terça-feira, julho 31, 2007

Legendar o silêncio icónico (61)

A distracção no trabalho é inimiga da produtividade!
(Será ambiguidade entre mão-de-obra e matéria-prima?)

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Ipsis verbis [7]

"Máquinas que somos, máquinas quase perfeitas a bem dizer maravilhosas, inda que frágeis, como não admirar as nossas peças, molas e válvulas e veias, todas elas animadas por um sopro que lhe parece alheio mas sai do seu próprio movimento, do arfar, dos uivos do animal, do desespero do anjo caído. (...) A curva flutuante de um seio de donzela, a provocação que é a anca do efebo ou da ninfa, tão parecidos que se confundem; a ampliação do olhar e os seus mistérios, esquivas e trocadilhos - íntima largueza do reino da alma que jamais encontrarás seu fundo, e a cor alacre arrebatada duma risada; os passos, o cetim da pele, o emaranhado dos pêlos do púbis, e a alegria loira duma cabeleira solta, desmanchada nos abraços, saindo triunfal duma cama semidesfeita."
- escritor Luiz Pacheco, "Comunidade", Contraponto, 1964

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domingo, julho 29, 2007

Desigualdades educativas

Informou o JN, na sua edição de 21 do corrente mês, que 59 colégios privados da região centro receberam do Estado 85 milhões de euros de subsídios públicos. Ou seja, apesar de as instituições de ensino privadas deverem a sua existência à livre e autónoma iniciativa de cidadãos e organizações, acabam muitas por dever a sua efectiva existência aos impostos pagos pelos contribuintes; e ainda se constituem como concorrentes dos estabelecimentos de ensino públicos...
Mas esta injustiça revela-se ainda mais grave por muitas escolas privadas serem socialmente segregadoras e, em abundantes casos, até difusoras de princípios confessionais que ferem a laicidade do Estado, por via do dinheiro público desbaratado em tais infundados e pérfidos financiamentos, como refere a notícia do periódico em apreço.
A destruição em curso da escola pública e a gradual privatização do ensino de qualidade, bem patente quer no encerramento de unidades de ensino quer nas entrelinhas do novo Estatuto da Carreira Docente, inserem-se numa estratégia mais ampla que, disfarçada de meritocrática e cinicamente pretextando a igualdade de oportunidades, agudiza e agrava as desigualdades e assimetrias sociais, não cuidando que todos partam da mesma posição - é que, antes das «oportunidades», devia estar a «igualdade»! Assim se assegura a oligárquica conjuntura em que os estudantes mais carenciados continuam longe de, à partida e à chegada, estarem em pé de igualdade com os colegas oriundos dos estratos sócio-económicos dominantes. Mais ainda num paradigma laboral em que o acesso aos bons e proveitosos empregos do mercado de trabalho se afigura cada vez mais difícil.
No hodierno mundo neoliberal, já nem a teoria de Justiça de John Rawls parece ter garantias de sobrevivência: em democracia prega-se a equidade e a igualdade, mas, afinal, há uns poucos que são mais iguais que os outros muitos! E, concluindo, quantos são os filhos de governantes e outros detentores de cargos públicos que frequentam o ensino público, a começar pelos do suposto engenheiro e ex-aluno da Universidade Independente?

Abortos

sábado, julho 28, 2007

Humores # 13

1. Dois amigos num bar, depois de umas quantas e incontáveis imperiais:
- Se, por exemplo, eu papasse a tua mulher, ficávamos amigos na mesma?
- Não...
- Bom, mas ficávamos companheiros, não?
- Não...
- Humm, ficávamos inimigos?
- Não...
- Porra! Então deixavas de falar comigo, era?
- Não...
- Então ficávamos como?
- Olha, ficávamos quites!
2. Um indivíduo vai à capital para um exame periódico de saúde.
- Você bebe? - indaga o clínico.
- Dois ou três copinhos de vinho às refeições e um uisquinho à noite... - assevera o consultado.
- E fuma?
- Dois charutinhos por dia, senhor doutor - responde o indivíduo, um pouco constrangido.
- E... como vamos de sexo? - prossegue o médico, após uma hesitante e rápida pausa.
- Duas a três vezes por mês, senhor doutor - garantiu o homem, com um ligeiro rubor na face.
- Só?! - admirou-se o médico, não sem um esgar de ironia no rosto - Com a sua idade e a sua saúde? Mais velho sou eu e chega a ser duas a três vezes por semana!
- Pois... Só que vossemecê é médico em Lisboa e eu sou padre em Aljustrel!
3. O padre finaliza o sermão: (...) e é por isso, caríssimos irmãos, que tudo o que Deus criou é perfeito.
Mas um aleijado, sentado na terceira fila, interpela subitamente o clérigo: E eu, hein? E eu?
Sem perder tempo nem o sangue frio, responde o prior: Meu filho, você é o aleijado mais perfeito que eu conheço!
4. Um homem, dirigindo-se ao Altíssimo, pergunta-lhe: Deus, porque fizeste a mulher tão bonita?
Solenemente e do alto da sua gutural voz, Deus respondeu: Para que tu gostasses dela!
Mas o homem continua a indagação: Então porque a fizeste tão burra?
E Deus, dando sinais de impaciência, respondeu: Para que ela pudesse gostar de ti...

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Em ninho de cucos / 4


Finalmente há um acólito do Vaticano que troca a excitação eclesial pela excitação litoral e decide pregar em outras freguesias, perdão, maresias... E irá o inovador clérigo para o sagrado ofício de sotaina, de mais tímidas bermudas ou em mais arrojado calção de banho? Deus o proteja de malévolas tentações face às epidérmicas visões com que se vai deparar e, ao mesmo tempo, robusteça a paciência dos veraneantes (nem na praia têm sossego!), incomodados que vão ser com os cristãos apelos à castidade e os vitupérios ao preservativo. É que o dinâmico sacerdote corre o risco de que... o afoguem!

O perjúrio liberal

Logo no discurso de tomada de posse como primeiro-ministro, o presumível engenheiro e assumido liberal disfarçado de socialista Pinto de Sousa, denotou um assertivo e desassombrado impulso reformista começando a mudança em matéria de medicamentos, qual clínico sapiente dos padecimentos nacionais. Contudo, dois anos depois de ter anunciado que as mezinhas não sujeitas a receita passariam a ser vendidas fora das farmácias, esses indisciplinados remédios estão hoje, em média, 3,5% mais caros, quando o objectivo proclamado pelo ex-aluno da Universidade Independente era o de os fazer baixar.
São, pelo menos, as conclusões da credível Deco Proteste, que já em 2006 tinha concluído que os preços aumentaram 2,8%. Como se já não bastasse o exemplo da escalada imparável do preço dos combustíveis após a sua liberalização, por aqui se vêem, mais uma vez, as fingidas e ilusórias virtudes do neoliberalismo económico reinante: quem disse que, com menos Estado, liberalizando o mercado e aumentando a concorrência, os preços descem e a qualidade dos serviços aumenta? Para quando um comprimido que cure a dispepsia da direita e a miopia liberal?

quarta-feira, julho 25, 2007

Primum vivere deinde philosophare - 57

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Perguntar não ofende!

1. Porque é que nunca se viu anunciado nos jornais: "Adivinho ganhou o euromilhões"?
2. Porque é que os aviões não são feitos com o mesmo material das caixas negras?
3. Porque é que as ameixas pretas são vermelhas quando estão verdes?
4. Porque é que não há comida para gatos com sabor a rato?
5. O que é que as ovelhas contam para dormir?
6. Até onde é que um careca lava a cara?

terça-feira, julho 24, 2007

Tooneladas de siso - 7º quilo

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Sócrates, o ilusionista

Depois do episódio dos idosos «importados» de Cabeceiras de Basto, Resende e Alandroal para actuarem como figurantes nos pálidos festejos da vitória de Pirro do PS em Lisboa, o governo de Sócrates dá continuidade a este género pérfido de propaganda enganadora: apresentando um denominado "Plano Tecnológico das Escolas" com a pompa e circunstância de discursos triunfantes captados por câmaras de televisão, foram contratados uns miúdos à volta dos dez anos, por 30 euros cada um, para ajudarem a simular uma situação de sala de aula, fazerem uns rabiscos num quadro interactivo instalado e assim convencerem a leiga e incauta opinião pública do potencial pedagógico de tal recurso.
Com esta estratégia propagandística, Sócrates evita mais assobios e vaias (o homem, não tarda, fica surdo!) que lhe lembram quão incompetente e mentiroso é; e, simultaneamente, faz passar a mensagem de que as reformas do seu governo se fazem com sucesso e se implementam placidamente no terreno, emolduradas pela satisfação dos circunstantes e com o cândido sorriso de mão-de-obra infantil.
Sócrates é um ilusionista pouco engenhoso (ainda se fosse engenheiro...), fazendo truques baratos que pretendem tornar verdade o que é essencial mentira. Este governo é uma medonha encenação de filme série B, em que se confundem os figurantes contratados com... os figurões contratantes! Haja vergonha e decência na política!

segunda-feira, julho 23, 2007

O economista de Boliqueime

Interpelado a propósito da recusa do governo regional da Madeira em aplicar a recente lei da IVG, em vigor desde o passado dia 15, o cinzento e comedido presidente Cavaco Silva proferiu a seguinte asserção: "Quando a legislação não é aplicada, os cidadãos podem recorrer às instâncias próprias, ao sistema de justiça". Mal de nós se Cavaco não existisse, pois não vislumbraríamos por nós a genialidade das suas recomendações e o cintilante brilho intelectual que irradia de cada palavra que, a custo e selectivamente, debita, qual farol a conduzir até bom porto os desorientados navegantes...
Agora a sério: quando o presidente em exercício abre a boca, ou diz a redonda e óbvia generalidade ou mete os pés pelas mãos, justificando a fraca espontaneidade do seu discurso, reflexo talvez de convicções inconsistentes e não da responsabilidade inerente ao cargo que ocupa. É que, que eu saiba, e embora seja uma "região autónoma", a Madeira está vinculada às leis gerais da nação e os cidadãos madeirenses não devem ser impedidos de beneficiarem dos mesmos direitos dos cidadãos continentais. Daí que a inépcia do algarvio inquilino de Belém se me afigure gravíssima e reveladora de que, muitas vezes, são as opções pessoais e morais dos actores políticos que obstaculizam a aplicação das leis no território nacional, gerando arbitrárias desigualdades no acesso dos cidadãos a serviços públicos básicos e de qualidade.
No caso, e em mais um assomo de autoritarismo, são as madeirenses que o arrogante Jardim coloca em desigualdade, a coberto da censurável cumplicidade (ou subserviência?) do "Sr. Silva". Mas, presidencial excelência, são as mulheres que na Madeira querem abortar que têm de recorrer ao tribunal a denunciar a ilegalidade do governo regional? Não sabe vossa senhoria que a Justiça portuguesa tem a celeridade do molusco com concha globosa em espiral, enquanto as senhoras queixosas não dispõem de mais de 10 semanas para abortar? Ou será que concebe que a gestação se prolongue ao longo dos anos; ou o aborto se faça anos após o nascimento das indesejadas crianças? Em que país e mundo vive o economista de Boliqueime?
Se o que se passa na Madeira envergonha a democracia, mais vergonhosa é a forma como são as próprias instituições (presumivelmente) democráticas, designadamente a Presidência da República, a lidar com situações insustentáveis que branqueiam os desmandos dos caciques de serviço que usam o poder para se servirem e não para servir. Não são precisas instâncias judiciais para lembrar ao presidente da República que ele é - ou pelo menos devia ser - o primeiro garante do respeito pela Constituição e pelo regular funcionamento das instituições e, logo, pela observância na aplicação efectiva das leis aprovadas na Assembleia da República, promulgadas com a sua própria assinatura e publicadas em Diário da República.
Só um povo pouco exigente dá cavaco a políticos tão pouco substanciosos!

Breves notas e diatribes (5)

1. No último debate do Estado da Nação, na Assembleia da República, José (Sócrates) Pinto de Sousa dirigiu-se ao líder da oposição repetindo-lhe que não recebe lições de quem quer que seja. Mas, senhor primeiro-ministro, desde que o senhor ingressou na Universidade Independente já todos sabíamos isso!
2. Os sinais que usamos na escrita têm imensa importância e não existem por mero capricho gráfico de alguém. Por exemplo, «pais» não é o mesmo que «país», nem um «cágado» foi visto «cagado», etc. Mas deixando a acentuação e passando agora para a pontuação, vejamos, a partir de um exemplo, como é enorme o poder semântico de uma vírgula, essa simples e pequena cauda cabisbaixa:
Se o homem soubesse o valor que tem a mulher ficaria de joelhos à sua frente.
É que estar a vírgula a seguir a «tem» é diferente de a deslocarmos para depois de «mulher», fazendo do locutor ou escriba uma pessoa grata ou um incorrigível... misógino!

domingo, julho 22, 2007

Legendar o silêncio icónico (60)

Sem equilíbrio não há felicidade conjugal!
(A paixão não move só montanhas...)

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A difícil paz

O enésimo relançamento do processo de paz para o Médio Oriente passou há dias pelo CCB, Centro Comendador Berardo, mediado por um «quarteto» que procura lograr o que tercetos, duetos e solistas anteriormente não conseguiram. Mas o que surpreende e é curioso é que, para se promover a paz, se tivesse posto Lisboa em pé de guerra: caças F16 de prevenção, navios da Marinha estacionados no Tejo, elementos dos GOE posicionados em telhados, um helicóptero da Força Aérea em trânsito, cães treinados, veículos blindados, mobilização de centenas de elementos do Corpo de Intervenção, das Brigadas de Intervenção Rápida, do Centro de Inactivação de Explosivos e Segurança em Subsolo, ruas cortadas, locais de estacionamento vedados e acessos a hoteis interditos ao tráfego...
Por este andar, não admira que, daqui a dez anos, seja um «quinteto» a mediar a procura de uma (im)possível solução pacífica para o conflito israelo-palestino; e, para simplificar estratégias de segurança, mais fácil será encerrar os negociadores... num «bunker»!

sábado, julho 21, 2007

Real censura ou disparate?

Um juiz da «Audiencia Nacional», Juan del Olmo, certamente um fidelíssimo súbdito da causa real, proibiu a venda e ordenou a retirada dos quiosques de todos os exemplares do último número da revista satírica "El Jueves" (em português seria "A 5ª feira") por um presumível delito de injúrias à Coroa espanhola: na capa aparece um cartoon em que os príncipes das Astúrias, Felipe e Leticia, estão nus e em posição sexual explícita e se põe o herdeiro do trono a afirmar que engravidar a esposa é "o mais parecido com trabalhar que fiz na vida". O caricaturista faz alusão a uma recente medida de fomento da natalidade por parte do governo de Zapatero, que prevê a atribuição de 2500€ por cada nascituro.
Nunca, em tantos anos de democracia, se fez semelhante censura em Espanha, país onde o Código Penal (ponto 3 do Artigo 490) condena a prisão quem calunie o rei ou qualquer dos seus ascendentes e descendentes. Porém, estamos perante uma situação de atentado à liberdade de expressão cometido por um sistema judicial conivente e cúmplice com o regime monárquico, pois satirizar não significa necessariamente caluniar e o contexto reprodutivo do casal real visado é associável à intenção política de incremento demográfico.
Sobejam as razões para sustentar a minha forte convicção republicana, mas, se justificações faltassem, este é mais um caso e um exemplo que vêm dar razão a quem é anti-monárquico. Então, se se descobrisse que o príncipe tinha obtido uma licenciatura «à Sócrates», não se poderia parodiá-lo? E se o rei demitisse um professor, uma directora de centro de saúde ou dissesse que a Andaluzia era um deserto, não se poderia expô-lo ao ridículo? Quem pensam os súbditos de bafientas monarquias, mesmo a que teve a graça de Franco, que uma «família real» é: aureoladas criaturas de sangue azul (?), impolutas e assépticas, sem estômago, bílis ou intestinos?
A censura é que me parece um «real» disparate e, já agora, o que pensará José Saramago deste triste episódio no seu país de adopção? Entretanto, o casal parideiro - prometeu chegar, pelo menos, aos cinco rebentos - usufrui da vantagem de não depender do trabalho para sobreviver, pois os espanhóis contribuem para a sua tesouraria; não espanta, portanto, que o cartoon em apreço não tenha inventado nada. Acho só que a posição está exagerada: tão circunspecto homem não deve ensaiar cópulas de tão arrojada postura, mas quem vê coroas, perdão, caras...
Viva a República!

sexta-feira, julho 20, 2007

Primum vivere deinde philosophare - 56

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quarta-feira, julho 18, 2007

A sonhada Ibéria de Saramago

Sou, desde os anos 80, leitor de José Saramago e um grande admirador da sua obra literária. E, desde que vive no repousado retiro insular de Lanzarote em união de facto com Pilar del Río (anteontem consumada em matrimónio), desenvolveu uma vocação apologética do iberismo, a ponto de, em recentíssima entrevista, ter desassombradamente defendido que Portugal acabará por integrar-se em Espanha e, dessa união, originar-se-á um Estado ampliado que designa de «Ibéria», composta de outras nações como a Catalunha, a Galiza ou o País Basco. Projecta, portanto, um paralelismo entre a sua vida pessoal e o destino lusitano.
Claro que o caso de Saramago contradiz, e bem, o xenófobo e chauvinista aforismo destas bandas que assegura que "de Espanha, nem bom vento nem bom casamento". Mas o excelso escritor da Azinhaga parece ignorar, na sua visão idílica do tema, que milhões de bascos, galegos e catalães lutam, pelo contrário, pela independência das suas nações, ou, pelo menos, visam conseguir o maior reforço possível das suas autonomias em relação a Madrid. Alguns até recorrem ao terrorismo para esse fim...
Por conseguinte, se concordo objectivamente com a sua qualidade e mérito literários, muito antes de em 1998 ser justamente laureado com o Nobel, já reputo de discutível a sua qualidade e mérito de profeta: por um lado, só o futuro pode validar uma profecia (e então já não andaremos no mundo dos vivos, vantagem esta, pouca séria, que é a das religiões); por outro lado, a «Ibéria» existe há séculos, apesar de dividida em dois Estados, excepção feita ao episódico domínio filipino entre os séculos XVI e XVII. E onde ficaria a capital, em Madrid ou em Lisboa? E o regime a adoptar seria monárquico ou republicano? E iria Saramago escrever em português ou em castelhano, uma vez que não existe o «iberês»?
Caríssimo e luminoso Saramago: com o respeito sincero e profundo que nutro por si e com que reverencio a sua produção escrita (coisa rara num iconoclasta como é este seu admirador), até concordo que muitas são as ocasiões em que me envergonho de ser português (país minado pela corrupção e pelo nepotismo, governado por hordas de mentirosos e de incompetentes políticos, com sistemas educativo e judicial ineptos e falidos e onde grassam graves injustiças sociais). Porém, Portugal beneficia da secular estabilidade de ser um Estado-nação, republicano e fautor de laicismo, cultural e linguisticamente homogéneo; enquanto a Espanha é uma federação de nações sob um anacrónico regime monárquico, cultural e linguisticamente heterogénea. Por isso, o país de Cervantes é uma manta de retalhos de problemática sustentação.
Para integrações já nos basta a mais pertinente de todas, a integração numa comunidade de Estados europeus, ibéricos e não só, cujo potencial de desenvolvimento pode e deve ir para além da simples união monetária. Naturalmente que, em termos económicos e de consumo, Portugal é dominado pela Espanha, mas há aspectos outros a que uma fusão de Estados deve obedecer. Com Portugal integrado em Espanha, o todo seria, inequivocamente, inferior à soma das partes, pois, como está, os nuestros hermanos já têm problemas que cheguem.
Entretanto, caro José Saramago, faça o que melhor sabe: escreva e desvende-nos idílios narrativos que, não sendo da fáctica geografia, são da prodigiosa beleza heterocósmica e estilo literário que brotam da sua genial criatividade! Bem-haja, «Ibérias à parte»!

terça-feira, julho 17, 2007

Em ninho de cucos / 3


Tecnicamente é um «terço». Na prática é, entre outros instrumentos de tortura, o objecto há séculos usado por sacerdotes católicos para iniciarem sexualmente inocentes aprendizes de litanias e fórmulas afins, sem as quais não se obtém a salvação eterna. Enquanto os petizes estão no êxtase da oração, parece que muitos padres estão no êxtase do orgasmo, mais terreno, é certo, mas igualmente redentor! Só na diocese de Los Angeles foram 508 os que se queixaram dos servos de Deus; vão receber 660 milhões de dólares (a pobreza da igreja do papa imita Jesus!), mas faltou anunciar quantas Avé Marias e Pais Nossos vão ser rezados... Coitados dos padres pedófilos: exige-se-lhes a castidade e a testosterona sobe-lhes à cabeça!

Legendar o silêncio icónico (59)

França está entregue em boas mãos!
(Algo nela faz lembrar Ségolène...)

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segunda-feira, julho 16, 2007

Fraude social

Um recente relatório da OCDE, divulgado há um mês, veio confirmar o que já se sabia: Portugal é o país da Europa onde as pensões de reforma mais vão baixar, pois vão decrescer mais de... 40%! É o efeito da aplicação das novas regras de cálculo aprovadas pelo governo Sócrates e já em vigor desde 1 de Junho passado.
Para se perceber o conteúdo do relatório e o cotejo nele feito com os países europeus, veja-se, a título de exemplo, a comparação de Portugal com outros países onde se vão verificar reduções das pensões: segundo o Eurostat, em 2005 o salário médio nacional era de 645€, enquanto na Suécia, na França e na Alemanha essa média era de 2086€, 2127€ e 2674€, respectivamente. Por sua vez, a pensão média nacional, em 2005, era de 278€ e havia 1828379 de pensionistas no regime geral da Segurança Social (85% do total de pensionistas) a ganhar abaixo de 374€.
Por outro lado, até 1 de Junho de 2007, o cálculo da pensão tinha como referência os melhores anos dos últimos quinze, mas a partir da nova lei em vigor conta toda a carreira contributiva. Ora, falar de "taxa de substituição" é falar de uma percentagem resultante do valor calculado a partir da média dos salários auferidos no período de referência e não do último salário; ou seja, falar em "taxa de substituição" sem falar do nível salarial e dos anos de contribuições que concorrem para o seu cálculo, é omitir convenientemente o que realmente importa considerar: o nível de vida das pessoas!
Assim, é sobre os que receberão pensões líquidas equivalentes a metade do salário médio que a redução é mais significativa, pelo que são os pobres que perdem mais, como este relatório da OCDE refere explicitamente. Perante isto, o ministro do Trabalho lava as mãos de responsabilidades e afirma que as implicações da nova lei só vão surgir no futuro. Isto é, a desvergonha deste governo vai levar a que a geração mais qualificada de sempre (a dos jovens de hoje) seja também a mais precária de sempre.
Em rigor, as «Novas Oportunidades» são um logro com que o governo engana milhões de eleitores eventualmente queixosos mas desatentos; e, no caso dos jovens, o futuro que se oferece tem o condão de ser um presente... envenenado!

Diálogos imperfeitos - 4

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Superbriga - 3º episódio

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domingo, julho 15, 2007

Confusão lisboeta

Finalmente terminou o processo eleitoral intercalar para a Câmara Municipal de Lisboa e a análise política dos resultados revela grandes ambiguidades. Em primeiro lugar, a democracia ganhou: doze candidatos participantes no pleito eleitoral, entre os quais dois sem apoio partidário, é sempre um exemplo de vitalidade democrática; mas a democracia perdeu: com cerca de 63%, a abstenção alfacinha reflecte o desalento, a indiferença e o desagrado dos cidadãos eleitores para com a incompetência e ineficácia dos políticos.
Em segundo lugar, o PS ganhou em termos absolutos, porque teve mais votos e ganhou uma Câmara que não tinha; mas, em termos relativos, perdeu redondamente, pois menos de 30% de votos obtidos não é um score aceitável para um candidato, como foi António Costa, que pediu a maioria absoluta como condição de estável governabilidade da Câmara. O presente resultado pode muito bem ser interpretado como penalização do desastre socrático no leme da nação, até porque Costa era, até antes desta disputa autárquica, o número dois do governo da República. Oxalá tal declínio eleitoral se mantenha e acentue!
Curiosamente, os discursos de vitória de Sócrates e Costa à frente do Hotel Altis, em cima de um camião, tiveram a ouvi-los in loco umas escassas dúzias de pessoas, onde abundavam idosos passeantes certamente recrutados em desespero pela máquina do PS (oriundos do norte do país, alguns sem saberem o que estavam ali a fazer!) e escoados para ali com bandeiras na mão a fazerem de tristes figurantes numa encenação burlesca, tão condizente com a enganosa propaganda que quer vender um governo pior que a banha da cobra...
Por sua vez, e em termos absolutos, Carmona Rodrigues perdeu, pois os 17% de votos que obteve estão longe dos 42% de há dois anos e vai deixar de ser o presidente da edilidade; porém, em termos relativos, é um dos vencedores da noite, conseguindo a segunda maior votação sem ter apoio partidário, só ultrapassado pelo PS. Muitos lisboetas terão dado a Carmona o benefício da dúvida e, até prova em contrário, consideraram-no inocente das suspeitas de envolvimento pessoal na corrupção do caso Bragaparques. O ex-presidente é uma das surpresas da contenda intercalar.
O PSD e o CDS são os grandes derrotados da noite. Marques Mendes provocou estas eleições, a meu ver de forma eticamente irrepreensível, mas foi vítima das suas opções e das de um aparelho partidário sedento de poder, deslumbrado por recentes vitórias eleitorais (embora as presidenciais e as regionais madeirenses tivessem sido autênticas vitórias de Pirro) e minado por coletes de forças entre interesses de barões na expectativa para apearem Mendes do seu lugar à frente do partido - Santana e Menezes regozijam de prazer e satisfação por esta oportunidade, pois, como diz o ditado, "há males que vêm por bem"...
A arrogante presunção e ufano egocentrismo de Paulo Portas foram pulverizados com menos de míseros 4% de votação, perdendo o único lugar de vereação que o CDS tinha e provando do próprio veneno que ele e o seu grupo de apaniguados deram a beber a Ribeiro e Castro e a Maria José Nogueira Pinto. Portas trai-se a si mesmo e esta bofetada vai deixá-lo atordoado por muito tempo (diz que vai reflectir!), mas pode ter o condão de lhe dar a humildade que não tem e fazer com que deixe de defender uma coisa e o seu contrário. É bom ver a direita reduzida a tão microscópica importância!
Helena Roseta capitalizou a notoriedade de militante socialista em ruptura com o governo e o partido e a simpatia granjeada com a dinâmica anterior da campanha presidencial de Manuel Alegre. A arquitecta foi, portanto, uma falsa independente e a sua capacidade de iniciativa e de mobilização premiaram-na com um honroso quarto lugar, com 10% dos votos. Em 2009 deverá voltar à carga...
Por fim, CDU e BE nem aqueceram nem arrefeceram, mantendo o número de vereadores eleitos em 2005, com 10% e 7%, respectivamente. Mas há um sabor a derrota em ambos, pois os dois candidatos não partidários ficaram à frente (sobretudo Roseta, que disputou o mesmo espectro do eleitorado) e parece difícil contrariarem a ideia de que terão atingido o pico de votação que podem obter em eleições: a CDU não transpõe os 10% de tantas disputas anteriores e o BE não se aproxima mais dos dois dígitos. Mas estes são dados a clarificar futuramente. Em particular, o BE merecia mais pelo excelente desempenho de José Sá Fernandes e pela sua idoneidade, a qual esteve directamente ligada ao processo que desencadeou estas intercalares.
Agora, e no meio de tanta confusão, abre-se uma nova página e, em rigor, a partir de amanhã é que começa a verdadeira campanha eleitoral para a Câmara da capital - uma campanha com a duração de... dois anos!

sábado, julho 14, 2007

Tooneladas de siso - 6º quilo

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Em ninho de cucos / 2


Confirmando que o atraso português, de décadas, não é apenas económico mas também de mentalidades, esta notícia publicada faz hoje uma semana bem podia ser anterior a 1974! E, tratando-se de finalistas de Enfermagem, impedirá a benção que receberam do arcebispo Ortiga que difundam o preservativo e assistam a abortos? Uma finalista conheço eu e, apesar de tudo, assegurou-me que remeterá os preceitos papais... às «Ortigas»!

Ainda sobre a besta

Um dos méritos da investigação histórica é desvendar com objectividade as causas de eventos cronologicamente mais ou menos distantes, funcionando como o algodão ou o azeite. E, na sequência do post anterior, a Igreja teme a História, como qualquer instituição cujo passado se escreva em ignominiosas letras de sangue, pela barbárie e sofrimento que impôs: basta invocar os factos de que é milenarmente responsável para rebater as dogmáticas teses de uma doutrina romana que se erigiu sobre um falso cristianismo.
O caso mais recente de relatos diários que nos chegam acerca das ignóbeis criaturas que povoam a empresa multinacional de ladaínhas sediada no Vaticano, vem da Argentina, onde começou a ser julgado o ex-capelão da polícia de Buenos Aires, Christian von Wernich, acusado de estar directamente envolvido em 7 homicídios e em 41 casos de rapto e tortura (o que nem é muito, se comparado com anteriores atrocidades, algumas já descobertas, cometidas por outros homicidas e pedófilos católicos, a coberto da hierarquia). Este sacerdote papista, fazendo jus à maquiavélica instituição que representa, foi uma das figuras mais importantes da ditadura militar argentina, entre 1976 e 1983, época a que os factos de que é acusado se reportam.
Enquanto as lastimosas mães choram pelos seus filhos na Praça de Maio, os crimes de Wernich, cometidos com a graça do vaticano Deus, lembram, a quem sabe, a cumplicidade da igreja romana com os regimes mais sórdidos que se possam imaginar. Com efeito, João Paulo II nomeou o cardeal italiano Laghi Pio para chefiar a Congregação da Educação Católica (uma igreja dentro da igreja, tal a importância deste dicastério). Ora, Laghi Pio foi precisamento o Núncio Apostólico na Argentina durante a ditadura dos generais fascistas e amigo íntimo de Videla e de Massera. A imprensa mundial costuma citar passagens de um discurso que o núncio Laghi Pio dirigiu na zona de Tucuman, em 1976, às forças militares argentinas especializadas em tortura e execuções sumárias, e que Wernich seguramente ouviu: "Vós, oficiais, bem sabeis qual é a melhor definição de Pátria... É-vos pedido um grande sacrifício! Obedecei, no entanto, às ordens com subordinação e coragem. Mantei a calma nos vossos espíritos... A Igreja acompanha-vos, não apenas com orações mas, também, com actos!"
Graças a Pio, as relações diplomáticas entre o Vaticano e o Estado argentino opressor (bem como o chileno governado por Pinochet) foram excelentes, tendo mais tarde João Paulo II premiado o «trabalho» de Pio com a sua nomeação para o importante cargo de Núncio Apostólico nos EUA, assim demonstrando-lhe a sua confiança. Este italiano ficou conhecido como «o homem dos americanos».
Numa igreja erigida em falsidades bíblicas, em herética doutrina evangélica que desvirtuou a cristandade primitiva e em vontade de poder inscrita em criminosa irresponsabilidade, a mais singela verdade desvela o rosto de uma besta com aparência simpática. Mas, claro, é preciso que a lucidez racional resista à fraqueza espiritual inquinada com o fel do preconceito, da superstição e da tradição.
A igreja católica é a prova viva de que Iavé... não existe!

sexta-feira, julho 13, 2007

Os desmandos da besta

O bispo Carlos Azevedo anunciou em conferência de imprensa, na sua qualidade de porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, um conjunto de reivindicações deste grémio de pesarosos e anacrónicos anciãos assepticamente trajados que, entre outras enormidades dignas de arrogantes imbecis, contempla exigências abusivas e flagrantemente violadoras da laicidade do Estado. Por exemplo, o bispo Azevedo referiu, indignado, que há dinheiro para fazer campos de futebol mas não há apoio para construir igrejas; e manifestou consternada preocupação pela baixa da natalidade, invocando a necessidade de promover políticas de natalidade.
Apesar de a hegemonia da igreja papista fazer parte de anais pretéritos, esta gente coberta de sotaina ainda tem a insolência dos tempos inquisitoriais (quem sabe nunca esquece!) ao ponto de exigir que os contribuintes paguem a construção dos seus heréticos templos, em que assentam os anafados rabos e propagam com ignomínia a pagã doutrina católica. Pois saiba o sr. Azevedo, que já tem cãs bastantes para isso, que a utilidade pública de um campo de futebol (mesmo sendo pelado ou ervado e não possua bancadas) é incomensuravelmente maior do que cem catedrais. Por que não disse quantos milhões de euros foram absurdamente enterrados no novo e sumptuoso coberto em Fátima? O que fazem às esmolas que recebem nesse hipermercado a céu aberto e fechado, o maior do país, e às recolhidas nas outras sucursais de dimensão diversa espalhadas pelo país? Querem um regime institucional e fiscal de excepção e, simultaneamente, beneficiam de indignos e infames privilégios do Estado...
Por outro lado, se estes candidatos a eminências se queixam da quebra da natalidade, então façam filhos, interrompam a meio da noite o solene ressonar na tranquilidade dos aposentos e mudem a fralda aos rebentos chorosos, embalem o berço, sujem as vestes de baba e ranho, vão a correr às urgências ou à farmácia de serviço...
Mas o nepotismo e os desmandos antidemocráticos desta estirpe de impostores não se fica por aqui: exigem que a escola pública reduza os horários das crianças - assim terão mais tempo para catequéticas lavagens ao cérebro dos inocentes petizes; exigem que as autarquias negoceiem ATL's preferentemente com as dependências e ramificações papistas (Opus Dei, Misericórdias e quejandas) - assim desbaratam comodamente a concorrência e substituem-se às vereações municipais; exigem não só mais dinheiro para betonar a paisagem com a edificação de inúteis templos, mas também para a Universidade Católica, que já é beneficiária de um injustificado subsídio estatal mais elevado que o de muitas congéneres públicas e de todas as outras privadas; e exigem o incremento das escolas privadas, sobretudo se forem oficialmente subservientes ao vaticano credo.
O rol estúpido de reclamações é extenso e nele se podem encontrar outras preciosidades negociais, como a requisição de uma solução do governo para o problema de 180 capelães hospitalares vergonhosamente pagos pelo erário público (mais de 2 milhões de euros por ano) para deambularem de cama em cama em prosélito serviço religioso, assim perturbando o sossego da convalescença e incomodando pacientes ateus e crentes não católicos.
A besta acordou e quer assustar a paz do lugar com os seus espirros... Até audiência pronta lhe foi dada pelo primeiro-ministro, com o qual acordou recuperar provisoriamente os termos da Concordata de 1940, remontando aos tempos de ditadura de tão gloriosa memória episcopal.
Enquanto este opróbrio católico se mantiver, é obsceno falar em despedimentos e supranumerários na função pública ou em congelamentos de progressão na carreira. Quando é que a sociedade acorda igualmente e percebe que o que move esta multinacional romana não é algo de substancialmente espiritual, mas a reverberação cintilante do vil metal?
Os estratagemas comerciais destes medievais malfeitores, ferozes lobos disfarçados de inocentes cordeiros, não lembrariam nem... ao diabo!

Dissipar a «névoa»

O Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa decidiu levar a julgamento, por corrupção activa, o sócio da Bragaparques, Domingos Névoa, que foi apanhado em flagrante a tentar subornar, com 200 mil euros, Ricardo Sá Fernandes e o seu irmão José Sá Fernandes, vereador do Bloco de Esquerda na Câmara de Lisboa. É a primeira vez em 33 anos de democracia que alguém vai ser julgado por semelhante crime envolvendo um eleito.
Mesmo respeitando a presunção de inocência e embora desconfiando da Justiça deste país, há que dissipar a «névoa» de culpabilidade que paira sobre o sr. Domingos. Para já, é caso para parafrasear o slogan de campanha bloquista: "O Zé faz falta", não obstante a ingratidão dos lisboetas, no próximo domingo...

quinta-feira, julho 12, 2007

Primum vivere deinde philosophare - 55

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Tanta Brisa constipa!

No defunto governo Santana-Portas, o seu inenarrável ministro das Finanças, Bagão Félix, congeminou uma interessante manobra de engenharia orçamental para obedecer ao famigerado Pacto de Estabilidade e Crescimento: propôs tornar a Estradas de Portugal numa empresa pública para contornar o défice. Mas a União Europeia e o Banco de Portugal chumbaram a ardilosa operação, pois a nova empresa carecia de 50% de receitas próprias.
Ora, à época, o PS, na oposição, criticou a artimanha do beato ministro. Porém, agora que é governo, Sócrates retoma a operação e de uma forma não menos astuciosa que a de Félix: estabelece-se uma taxa sobre os automobilistas no actual imposto, a qual se atribui à nova empresa e se considera receita desta. Afinal, é 0,3% do défice que está em causa (cerca de 500 milhões de euros). Nessa conformidade, o Conselho de Ministros abriu, em Junho, o processo de privatização da Estradas de Portugal que, se for concretizada, significará que uma empresa privada ficará com a concessão de todas as estradas portuguesas durante 100 anos (!) e beneficiando de uma renda estável paga pelos contribuintes - os 500 milhões de euros são sempre gastos, mas deixaram de contar para o défice!
A Brisa, da família Mello, surge naturalmente como a principal interessada no negócio, uma vez que já detem a concessão da maior parte das auto-estradas (com uma taxa de lucro de 52%). Portanto, durante 100 anos é provável que os portugueses estejam a financiar a empresa da família Mello. É caso para dizer que, com tanta Brisa, os condutores ainda se vão constipar!

quarta-feira, julho 11, 2007

Legendar o silêncio icónico (58)

Então e o respeito pelos Dez Mandamentos do condutor?
(Ou a qualidade dos pregos é que é fraca!)

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Superbriga - 2º episódio

No passado sábado, dia 7, houve festa e foguetório no Estádio da Luz. Mas, claro, nada tinha a ver com futebol!

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Lágrimas de crocodilo

Mais de uma semana depois e, surpresa das surpresas, o sr. Pinto de Sousa revelou ser, afinal, um homem sensível, altruísta e preocupado com o mal-estar dos portugueses: aproveitando câmaras e microfones, asseverou ter ficado "tão chocado como a opinião pública" com os casos mediatizados dos professores que, em lastimoso e crítico estado de saúde, foram considerados aptos e obrigados a trabalhar e viram recusada a reforma antecipada. Mais, num tom encenadamente sério e condoído, o primeiro-ministro valeu-se do tempo de antena para governar com sabida demagogia e anunciou uma auditoria a todas as juntas médicas da Caixa Geral de Aposentações e mudanças na legislação que regula esta área. "Casa arrombada..."
Portugal não aprende com os erros e teima em sacrificar os seus próprios cidadãos ao veneno insidioso do desleixo, da impunidade e da negligência; só o drama do desastre consumado estimula os (ir)responsáveis políticos na empenhada diligência e concretização das medidas proteladas. Neste particular, o exemplo de Entre-os-Rios representa o flagrante símbolo da triste fatalidade que é, tantas vezes, viver em Portugal.
Nos casos em apreço, quem vai ser responsabilizado e devidamente punido? Terá já o Ministério Público tomado conta das ocorrências e estará a proceder em conformidade? Onde anda metido o Presidente da República, cujo silêncio e passividade em nada contribuem para o prestígio das instituições e o fortalecimento da confiança dos cidadãos nas mesmas? E a sinistra figura que tutela a Educação: permanece ela tão sordidamente indiferente à qualidade do trabalho docente e tão persistentemente ocupada na sua cruzada pelo achincalhamento dos professores, que nenhum lamento balbucia (nem que seja em murmurante sintonia com o seu querido líder)?
Uma coisa parece evidente: foi preciso terem morrido dois docentes de forme infame para que o sr. Pinto de Sousa chore diferidas lágrimas, seguramente, de crocodilo!

terça-feira, julho 10, 2007

O precariado activo

O anúncio de projectos de investimento empresarial ou de construção de infra-estruturas, públicas e privadas, é normalmente acompanhado de um demagógico indicador particular e habitualmente inflacionado: o número de postos de trabalho que a concretização de tais projectos vai gerar. Convenientemente, porém, não se refere nem o consequente número de desempregos que potencialmente implica nem a qualidade precária do vínculo laboral dos novos empregos gerados, que são o efeito inevitável das dinâmicas concorrenciais em que se baseia a economia capitalista.
É nesta lógica do lucro a qualquer preço que o princípio da «flexigurança» parece querer impor-se, agravando a instabilidade no mundo do trabalho e enfraquecendo impiedosamente direitos e garantias básicos dos trabalhadores. Se, antes, o escravo era propriedade durável do senhor, hoje, o novo escravo é mero recurso sazonal a descartar pelo patrão quando lhe aprouver e sempre que, pretensamente, o sistema produtivo o justifique. Quando está activo, o empregado deve dedicação total ao ofício (flexibilidade, mobilidade e polivalência) com sacrifício crescente da sua vida pessoal e familiar; mas, quando está na situação de desempregado, fica entregue à sua sorte e a critérios de recrutamento tantas vezes indignos e obscenos, bem como à chantagem de ofertas salariais niveladas por baixo e longe das mais-valias que ajuda a realizar.
Actualmente, a precariedade laboral é um facto social tido como consumado e materializado, por exemplo, por contratos individuais de trabalho a termo certo e pagos a recibos verdes, sem direito a subsídio de desemprego ou por doença, nem beneficiando do direito a subsídio de férias e de Natal. E, embora o regime em que se colecta coloque este tipo de trabalhador no grupo de "trabalhadores independentes", ele não passa de mais um utensílio nas mãos do contratante, com horários dilatados e hierarquias laborais a cumprir. Além disso, em muitos casos é beneficiário permanente da entidade para quem presta a actividade.
Portanto, e em rigor, cada vez mais se revela desajustado da realidade falar em "população activa"; melhor será falar em «população desactivada» e em «população superactiva». Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é mercado!

segunda-feira, julho 09, 2007

Humores # 12

1. Dois leões fugiram do Jardim Zoológico: um deles foi para um bosque e o outro foi para o centro da cidade. Uma semana depois, e para surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que fugira para o bosque. Voltou magro, faminto e alquebrado. Foi preciso pedir a um assessor do Presidente da Câmara que arranjasse vaga no Jardim Zoológico, outra vez. Assim, o leão foi reconduzido à sua jaula.
Passados oito meses, o leão que fugira para o centro da cidade acabou também por ser recapturado e, com a cunha do costume, voltou para o Jardim Zoológico. Só que este felino, ao contrário do outro, veio gordo, sadio, a vender saúde.
Mal ficaram juntos de novo, o leão que fugira para o bosque perguntou ao recém-chegado:
- Como é que conseguiste ficar na cidade este tempo todo e ainda voltar com esta saúde?
O outro leão, então, explicou:
- Enchi-me de coragem e fui esconder-me numa repartição pública. Cada dia comia um funcionário e, acredita, ninguém dava pela falta dele.
- E porque voltaste então para cá? Comeste os funcionários todos?
- Nada disso... Funcionário público é coisa que nunca mais acaba. Eu é que cometi um erro gravíssimo: tinha comido o director-geral, um director de serviços, um chefe de divisão, um chefe de repartição, um chefe de secção, diversos funcionários e ninguém deu pela falta deles! Mas, no dia em que eu comi o funcionário que servia o café... descobriram tudo e apanharam-me!


2. O mundo investe cinco vezes mais em remédios para virilidade masculina e silicone para mulheres do que na cura da doença de Alzheimer. Daqui a alguns anos, teremos anosas senhoras de seios proeminentes e idosos senhores de pénis erecto, mas... não se vão lembrar para que servem!


3. Duas amigas encontram-se no céu e uma pergunta à outra:
- Como morreste?
- Congelada…
- Ai que horror! Deve ter sido horrível… Como é morrer congelada?
- É péssimo: primeiro são os arrepios, depois as dores nos dedos das mãos e dos pés, tudo a congelar; mas, depois, veio um sono muito forte. E depois perdi a consciência. E tu, como morreste?
- Eu? De ataque cardíaco. Eu estava desconfiada que o meu marido me traía. Um dia cheguei a casa mais cedo. Corri até ao quarto e ele estava na cama, calmamente a ver televisão. Desconfiada, corro até à cave, para ver se encontrava alguma mulher escondida, mas não encontrei ninguém. Corri até ao segundo andar, mas também não vi ninguém. Subi até ao sótão e ao subir as escadas, esbaforida, tive um ataque cardíaco e caí morta.
- Oh, que pena... se tivesses procurado na arca congeladora, estaríamos ambas vivas!

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domingo, julho 08, 2007

Superbriga - 1º episódio

Na próxima época, o máximo a que Benfica e Sporting poderão aspirar é ao 3º lugar, pois atrás do FC Porto vai estar a Polícia Judiciária!

Em ninho de cucos / 1

Em tempos remotos, em que se desconheciam processos de inseminação artificial, milagre seria Maria ter engravidado e parido (o que aconteceu mais de uma vez!) e, mesmo assim, ter continuado... virgem! Pouco dados a orgasmos, há idiotas que a reverenciam como "imaculada", daí talvez a "fé esclarecida". Moral da estória: fornicar perturba o esclarecimento!

sábado, julho 07, 2007

Legendar o silêncio icónico (57)

Regressou o salvador e maior português de sempre, Salazócrates!
(A idade é como o algodão e ele anda por aí...)

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Ipsis verbis [6]

"Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações. A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina do acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse. A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio."
- Eça de Queiróz, in «Distrito de Évora» (1867)

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quinta-feira, julho 05, 2007

Legendar o silêncio icónico (56)

Ou a hierarquia segundo José Sócrates!
(Há que premiar o mérito... do bufo e do adulador!)

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O país descartável

O PS de Sócrates operou uma clara ruptura com o que, como matriz ideológica, é a essência do socialismo, a saber, uma teoria política democrática, republicana, laica, reformista, conciliadora e socialmente participativa. Pelo contrário, o PS é hoje uma pálida sombra do partido fundado há 34 anos em Bad Münstereifel, perfilhando um discurso e uma prática governativos que não congregam nem mobilizam vontades, mas antes faz a apologia da lógica capitalista que, no lugar de pessoas concretas, vislumbra neoliberalmente meros números e índices estatísticos, que governa contra os cidadãos e fomenta a suspeita e a desconfiança delatórias que se erigem numa cidadania passiva e cobarde. Ou seja, o PS incorpora hoje a atitude política infame e a moral abjecta que combateu originalmente e pretextaram a sua fundação.
Sócrates é arrogante, diletante e incompetente, rodeado por sequazes escolhidos a dedo e que instigam a propaganda da resignação conformista: paguem os impostos, denunciem até as vossas mães, desenrasquem-se, estejam quietos, sofram mas confiem, não chateiem... Na esperança do esplendor da amnésia, o governo PS faz a manipulação dos indicadores estatísticos, a gestão conveniente dos adiamentos, força reformas congeminadas na ignorância do conforto exangue dos gabinetes, estabelece a proveitosa contabilidade da crise, impõe-se como vanguarda da solução, governamentaliza a política e a justiça, remete os cidadãos para a ilusão da confiança e o limbo da espera...
Sócrates usa a democracia para fazer a subversão simultânea da democracia como regime e do socialismo como ideologia; e, pondo o roto contra o nu, o privado contra o público, divide para reinar e alargar o oco centrão sem ideias e desprovido de linhas consistentes de orientação política. Sócrates matou o socialismo, mas o pior é que é o país que se vai extinguido numa agonia social que, a espaços, quebra com o ruído das manifestações o silêncio da comiseração conformista. Sócrates reabilitou a solução migratória para milhares de portugueses, empurrando-os para circuitos de emigração, mesmo para os que fazem a escravização laboral, tal é o desespero.
Sócrates é um falso engenheiro, mas não lhe faltou engenho para enganar um povo que, lamentavelmente, lhe deu maioria absoluta; não lhe faltou engenho até para arranjar uma licenciatura. Como Barroso, Sócrates vai servir-se do país, qual objecto descartável, como trampolim para voos mais altos. Mas Portugal não se importa, é o país das vitórias morais e de consolação, enredado no seu masoquismo genético!

Primum vivere deinde philosophare - 54

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quarta-feira, julho 04, 2007

Primum vivere deinde philosophare - 53

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Bushices jurídicas

Mais isolado, sempre sumido de inteligência e náufrago das intempéries internas e externas que ele próprio instigou, George W. Bush usou esta semana o seu mando constitucional para comutar a pena de prisão de dois anos e meio aplicada ao seu obscuro ex-conselheiro Lewis Libby, condenado por perjúrio e obstrução à justiça no âmbito de uma investigação envolvendo a identidade de um agente secreto da CIA. Qual mafioso exemplar na prática de nepotismo, o presidente norte-americano não excluiu mesmo a hipótese de conceder um perdão total a Libby, por considerar que este foi sujeito a uma pena "excessiva".
Ora, enquanto governador do Texas, o actual inquilino da Casa Branca notabilizou-se pela aplicação recorde da pena capital, sem piedade, concessões ou indultos. Ele é, portanto, responsável moral e indirecto por milhares de vítimas que lhe sujaram as mãos e a honra de sangue. Não foi Bush capaz, então como agora, de ter um vestígio de elevação ética e atitude humanista para considerar a pena de morte, essa sim, "excessiva". Portanto, a comutação da pena não está num presumível "excesso", mas num favorecimento gerado de tenebrosas cumplicidades com o arbitrário selo aparente da amizade.
O comportamento político de Bush é tão miseravelmente venal, que até a pena de morte se afigura demasiado branda para o admoestar pelos males irremediáveis que já causou. Em rigor, não há hoje nada mais "excessivo" do que esta criatura que só o umbigo de um povo estúpido e voltado para si poderia presentear ao mundo! "God bless America!"

4th of July

Os Estados Unidos celebram hoje o seu dia nacional. Porém, os genuínos apologistas do cosmopolitismo, da democracia e da justiça social, em todo o mundo, não têm motivos para qualquer festividade. O 4 de Julho devia ser dia de luto mundial, jornada de lamento global pelo sistema de dominação unipolar com que os EUA instauraram há décadas a desordem mundial e, com isso, têm tornado o mundo mais perigoso e onde é mais difícil subsistir.
Os episódios recentes comprovam-no invariavelmente: há um mês, George Bush viu aprovado um pedido suplementar de 120 milhões de dólares para as guerras do Iraque e do Afeganistão. Ora, os custos destes dois conflitos sem fim à vista já consumiram 600 mil milhões de dólares, valor que, segundo a ONU, equivale a 42 vezes a verba necessária para acabar com a fome no mundo; a 95 vezes o custo anual das principais vacinas para todas as crianças no mundo; a 5,5 vezes a dívida externa dos países mais endividados; a 3,5 vezes o orçamento da União Europeia em 2006...
Este é o polícia do mundo, que beneficia na sua hegemonia em lançar o caos político e em desestabilizar étnica, social e economicamente as outras regiões do planeta; que se compraz em ter cães-de-guarda (a CIA, a NATO e países alinhados, como a Inglaterra, a Austrália ou a nova aquisição polaca) a rosnar a todos os que procuram emancipar-se do terrorismo norte-americano e do parasitismo do FMI, da OMC ou do Banco Mundial. Este é o polícia do mundo que diz defender e difundir a democracia e a paz, usando-as como malévolo pretexto para invadir unilateralmente o Iraque com base na mentira forjada e colossal e ao arrepio do Direito Internacional; afinal, invocou os mesmos motivos aparentes que justificariam, de igual modo e por maioria de razão, a intervenção militar na Coreia do Norte ou no Irão, na Serra Leoa ou em Myanmar (Birmânia), no Paquistão ou na Arábia Saudita...
Oxalá se concretize, e o mais rapidamente possível, o princípio fixado pela História de que não há Império em ascensão que não tenha sido devorado pelo bálsamo do declínio!

terça-feira, julho 03, 2007

Primum vivere deinde philosophare - 52

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O terrorista americano

Raptos, prisões secretas e atentatórias do Direito Internacional, escutas ilegais, violação de correspondência, tentativas de assassínio de adversários políticos, espionagem, torturas à revelia da Convenção de Genebra e todo o tipo de conspirações constituem as chamadas "jóias de família" da CIA, um conjunto de documentos que, por deixarem de ser secretos, começaram a ser publicamente divulgados no passado dia 25 e revelam algumas das acções clandestinas encobertas e levadas a cabo pela agência norte-americana entre 1953 e 1978. São 25 anos de atrozes ilegalidades condensadas em 693 páginas que testemunham o terrorismo de Estado praticado em permanência pelo "polícia do mundo". Mesmo assim, muitas partes das "jóias de família" (que estranha e provocatória designação!) estão omitidas, pelo que nem tudo foi tornado público.
Um blogue do New York Times vai analisar a informação agora trazida a lume. Quem quiser pode nele acompanhar as provas de quão perigoso é o «amigo americano» e ver provas documentais de como se faz a defesa da democracia e se concretizam as liberdades individuais e se respeita a dignidade humana na perspectiva do diabólico Tio Sam. Manter a hegemonia imperialista custa muito... sangue!

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segunda-feira, julho 02, 2007

Compromisso divorciado

António Carrapatoso tem sido o rosto permanente do «Compromisso Portugal», que mais não é do que um grupo de pressão que pretende subordinar o poder político ao poder económico e sobrepor o interesse privado ao interesse público. Na verdade, o compromisso destes empresários não é com Portugal, mas sim com a expansão dos seus negócios até às áreas ainda sob tutela directa do Estado, pelo carácter essencial que possuem, como os serviços públicos de educação, de saúde, de justiça ou de segurança social, nas quais os lucros estão garantidos e, simultaneamente, a concorrência é difícil.
O que o «Compromisso Portugal» procura, com estas aparições episódicas nos média desde 2004, é instalar a instabilidade laboral e social que beneficia e tanto jeito dá a uma parte da classe empresarial, mediante a apresentação de propostas liberais que ferem os mais elementares direitos sociais e do trabalho. A escolha do Estado como alvo explica-se, paradoxalmente, pela deficiente capacidade de iniciativa que essa mesma classe de intimidados empresários revela face ao mercado globalizado e à competitividade internacional que apregoam e dizem defender.
No limite, o que está em causa é o lento desmantelamento neoliberal do Estado Social, em domínios antes tidos como intocáveis, e sustentado em ideias que subvertem princípios basilares do regime democrático: privatização total da educação, da saúde ou da segurança social e o consequente despedimento de milhares de funcionários públicos tidos como portugueses parasitas, inúteis e de segunda... É todo um modelo de sociedade capitalista, pura e dura, que se procura introduzir em conjugação com a desadequada flexigurança (a realidade laboral na Dinamarca está nos antípodas da nossa) e outras recomendações "à OCDE" favoráveis, numa conjuntura em que as fronteiras entre o que é serviço público de acesso universal e o que é produção privada orientada para o lucro são cada vez mais difusas.
Seria bom que estes lobos com pele de cordeiro referissem, por justiça, os muitos sectores de actividade em que o público é melhor que o privado (começando nas instituições de ensino superior). E quererá Carrapatoso privatizar também o ar que respiramos? Nunca um «compromisso» esteve tão divorciado do que deve ser a justiça social na redistribuição da riqueza e o combate às escandalosas assimetrias sociais e, assim, com amigos destes ninguém precisa de inimigos!

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Legendar o silêncio icónico (55)


Perfeito civismo com carros tão alinhadinhos!
(Ou o planeamento rodoviário feito por otários!)

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domingo, julho 01, 2007

Um prémio órfão

Por decisão superior do Ministério da Educação, a Escola E. B. 2, 3 Padre Agostinho Caldas Afonso foi extinta pela DREN (da delatora, perdão, da directora Margarida Moreira) em Abril passado e, por conseguinte, fechará as portas em Agosto, no fim deste ano lectivo, e os professores serão entretanto colocados noutro estabelecimento de ensino. Contudo, e isto é que é curioso, o Conselho Executivo recebeu há dias o aviso de que esta escola de Pias, em Monção, tinha sido escolhida para receber o «Prémio Iberoamericano de Excelência Educativa 2007», atribuído por um organismo internacional não governamental.
Assim, em Setembro, o Conselho Iberoamericano para a Qualidade Educativa aguarda que os dirigentes da escola compareçam na cerimónia oficial de entrega do prémio, no Panamá. Ora, se os responsáveis da escola minhota aí se deslocarem, receberão um prémio representando uma escola que... já não existe!
Este é mais um exemplo demonstrativo de como o incompetentemente severo e ignaro Ministério da Educação deste país está a destruir o ensino público por ignóbeis razões economicistas e em nome de falsas preocupações com a qualidade educativa. Em Portugal, o sistema educativo continua a ser visto como despesa e não como investimento.
Será que não há bufos fora do PS para denunciar esta gente?

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