cinema... E ainda bem, pois a crença num Sagrado não deixa de suscitar apreensão e questionamento, evidenciando a vitalidade do debate religioso.
2. Utilizas uma forma de inferência válida conhecida na Lógica proposicional por "modus ponens", mas não extrais dela todas as consequências: afirmas que, primeira premissa, «tudo é moda»; segunda premissa (subentendida), «a literatura da religião-ficção é moda»; terceira premissa, «o que é moda passa»; concluis, portanto, que «a literatura da religião-ficção passará». A conclusão é necessária, mas parte de premissas disputáveis... Por outro lado, o "tudo" nada exclui, pois a totalidade para que remete inclui necessariamente a multiplicidade das partes, sem excepção, entre as quais a fé. Logo, e por força lógica do mesmo "modus ponens", a tua fé católica, como a literatura que criticas, também não resistirá à metamórfica dissolução na voragem de Cronos. Simples inferência lógica!
3. De modo contundente e incisivo, asseveras implacavelmente que "O código da Vinci" é «um livro que deturpa o sentido religioso autêntico [não sei o que isto seja ou se existe!] de muitos outros, é uma zurrapa de garrafão» (olha que há boas colheitas vínicas armazenadas aos cinco litros!). Não li esse famoso livro, por isso não sei se tens razão ou não, mas, meu caro micróbio egitaniense, a própria Bíblia é um livro que deturpa factos e «o sentido religioso autêntico» das próprias figuras que idolatra, operada por misteriosos redactores bíblicos e por acrescentos posteriores a estes. Por exemplo, confronte-se os livros de Isaías com os de Mateus, os Evangelhos sinópticos neotestamentários entre si, ou estes com as epístolas do sinistro Paulo... A «zurrapa de garrafão» acaba até por ser de qualidade, pois, ao menos, "O código da Vinci" deve ter a vantagem de ser uma história congruente e bem contada!
4. Dizeres que proclamar a morte da religião e promover um «laicismo galopante» é «quase o mesmo», é um subterfúgio retórico que, isso sim, fomenta o desconhecimento dos argumentos concretos e subestima (não inocentemente) o necessário enquadramento heurístico em que a ateísta proclamação se fez. É que proselitismo e filosofia não são, em rigor, «quase o mesmo». Portanto, e ao invés do que afirmaste, é imperioso dar detalhes e fazê-lo não é excessivo nesta circunstância argumentativa.
5. Escrever livros sobre assuntos religiosos, «que vendem aos milhões» (como a Bíblia!), não é proibido nem contraria a ideia freudiana segundo a qual a religião terá «o destino de uma ilusão». Freud não impede Dan Brown de escrever, mesmo que este seja adepto do pai da terapia do divã; ninguém escreve só sobre temas em que acredita. Por outro lado, ousar fazer um exercício heterodoxo de hermenêutica de dogmas religiosos, mormente católicos, não significa que se está a criar a seu gosto uma qualquer religião «prêt-a-porter» ou não - estás a ser excessivo! O "corpus" constituído das crenças católicas é já fruto do capricho de uns poucos "iluminados por Deus" (talvez uma fonte energética alternativa), de que Ireneu de Lyon foi apenas um dos testas de ferro (para não usar adjectivos depreciativos); com a particularidade de ser também um «"puzzle"» suspeito que, a julgar pelo número de crentes, impedirá Dan Brown ou outro, de vender mais! [Acharás porventura que, entre os leitores do sacrílego livro do americano, não se contam aos milhares o número de católicos?]
Voltarei brevemente à discussão... Um abraço!

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quinta-feira, maio 04, 2006

Afinal, quem é a besta?

A defesa dos direitos dos animais é uma matéria que me interessa particularmente, preocupado que estou com questões como a destruição de ecossistemas e da biodiversidade (provocada sobretudo pela poluição atmosférica e pela desflorestação), os maus tratos e/ou abandono infligidos aos animais, entre outras. Por outro lado, vivendo num país em que a matança doméstica do porco e as touradas constituem elementos de cultura, o sentimento zoófilo recrudesce, em contraste com a insensibilidade dos que se divertem em espectáculos públicos em que se paga para assistir e dos que exercem uma violência injustificável, gratuita e extemporânea sobre os animais.
Vem esta reflexão a propósito de, numa incursão que fiz pelo sítio da Associação Animal, ter tomado conhecimento de que Victor Hugo Cardinali foi visto a picar elefantes na zona dos olhos e da face com um aguilhão-gancho de metal, durante um "espectáculo" de circo (confesso que tenho algum pudor em chamar "espectáculo" a atrocidades deste género!). Confrontado com este seu comportamento aversivo, o domador terá retorquido que bateu no elefante por este se recusar a fazer o exercício exibicional, não podendo o paquiderme, no seu entender, fazer aquilo que quer, pois está em causa o respeito ao domador (?!).
Desconhecerá este senhor que o elefante não existe para se exibir em entretenimentos circenses nem para viver confinado a espaços exíguos e ser obrigado a uma itinerância errante? E que isso é extensivo a leões, tigres, focas, serpentes, etc.? Será que, na sua atitude ignóbil, Cardinali perspectiva a Natureza como um grande circo feito para diversão humana?
É minha convicção profunda que racionalidade e sadismo não são conceitos compatíveis.
Sou insuspeito para fazer esta crítica: assumo a minha condição omnívora e há circunstâncias em que admito ser concebível uma relação simbiótica ou harmónica entre o homem e outras espécies, sem que tal se revista de uma escravização bestial. Por exemplo, a domesticação de elefantes em países da Ásia. Mas de certeza que o circo não é um paradigma dessa cooperação interespécies.
Há circunstâncias em que tornar doméstico o animal não humano coincide com tornar selvagem o animal humano, não se vislumbrando quem é, afinal, a grande besta!

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quarta-feira, maio 03, 2006

Legendar o silêncio icónico (3)


O equívoco sintáctico entre a "força" laudatória e a "forca" censória!

(Consta que a agitação pela perda do título fez tremer o país e a cedilha caiu!)

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terça-feira, maio 02, 2006

A ténue fronteira entre discriminação e disparate

O fervor pseudo-reformista do Eng. José (Sócrates) Sousa continua a sua marcha imparável de medidas legislativas irreflectidas e claramente inconstitucionais (mas também, quem é que hoje liga à Constituição?).
O plano de sustentabilidade da Segurança Social do Governo contempla, entre outras medidas de alteração, incentivos à natalidade. Assim, o governo veiculou que pretende reduzir a taxa social única para os trabalhadores com mais de dois filhos, mantê-la para os que têm um ou dois filhos e aumentar essa taxa para os trabalhadores sem filhos. Ou seja, o governo dá mostras de querer proceder segundo uma discriminação positiva (mas, nesse caso, ter um filho e ter dois é equivalente?) e introduzir igualmente uma discriminação negativa ao pretender que os trabalhadores sem descendência paguem mais para a Segurança Social, do que os actuais 11% de descontos.
Será legítimo e política e eticamente aceitável que se possa introduzir na legislação tão gritante discriminação? Será que os cidadãos portugueses, mesmo os que não votaram no PS, já não podem escolher não terem filhos, e continuarem a ter os mesmos direitos dos outros? E aqueles casais que, por razões económicas ou por serem estéreis, não podem procriar? E os homossexuais? Não se estará a adiar o problema para daqui a duas ou três gerações? Estará o (des)governo a conspirar contra os fabricantes de preservativos, ou tem o Estado acções em empresas produtoras de fraldas?
Exige-se, a propósito desta decisão, que sejam dados a conhecer os argumentos objectivos, claros e racionalmente aceitáveis que estão na sua base. Desconheço quais sejam, pois não creio que possam existir...
Pena que os portugueses andem há 32 anos a eleger os do costume - e ainda por cima dando maiorias absolutas imerecidas -, indivíduos que vestem a pele de governantes para defenderem disfarçadamente no poder os seus particulares interesses e os de outros cúmplices, mesclados de demagógico altruísmo e cínica preocupação social. Pior do que os que não fazem o que sabem, são os que não sabem o que fazem...
E porque a ideia já se provou ser bem possível, é nestas alturas e com tomadas de decisão deste teor, que, aquando da votação, a Assembleia da República deveria estar... sem quorum!

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