segunda-feira, abril 30, 2007

Humores # 6

É domingo, o convento está quase vazio e pouco falta para a missa das 9.
Dois padres vão tomar banho. Já estão nus quando dão pela falta de sabonete que a pressa fez esquecer. Diz então um deles:
- Vou num instante ao meu quarto, que fica aqui mesmo ao fim do corredor, e trago dois sabonetes.
E, juntando a fala à acção, corre para o quarto, tão despido como quando veio ao mundo. Quando está de volta, com um sabonete em cada uma das mãos, dá de caras com três freiras, já a caminho da missa. A primeira coisa que lhe ocorre é fingir-se de estátua. As freiras olham, espantadas e em doce contemplação, a estátua desconhecida e comentam:
- Que figura linda, perfeita!
Uma delas, de olhar fixo e absorto na genital protuberância do padre, resolve dar-lhe um puxão. A reacção do padre à dor provoca a queda de um sabonete. A freira apanha-o e conclui para as outras:
- Afinal, não é estátua nenhuma. É uma máquina de sabonetes!
A freira mais próxima também quer: outro puxão, nova dor e o segundo sabonete no chão...
- Que coisa gira!!! - exclamam, felizes.
A terceira freira, não querendo ficar atrás, também dá o seu puxão e... nada! Puxa de novo e nada; outra vez e nada; e puxa e nada; e puxa e puxa e puxa e puxa, puxa, puxa, puxa, puxa, puxa, puxa... E conclui maravilhada:
-Deus seja louvado! Também dá gel de banho!

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Legendar o silêncio icónico (43)

Ficou tudo suspenso!
(Aparentemente só faz mal ao joelho...)

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Primum vivere deinde philosophare - 43

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sexta-feira, abril 27, 2007

O limbo dos bimbos

Após vários meses de exaustiva reflexão e aturado esforço intelectual, e certamente iluminados pela luz da inspiração divina, algumas dezenas de vaticanos teólogos convenceram-se que, afinal, o "limbo"... não existe! Para quem não sabe, o "limbo" é um lugar na santa arquitectura do edifício celeste, um andar algures entre o "céu" e o "inferno", que serve de destino para os fetos, bebés e crianças que morreram sem terem antes recebido o sacramento do baptismo. Agora, com tão genial descoberta, os infelizes petizes vão direitinhos para o paradisíaco "céu".
Quem não deve estar nada satisfeito com tal conclusão são o Papa Gregório e "santo" Agostinho que, no século V, instituiram oficialmente na tradição do credo católico a ideia do «pecado original originante», segundo a qual, os filhos, ao nascer, herdam os pecados dos pais, desde Adão e Eva. E tudo por causa de uma frugal maçã! Assim se teorizou a existência do "limbo", uma espécie de não-lugar entre os andares infernal e celestial.
O "limbo" sofreu obras de restauro sob a direcção teológica de "são" Tomás de Aquino, no século XIII, conquistando o estatuto de assoalhada em espaço ganho ao "inferno". Mas muito espaço não era preciso, uma vez que cada criança não media mais de metro e meio... Chegados ao século XX, o Papa Pio X garantiu a pés juntos que o "limbo" existia, comprovando-o mesmo com a apresentação dos mais variados dossiês contendo a identidade dos seus pequenos residentes.
Porém, a existência do "limbo" nunca foi pacífica, dado o regime de «apartheid» (pré-)celestial: se o infeliz fosse índio, nascesse e morresse em plena selva sem nunca ter contactado com o divino verbo, nunca "são" Pedro lhe franquearia as portas do "céu". No máximo, ficaria com um lugar definitivo no "limbo", pois o canal de distribuição da papal Igreja Romana não fazia entregas naquelas remotas áreas da Terra, pelo menos antes dos Descobrimentos... Enfim, um escandaloso gesto de discriminação e ostracismo! Por outro lado, o "limbo" tornava-se uma espécie de subcategoria do paraíso para tantos padres pedófilos, não só os de Boston como os de outras paragens...
Daí que Bento 16, e a meu ver com grande inteligência e sapiência, mas também com algum peso na consciência, se sentiu na obrigação de rever a qualidade ontológica da existência do "limbo" e, vai daí, proclamou a sua extinção, tantos séculos depois (não há bem que sempre dure, mesmo que sagrado!). O actual ocupante do trono de Pedro terá também vislumbrado a hipótese grave de o "limbo" se traduzir numa suspensão dubitativa de Deus em colocar os cadavéricos putos na vida ou na morte eterna, e, como se sabe, Deus é perfeito e, portanto, não pode ter dúvidas nem sofrer a corrosão dos dilemas. Agora o problema deixou de se colocar, afastando a decisão da área jurisdicional do supremo arquitecto "nosso senhor".
Contudo, outros problemas se levantam: se era difícil aceitar que uma inocente criança tivesse um tão cruel destino em tão indecidível e nebuloso lugar, por causa da maçã, agora pode aceitar-se que a salvação se pode alcançar sem o baptismo e o "inferno" já não é o que era! Além disso, católicos (os praticantes e os outros) e não católicos vão passar a concorrer em pé de igualdade pelas limitadas vagas do "céu", do "inferno" e do "purgatório". E só Deus sabe como estes dois últimos, sobretudo, estão sobrelotados...
Como podiamos nós continuar a viver em tão pungente, assombrosa e existencial dúvida acerca da existência do "limbo"? Viva o Vaticano e o Papa, tal é utilidade e a pertinência epistemológica das suas teses, conselhos e conclusões!
Agora a sério: a teologia católica é mais que uma dantesca «divina comédia» - é uma grotesca divina paródia e vale-lhe que o ridículo nem sempre mata (os animados séculos da Inquisição pertencem ao passado)! Podemos ter ficado sem o "limbo", mas continuamos a ter bimbos!

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quinta-feira, abril 26, 2007

Manifesto contra o fecho da UnI

Não se percebe a razão do encerramento da Universidade Independente, pois, como se demonstrou, está muito mais à frente que qualquer outra universidade. Senão, vejamos:
- está aberta nas férias do Verão;
- passa diplomas aos Domingos;
- assumindo um louvável e nobre princípio humanista, aceita candidatos sem documentação comprovativa das habilitações, confiando na boa fé dos candidatos;
- maximiza a potencialidade científica dos seus docentes, ao colocá-los a reger 4 cadeiras (ao mesmo tempo que o regente é assessor no mesmo Governo onde um dos alunos é Secretário de Estado);
- permite que uma mesma pessoa, num só ano, faça duas licenciaturas;
- convida os seus antigos alunos, que nunca conheceram, a leccionarem na instituição;
- estabelece planos de curso pessoais «ad hoc», sem os documentar, para poupar nos custos do papel e impressão;
- possibilita a apresentação de teses finais sem que as mesmas fiquem guardadas no arquivo a ocupar espaço e recursos;
- forma alunos que, no futuro, ascendem a primeiros-ministros.
Como justificar o encerramento de uma universidade assim, cujo mal é, pelos vistos, confiar nas pessoas, poupar nos custos e maximizar os recursos? Juntemo-nos e lutemos contra o encerramento da UnI. Passem este mensagem até chegar às mãos de Mariano Gago e pode ser que ainda consigamos evitar o pior.

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O 26 como o 24 de Abril

O Eurostat divulgou recentemente dados oficiais que revelam que, entre 1995 e 2005, as assimetrias sociais diminuiram no conjunto de países da União Europeia (de 5,1 para 4,8), ainda que tenuemente; enquanto em Portugal aumentaram de 7,4 para 8,2. Aliás, o nosso país é o campeão das desigualdades.
Como se isso não bastasse, o governo dito "socialista" do presumível engenheiro Sr. José de Sousa dá continuidade às políticas mais activas de liberalismo económico, cujas consequências nefastas nem os milionários fundos europeus invertem ou disfarçam: é a promoção dos baixos salários, é a precariedade laboral, são os despedimentos, é a inércia face à morosidade e eficácia da justiça, é a destruição da qualidade do ensino, é o encerramento de serviços públicos fundamentais (centros de saúde, valências hospitalares, escolas, esquadras de polícia), num rol tristemente extenso de medidas socialmente penalizadoras de tantos direitos adquiridos, qual barco com rombos que tornam inevitável o naufrágio. E dizem-se o pseudoengenheiro e o catedrático presidente consternados com o baixo nível de qualificação dos portugueses...
No meio deste inqualificável ataque de direitos básicos fundamentais, queixa-se Cavaco Silva do défice de participação política dos mais jovens, apelando para que não se resignem. O presidencial senhor critica, inclusivé, a repetição ritualista com que a classe política celebra o Dia da Liberdade, sem propor alternativas e quase se excluindo de tal grupo. Coragem para tamanha desfaçatez é coisa que não lhe falta!
Paradoxalmente, não é tanto o ressurgimento de pontuais saudosismos nacionalistas que fazem perigar a democracia portuguesa, mas sim os políticos (governantes, autarcas e demais titulares de cargos públicos) que, em democracia, os portugueses têm eleito, responsáveis directos que são por fenómenos de corrupção, caciquismo, nepotismo, impunidade político-jurídica e destruição do sector público. Cavaco afirmou ontem, no seu discurso na Assembleia da República, que "ninguém é dono do 25 de Abril nem proprietário da democracia"; só lhe faltou acrescentar: "e muito menos os políticos"! Será isto a verdadeira «cooperação estratégica»?
Claro que, ao elegê-los, o povo distraído deste país teima em masoquistamente persistir no erro, provando que a democracia não deixa de ter vicissitudes várias, como o facto de tantas vezes a maioria não ter razão. Para quê comemorar o 25 de Abril, se o 26 é igual ao 24?

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terça-feira, abril 24, 2007

Legendar o silêncio icónico (42)

Vinte cinco de Abril: 1974 - 20??
(Só as injustiças e as assimetrias perduram...)

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O inferno são os outros

Foi aprovada recentemente uma proposta da Alemanha que visa proibir, na União Europeia, teses negacionistas do Holocausto nazi, proposta essa que teve a oposição da Irlanda, do Reino Unido, da Dinamarca, da Suécia e da Finlândia, que invocaram o pertinente argumento de essa iniciativa germânica violar a liberdade de expressão.
Com efeito, é indiscutível que a «shoah» foi uma medida genocida e bárbara que industrializou a morte e radicou na patológica futilidade de concepções etnocêntricas, eliminando metódica e selectivamente milhões de pessoas com base em torpes critérios discriminatórios de origem étnica, racial, cultural, religiosa, inclinação sexual, etc.; é indiscutível que a existência de correntes histórico-ideológicas negacionistas instrumentaliza a prática democrática para veicular e salvaguardar a prática de proselitismos adversos e inimigos da democracia; como é inegável que o incitamento à xenofobia, ao chauvinismo, ao racismo e a ódios étnicos são actos ética e moralmente censuráveis.
Porém, há já muitos países democráticos, tolerantes e defensores dos direitos humanos, que punem legalmente o incentivo e as prédicas ostensivas de tais idiossincrasias socialmente nefastas e, por outro lado, é preciso não esquecer que querer proibir teses que negam a "solução final" nazi pode ser contraproducente, por ter o efeito perverso de vitimizar e reforçar a radicalização de tais concepções, violando o princípio democrático supremo da liberdade de expressão e de opinião. É que a fronteira entre delito de opinião e divergência política é demasiado ténue e ninguém pode contornar a sombra que de nós se projecta...
Outras objecções ainda se poderiam colocar e não foram prudencialmente consideradas: por exemplo, não terá o Gulag comunista cometido as mesmas atrocidades e não terão os seus milhões de vítimas um equivalente estatuto moral? Não se estará a estabelecer artificialmente escalas comparativas destituídas de rigor ou equidistância nos juízos éticos que se fazem, e assim discriminar barbáries mais próximas no que as assemelham do que nas diferenças que as distinguem? O terror nazi fascista foi mais criminoso do que o terror soviético comunista?
Temo que, às vezes, sob o pretexto de motivações filantrópicas e humanistas, se cometam graves injustiças irreflectidamente assumidas, tornando a emenda pior do que o soneto. Isto porque o inferno há-de ser sempre o(s) outro(s) e a estupidez humana um defeito sem remissão!

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sexta-feira, abril 20, 2007

Humores # 5

Um cego entra num bar de lésbicas, senta-se ao balcão e pede uma bebida. A bebida chega e, depois de algum tempo, o cego grita:
- Vou contar uma piada de loiras!
A mulher ao seu lado diz:
- Já que és cego, vou-te avisar de 5 coisas antes de resolveres contar a piada: 1.ª) O barman é uma mulher loira; 2.ª) O gerente é uma mulher loira; 3.ª) Eu sou uma loira de 1, 75m e 90kg; 4.ª) A mulher ao meu lado é uma loira profissional em karaté; 5.ª) Do teu outro lado tens uma loira professora de Kung-Fu. Ainda queres contar a piada?
O cego responde:
- Não, deixa lá... Se vou ter de explicar 5 vezes, desisto...

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Primum vivere deinde philosophare - 42

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quinta-feira, abril 19, 2007

Breves notas e diatribes (3)

1. Democracia ao cubo
Enquanto as democracias consolidadas se confrontam com preocupantes índices de elevada abstenção em sufrágios, na jovem democracia timorense as eleições registam níveis de afluência tão retumbantes ao ponto de o número de eleitores que votaram exceder o número de eleitores recenseados (houve mesmo quem tivesse votado três vezes na primeira volta das presidenciais em curso). Timor é uma democracia ao cubo!

2. O bom samaritano
Após duas décadas de governação, Cavaco Silva encarna agora o papel de Presidente da República e, qual bíblico bom samaritano, mostra-se preocupado com os problemas de exclusão que afectam milhares de portugueses. Das três uma: ou tem a consciência pesada de, em tempo próprio e num passado recente, ter contribuido para tal problemática; ou desconhece o sentido das oportunidades, brincando o jogo da caridosa compaixão em tempos de austeridade que ele própria apoia e sustenta; ou finge julgar que a pobreza se combate com passeios pelo país, a que chama "roteiros", e não com medidas adequadas e bem distantes das que têm sido implementadas.


3. O super-gestor
Pina Moura vai cessar as funções de deputado na Assembleia da República, para ocupar um cargo na administração do grupo Media Capital, que irá acumular com o de presidente da Iberdrola Portugal (que ocupa desde 2004). Devo confessar que pensava que este socialista de Seia já não andava na política, pelo que é caso para dizer: agora que não faz falta nenhuma, é que vai embora?

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quarta-feira, abril 18, 2007

Legendar o silêncio icónico (41)

Terá sido projectada pelo «engenheiro» José Sócrates?
(Ou os pequenos erros já vêm do curso?)

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Novas alarvidades

O governo do engenhoso pseudoengenheiro José de Sousa congeminou, via Ministério da Educação, uma iniciativa que tem por objectivo responder aos sofríveis índices de escolarização da lusa estirpe: chama-se «Novas Oportunidades» e procura promover as vantagens da aprendizagem contínua que melhore a qualificação da população, independentemente da idade. Na divulgação de tal iniciativa associaram-se figuras públicas que dão a cara em anúncios publicitários: por exemplo, Carlos Queiroz veicula a ideia de que, se não tivesse estudado, não atingiria o patamar de relevância e sucesso desportivos que conseguiu, surgindo como cortador de relva; e Judite de Sousa aparece como ardina de quiosque, ficcionando ser desprovida das habilitações que, na realidade, a conduziram a uma presumível notoriedade profissional.
Ora, o que o governo transmite aos portugueses é um pressuposto de sucesso e realização pessoal dissociado de imperativos de competência e de estatuto social, que menoriza a importância e a dignidade de profissões úteis no tecido económico e na estrutura das sociedades saídas do modelo industrial de produção, como é a nossa, desqualificando e humilhando-as. Não questiono a importância da promoção da formação e qualificação dos recursos humanos e do incremento da escolaridade nacional, mas lamento que isso se faça à custa de mensagens subliminarmente desprestigiantes de profissões que, apesar do menor grau de habilitações exigível para o seu desempenho, se revestem de uma importância igualmente inquestionável.
Se este governo fosse coerente na acção e íntegro na decisão, este anúncio vergonhoso teria sido chumbado. Mas a incongruência não podia ser maior da parte de um elenco executivo liderado por alguém que, de engenheiro, somente tem a ilegitimidade do título, a vaidade nacional de ter um prefixo antes do nome e a suspeita forte de um canudo irregularmente obtido e fabricado por medida. Assim, qualquer um é engenheiro, valendo mais um papel timbrado de membro de governo do que o mérito de um efectivo e honesto labor discente...
Depois do infeliz «Allgarve», temos um novo eufemismo: antes dizia-se "injustiças"; agora diz-se "novas oportunidades"!

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terça-feira, abril 17, 2007

Primum vivere deinde philosophare - 41


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Legendar o silêncio icónico (40)

80 anos de (imbecil)idade!

(Nem todos são como o vinho do Porto!)

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O delírio bélico

Enriquecendo a triste cronologia de tiroteios trágicos em estabelecimentos de ensino nos EUA, ontem foi a vez da Universidade de Virginia Tech ser o palco onde perderam a vida 33 pessoas, incluindo a do homicida. Recentemente, esta centenária instituição universitária havia sido abalada pelo assassínio de um segurança e de um polícia às mãos de um prisioneiro evadido que se barricou nas suas instalações, e por dois falsos alertas de bomba.
As doze vítimas do massacre do liceu de Columbine, em 1999, foram agora perfeitamente superadas e estes acontecimentos confirmam os dados que, escritos a sangue frio (para evocar Truman Capote), demonstram à saciedade serem os EUA um dos países mais inseguros - cerca de 30 mil civis são assassinados por ano em atentados desta natureza e muitos são já os políticos e activistas que não escaparam e se inscrevem nesta lista de horror (a começar logo por Abraham Lincoln, John e Robert Kennedy, Luther King, Malcolm X, etc.). Os sucessivos dirigentes políticos e governantes são os grandes (ir)responsáveis por estes belicosos fenómenos de perturbação social, ao perpetuarem com a sua passividade e cumplicidade situações de guerrilha urbana, potenciada pela escandalosa facilidade com que neste país se obtem e transaccionam armas de fogo: são à volta de 5000 (!) as feiras de armas que se realizam anualmente nos EUA e basta ter o BI regularizado e 50 dólares no bolso para se ser pistoleiro e ter acesso aos brinquedos mortais em tão fascinantes certames que inspiram o hábito de reeditar os tempos do far west. Assim se alimenta um cruel sistema capitalista que subordina o valor da segurança e da vida à lógica dos lucros colossais obtidos com o comércio interno de armas.
E é esta sociedade estado-unidense doente e decadente, ignorante e autista face a interesses alheios e aos problemas do resto do mundo, que impõe os seus interesses hegemónicos, até com recurso unilateral à violência militar. Há um Iraque dentro dos EUA e não surpreende que seja este o povo que, por duas vezes, elegeu um «John Wayne de trazer por Casa Branca», um criminoso que infectou o mundo com a iniquidade da injustiça, da desordem e da instabilidade, num dividir para reinar com o qual vai nutrindo o terrorismo com mais terrorismo.
Casos como o do Campus de Virginia Tech, lembram que, às vezes, a ameaça interna é tão letal como todas as Al Qaeda do mundo!

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segunda-feira, abril 16, 2007

Humores # 4

Uma rapariga passeava à beira de um lago, quando, de repente, apareceu um sapo dizendo:
- Olá! Eu sou professor, solteiro, recém-formado, mas fui transformado em sapo por uma bruxa malvada. Se me beijares, eu volto ao normal e caso-me contigo. Seremos felizes para sempre!
A rapariga, toda contente, pegou no sapo, colocou-o na bolsa e foi andando para casa.
O sapo começou a ficar impaciente e perguntou:
- Ei, miúda! Quando é que me vais beijar?
Ela respondeu:
- Nunca! Um sapo falante dá muito mais dinheiro que um marido professor.

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Ofensa aos direitos dos animais


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sexta-feira, abril 13, 2007

Sexta-feira, 13

Popularmente considerado como um dia de azar, a ideia da sexta-feira 13 (de qualquer mês) tem, supostamente, várias origens: i) para uns, reside no facto de que Jesus Cristo terá sido morto nesse dia do mês e da semana, uma vez que a Páscoa judaica é celebrada, no calendário hebraico, no dia 14 de Nisan; ii) para outros, deve-se a que, na «Última Ceia», sentaram-se 13 pessoas à mesa, tendo duas delas - Jesus e Judas Iscariotes - morrido tragicamente de seguida; iii) segundo outros ainda, esta é uma superstição que remonta ao dia 13 de Outubro de 1307, sexta-feira, quando o monarca francês Filipe IV declarou ilegal a Ordem dos Templários, tendo os membros desta sido presos e alguns mesmo torturados e executados cruelmente. Muitas outras explicações devem existir, proporcionais à imaginação e criatividade das lendas.
Há mesmo edifícios que têm catorze andares sem décimo terceiro (ver foto)!
Curiosamente, eu nasci numa sexta-feira (adoro o fim-de-semana!) dia 31 (capicua!) e, por outro lado, dizem as estatísticas que o número 13 é responsável por muitos dos milionários dos Lotos e Euromilhões, pois é um dos números mais sorteados. Há nisto qualquer coisa que refuta a superstição - a propósito, o que dizer do(s) que hoje vão ganhar dinheiro com o sorteio semanal do Euromilhões?

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quinta-feira, abril 12, 2007

Primum vivere deinde philosophare - 40


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Manobras de engenharia

A novela que tem ocupado, há quase um mês, a agenda dos 'média' sobre as habilitações de José de Sousa não parece ter terminado ontem com a entrevista à RTP que o primeiro-ministro concedeu. De facto, muito ficou por esclarecer e há explicações que não convencem e são até falaciosas, a ponto de, tal como no início, eu continuar a suspeitar que há muito de mal contado nesta estória de contornos obscuros e que deixa o governante mal na fotografia.
Não considero relevante o grau de habilitações académicas para o exercício de funções políticas - aliás, temos sido governados por catedráticos e o país encontra-se no triste estado em que está! -, mas assumir um título falso ou obtido por meios ilícitos já configura uma situação que carece de um pronto esclarecimento que dissipe todas as suspeições, mormente se se trata de um cidadão que exerce o cargo de chefe do Governo. Ora, acontece que abundam as dúvidas sobre a honestidade e lisura processuais com que José de Sousa obteve o grau de licenciatura em engenharia, pois as coincidências não são apenas casuais e obedecem também a uma necessidade que, no plano antropológico, se baseia numa conjugação (concertada ou não) de vontades.
Como não desconfiar da idoneidade de um diploma passado a um domingo (de manhã, à tarde ou à noite?) e que certifica uma licenciatura numa universidade não reconhecida pela Ordem da respectiva área e que nesse ano (1996) não declarou à tutela nenhum licenciado em engenharia? Como não questionar o facto de quatro de cinco cadeiras finais terem sido leccionadas pelo mesmo professor, que, inclusivé, foi membro de dois governos socialistas? Como aceitar placidamente que um estudante tenha feita quatro exames no mesmo dia, entrando depois da hora do seu início e saindo antes de esgotado o tempo da sua realização? Como ignorar as discrepâncias de classificações em diferentes registos? Como se compagina a ideia de se ser um aluno exemplar com declarações de colegas de turma que não se lembram de ter visto tão ilustre pupilo a frequentar as aulas, que eram leccionadas em horário pós-laboral? Como não suspeitar da 'coincidência' de haver professores desse aluno que estão sob investigação? Como justificar com seriedade o facto de a biografia de José de Sousa ter sido alterada durante a presente polémica, e por duas vezes, na página do Governo (de "Engenheiro civil" passou a um mais sóbrio "Licenciado em engenharia civil"; e depois desaparece uma "pós-graduação com MBA em gestão de empresas pelo ISCTE", passando a figurar agora uma "pós-graduação em Engenharia Sanitária, na Escola de Saúde Pública") e, aquando deputado em 1995, assumir já o título que ainda não possuía, nos cadernos da Assembleia da República?
Estas são apenas algumas das questões que comprometem José de Sousa e, logo, a sua credibilidade como primeiro-ministro, a juntar às muitas promessas de campanha que não cumpriu e com que vem enganando os portugueses. E se o autor destas presumíveis «manobras de engenharia» se sente assim tão inocente, como explica a pressão feita a órgãos de comunicação social para não darem cobertura à notícia? Que autoridade moral tem José de Sousa para impor sacrifícios aos portugueses mediante uma política de austeridade que teima em poupar os do costume? Que legitimidade tem em veicular a ideia de a administração pública ter de ser ocupada pelos mais qualificados? O lema do primeiro-ministro parece ser o de Frei Tomás: "olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz"!
Não sabia que, de entre as poucas coisas que devo ter em comum com o líder do PS, estava o facto de, com grande probabilidade, não sermos engenheiros; ou, das muitas diferenças entre ambos, constar o facto de José de Sousa não ser licenciado. Qual Vasco Santana em debate com o "mastóideu", parece termos agora "inginheiro"! E se na política restasse algum laivo de verticalidade, a demissão seria um acto de nobreza se praticado mais vezes, até para servir de exemplo de que, na política, ainda vai havendo dignidade!

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quarta-feira, abril 11, 2007

Legendar o silêncio icónico (39)

Um exemplo da importância de usar capacete!
(Ou a «queda» para desportos radicais!)

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Ipsis verbis [2]

"Os pelouros de Urbanismo das câmaras municipais estão hoje maioritariamente reféns de interesses particulares. De alguns particulares. Principalmente daqueles que financiam a vida partidária e que exigem, como contrapartida, favores da administração. É aqui que está o mais pérfido ovo de serpente da corrupção."
- Paulo Morais (ex-vereador do pelouro do Urbanismo da Câmara Municipal do Porto), in Visão, nº 733

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Primum vivere deinde philosophare - 39

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terça-feira, abril 10, 2007

Mentiras fundamentais da «Paixão de Cristo» - 6

6. Jesus esteve sepultado 36 horas e não três dias
O tempo de permanência de Jesus no sepulcro, antes de ressuscitar, devia ter sido de três dias e três noites completos e sucessivos, conforme profetizado pelo próprio (ver Marcos 9, 31). Ora, este "messias" da Galileia "ressuscitou" ao fim de apenas um dia e meio, invalidando por excesso de rapidez o "sinal de Jonas" que pretendia ver aplicado a si próprio.
Se, como relatam os evangelhos, Jesus foi sepultado ao entardecer de uma 6ª feira, ou já de noite (ver Lucas 23, 54), no domingo "ia para amanhecer" (ver Mateus 28, 1) e já o corpo havia desaparecido do túmulo devido à sua ressurreição (dizem eles!). Assim, na 6ª feira, o cadáver esteve sepultado 6 horas, no máximo, mais todo o sábado e, finalmente, um máximo de 6 horas no domingo: são apenas cerca de 36 horas que permaneceu morto, metade do prometido para que se cumprisse adequadamente a profecia que Jesus fizera aos apóstolos (ver ainda Mateus 12, 38-40).
Cego é também aquele que não quer ver, ou não sabe fazer contas!
7. Outras alucinações neotestamentárias
Os cristãos comungam hoje a crença de que Jesus possui o poder de ressuscitar os mortos no dia do Juízo Final (o que quer que isso seja!). Mas isso é deveras surpreendente, pois nem Mateus nem Marcos nem Lucas escreveram uma só palavra sobre tais mágicos poderes. Só o místico e esotérico autor do evangelho de João (6, 40) indicia tal poder, que nem sequer o perverso Paulo atesta (este arrependido de Tarso reservava só para Deus, e não para Jesus, o poder de ressuscitar os mortos). Em Actos dos Apóstolos (2, 23-24), escrito pelo mesmo autor do evangelho de Lucas, Jesus ressuscita por obra de Deus, mas em João (10, 17-18) foi o próprio Jesus que teve o poder de se auto-ressuscitar. Para um livro que dizem traduzir a palavra de Deus e que foi escrito sob sua inspiração, há aqui qualquer coisa que não é razoável...
Por outro lado, e tendo em conta os denodados esforços (que parece terem incluido alguns supostos milagres!) feitos em vida pelo nazareno, para tentar convencer as massas da verdade da sua mensagem, parece incrível que tenha aparecido somente aos seus íntimos e não a todo o povo, ou até a Pilatos, desprezando uma oportunidade única de converter todo o império romano de uma só vez!
Em suma, os vazios, contradições e incongruências narrativas dos relatos bíblicos, em geral, só podem ser tomados como puras invenções destinadas a endeusarem a figura de Jesus, ajustando-o artificiosa e criativamente à figura dos mitos pagãos que, à época, difundiam jovens deuses solares expiatórios que ressuscitaram após a morte.
É incrível como, durante séculos, se perpetua a crença numa estória reconhecidamente tão mal contada!

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Mentiras fundamentais da «Paixão de Cristo» - 5

5. As versões fantasiosas de uma ressurreição inverosímil
A propósito da ressurreição de Jesus - dogma essencial e fundador do credo cristão - os quatro evangelhos divergem grosseiramente, mesmo que "inspirados pelo Espírito Santo". Senão, vejamos:
- em Mateus (27 e 28), duas Marias vão ver o sepulcro, ocorre um sismo, desce do céu um anjo que remove a pedra que obstrui a entrada do túmulo e senta-se nela, deixando os guardas "como mortos";
- em Marcos (16), as mulheres (não só duas Marias, pois Salomé se lhes junta) vão ao túmulo na intenção de ungir o corpo de Jesus; não há qualquer sismo, a pedra de entrada já está removida e dentro do túmulo encontra-se um jovem sentado à direita, não havendo rasto de guardas;
- em Lucas (24), são mais as mulheres (duas Marias, Joana e "as demais que estavam com ela") que levam unguentos; não há sismo nem guardas, aparecem dois homens que anunciam às mulheres que Jesus aparecerá aos discípulos em Emaús (e não na Galileia, como se afirma em Mateus e Marcos); Pedro constata pessoalmente a prodigiosa ocorrência;
- e, em João (20), há apenas uma mulher - Maria Madalena - que vai ao túmulo, mas sem a intenção de ungir o corpo de Jesus; ela não vê ninguém no sepulcro e corre a avisar não um mas dois apóstolos, que confirmam o sucedido; depois, enquanto Maria chora no exterior do túmulo, surgem dois anjos sentados, um à cabeceira e outro aos pés, no preciso lugar onde estivera o cadáver do crucificado, aparecendo então Jesus à mulher...
Não é preciso ser ateu para se concluir que estas passagens de divina inspiração não têm a menor credibilidade, tantas e tão graves são as contradições, sobretudo se se considerar que são textos supostamente escritos por testemunhas directas, redigidos num lapso de 30 a 40 anos entre eles. A inexplicável incredulidade dos apóstolos ante a notícia de uma ressurreição de que estavam avisados é ainda mais surpreendente quando se lê Mateus 27, 50-54: a humanidade de então denotava inimagináveis índices de estupidez para não ter crido em tal história de um mentiroso compulsivo, como parece ter sido Mateus (e os outros)!

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quinta-feira, abril 05, 2007

Mentiras fundamentais da «Paixão de Cristo» - 4

4. O que significam as expressões "Filho de Deus" e "Reino de Deus"?
A expressão "Filho de Deus" era uma designação habitual para todos os judeus, os quais se consideravam todos como Povo Eleito, ou seja, "filhos de Deus". Portanto, a afirmação do evangelho de João (19, 7) posto na boca dos judeus - "Nós temos uma Lei e segundo essa Lei deve morrer, porque disse ser Filho de Deus" - é destituída de fundamento histórico.
Para os judeus, o "messias" não era Deus, mas sim um seu enviado; e alguém arrogar-se dessa condição (antes e depois de Jesus muitos foram os que ousaram fazê-lo!) não violava a Lei de Moisés nem era sancionável com a pena de morte. O que era blasfémia era a consideração que Jesus era filho carnal de Iavé (Deus), mas o nazareno nunca disse sê-lo, como judeu zeloso que prezava ser. Foram os evangelistas que, muito tempo após a morte de Jesus e longe da Palestina, inventaram tal filiação.
Por outro lado, os evangelhos asseveram que Jesus terá afirmado que o seu reino não é deste mundo (ver João 18, 36). Ora, essa noção é de Paulo e foi posteriormente transposta para os evangelhos como sendo da autoria do próprio cristo galileu, o que é implausível: para os judeus de então, o "Reino de Deus" em que criam e a que aspiravam seria materializado em vida terrena e no poder militar de Israel, que dominaria os outros povos; o "Reino de Deus" judeu era Israel libertado com um «messias-rei» legítimo sucessor de David, conforme profetizado no Antigo Testamento.
A interpretação de "Reino de Deus" como algo espiritual e post mortem não fazia, assim, o menor sentido para os interlocutores de Jesus, que eram judeus e não gentios!
Portanto, não havendo argumentos teológicos e religiosos que justificassem condenar Jesus à morte, mas querendo livrarem-se do perigo de mais um caudilho nacionalista de religiosidade inflamada, restava aos saduceus (facção dos judeus que detinha o poder sacerdotal no Templo) o recurso à lei romana, de que eram colaboradores. Assim, Jesus foi condenado à pena romana de crucificação por ser pretendente a Rei de Israel contra o poder imperial de Roma.

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quarta-feira, abril 04, 2007

Mentiras fundamentais da «Paixão de Cristo» - 3

3.1. Nenhum Sinédrio julgou e condenou Jesus
Segundo Mateus, Marcos e Lucas, o processo de condenação de Jesus situa-se na véspera da Páscoa, dia da Preparação, coincidindo a Páscoa, nesse ano, com um sábado. Nessa época, os dias contavam-se entre os «pôr-do-sol», o que dá a entender que Jesus teria sido julgado e condenado pelo Sinédrio no mesmo dia, o que era ilegal (o Sinédrio não podia reunir ao sábado, dia sagrado dos judeus). Ao Sinédrio, conselho com 70 membros, estava permitido julgar e condenar delitos ordinários, religiosos ou civis, mas não processos que envolvessem a pena de morte, pelo que transferiram o processo para Pôncio Pilatos, à data a figura máxima do poder político-militar na Judeia. Curiosamente, e contrastando flagrantemente com os outros evangelhos, no de João não há qualquer julgamento pelo Sinédrio, sendo Jesus directamente interrogado por Anás e Caifás, sumo-sacerdotes do Templo de Jerusalém, e saindo daí directamente para ser julgado por Pilatos, única autoridade com poder para aplicar a pena capital.
Portanto, a condenação por "unanimidade" de Jesus é implausível, para mais contando o Sinédrio com, pelo menos, três membros favoráveis a Jesus e aos nazarenos, a saber, José de Arimateia, Nicodemos e Gamaliel.
3.2. A verdadeira condenação de Jesus
O inquérito de Pilatos a Jesus é uma invenção criada pelos evangelistas, que lhe deram um forte dramatismo e efeito teatral, para simultaneamente enfatizarem a suposta grandeza de Jesus perante a autoridade máxima romana e não hostilizarem esta, pondo-a a par da dimensão intelectual, filosófica e política do nazareno. A complexidade do diálogo inspira-se na dialéctica platónica e de outros filósofos, então bastante divulgados no império.
A audiência verificou-se na 6ª feira de manhã, dia da Preparação da Páscoa do dia seguinte, não havendo tempo para a purificação; nenhum judeu entraria nas instalações de Pilatos na véspera da Páscoa, sem terem depois tempo para se purificarem. Daí a dúvida: se nenhum judeu entrou no tribunal onde Pilatos interrogava Jesus e se este não pôde revelar a alguém, até à sua morte, os termos do diálogo com o prefeito romano, como pôde saber-se os termos exactos do interrogatório? E dado que Pilatos não falava aramaico e é improvável que Jesus falasse grego, o diálogo terá decorrido com intérprete e terá sido breve, limitando-se a poucas perguntas talvez dirigidas igualmente a outros réus, cujos crimes deveriam ser da índole e gravidade dos de Jesus, nomeadamente os célebres dois "ladrões" que ladearam Jesus no Calvário e Barrabás, presos nos dias anteriores.
A propósito de Barrabás, este seria outro pretendente a «messias»: o seu nome vem de «Bar» (quer dizer «filho») e «Abba» (quer dizer «pai/deus»). Algumas versões de Mateus dizem que Barrabás também se chamaria Jesus...
Pilatos tê-los-á condenado a uma pena romana pelo crime político de sedição, isto é, insurreição contra o poder de Roma. No caso de Jesus, e à luz do direito romano, os judeus apenas intervieram na medida em que o poderoso partido judeu dos saduceus, que o nazareno desafiou, o denunciou à autoridade romana sob a acusação de intuitos políticos de tomada de poder nessa Páscoa.
A insistência de Pilatos em considerar Jesus inocente de tal crime, apesar da confissão reiterada de Jesus de ser o «messias» de Israel, faria do procurador um inconsequente mental às ordens dos saduceus, o que é historicamente insustentável, dada até a conhecida crueldade de Pilatos. Por isso, a cena da lavagem das mãos é uma das inúmeras falsidades inventadas nos relatos evangélicos!

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Mentiras fundamentais da «Paixão de Cristo» - 2

2. Jesus abominaria a eucaristia cristã
Surpreendentemente, o Evangelho de João (o mais antijudeu de todos) não menciona a eucaristia referente à «última ceia», entre Jesus e os discípulos, importante no ritual cristão. É descrito em Mateus 26, Marcos 14 e Lucas 22, bem como é referido por Paulo na Primeira Carta aos Coríntios 10 e 11. As semelhanças entre a carta de Paulo (escrita em meados da década de 50) e os evangelhos (posteriores em cerca de 30 anos) são óbvias, pelo que os evangelistas conheciam os textos epistolares paulinos.
No relato que fazem da eucaristia, a ideia de "comer" carne humana, mesmo que simbolicamente através do pão ou, ainda mais, de beber sangue (e humano!), eram ideias repugnantes para qualquer judeu da época, impossíveis de serem ditas por um judeu, sobretudo um rabi cumpridor dos preceitos de Moisés, como era o caso de Jesus. Para os hebreus, o sangue era um tema tabu e a sua ingestão estava interdita, conforme estabelecem os principais livros da Tora (ver Génesis 9, 4-6; Levítico 17, 10-14; ou Deuteronómio 12, 23).
Assim, para um judeu era impensável beber sangue, ao contrário dos gentios (não-judeus), que estavam familiarizados com religiões em que os sacrifícios sangrentos eram acompanhados de refeições e banhos rituais com base no sangue dos animais mortos - daí o paralelismo com o patético significado do inexplicável sacrifício de Jesus em prol da humanidade. O consumo do corpo do deus - e a identificação do pão com a carne e do vinho com o sangue da divindade - era uma prática difundida no mundo romano, que Paulo conhecia e em que se terá inspirado. Vejam-se, a este propósito, as liturgias em honra de Ísis, Átis ou Mitra, e surpreendam-se!
Ora, Paulo, que não foi apóstolo, acabou por se antagonizar com o judaismo da igreja apostólica primitiva e, oscilando entre o repúdio e a afirmação do orgulho de ser circuncisado, terá sido seduzido por esta leitura simbólica pagã, muito forte e atraente para os gentios convertidos por Paulo. Com isso, Paulo (o verdadeiro fundador do cristianismo) demarcou irreversivelmente os cristãos do judaismo, conforme pretendeu a desmesurada ambição deste ex-perseguidor de cristãos. Também por aqui se vê que Jesus não seria cristão, se fosse vivo, e abominaria a eucaristia!

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terça-feira, abril 03, 2007

Mentiras fundamentais da «Paixão de Cristo» - 1

Variados são os motivos que me fazem detestar a tenebrosa morbidez e a lúgubre soturnidade da época de Páscoa que ora se vive: significa o paroxismo do ritual de comiseração cristão e de cultuação irracional da dor e do sofrimento, e é surpreendente como, a propósito dos episódios da «Paixão de Cristo», tantas estórias mal contadas perduram e desafiam o rigor histórico e a clarividência racional necessários à análise documental séria e fundamentada das fontes que relatam o processo que conduziu à condenação e execução de Jesus. Porque de uma mentira se trata, e inconformado com as litanias que até à náusea invadem o lazer e a privacidade, deformam o juízo desatento e iludem a verdade, abordarei alguns pontos que denunciam algumas das colossais falsidades que só os espíritos incrédulos e heterodoxos poderão reconhecer.
1. Judas não traiu Jesus
O episódio da «última ceia» de Jesus com os discípulos é descrita nos evangelhos em Mateus 26, Marcos 14, Lucas 22 e João 13: em Mateus, Jesus identifica explicitamente aos discípulos quem é o traidor; em Marcos e Lucas, Judas não se denuncia, mas Jesus diz ser o traidor aquele "que mete comigo a mão no prato" (não o nomeando, os presentes puderam identificar Judas por constatação de quem iria fazer tal acto); e, em João, Jesus afirma que o traidor "é aquele a quem eu der o bocado de pão ensopado", dando-o de seguida a Iscariotes. Não interessa aqui fazer a exegese de tão estranho modo de indiciar o portador da culpa...
Portanto, como negar que os discípulos sabiam que seria Judas o traidor? E, sabendo isso, como explicar que os restantes apóstolos nada fizessem para deter Judas?
Tal passividade só é entendível à luz de uma cumplicidade instigada por Jesus e aceite por todos "para que o Filho do Homem cumpra o que está escrito". Além disso, Judas era um homem da maior confiança do nazareno, sendo inclusivé o tesoureiro do grupo (ver Actos 4-34 e 5) e, por conseguinte, não seria por dinheiro que Judas denunciou Jesus - bastar-lhe-ia fugir! Aliás, os famosos "30 dinheiros" de recompensa pela captura de um foragido eram muito pouco se comparados com as verbas a que o histórico delator tinha acesso.
Como os evangelistas e Paulo não tinham particular simpatia pelos "doze" (a primitiva igreja apostólica de Jerusalém não deixava de ser um ramo do judaismo, fechada a gentios e incircuncisos) e como Judas era um radical nacionalista, um sicário que detestava os romanos, foi fácil ver nele um bode expiatório: os autores dos evangelhos tiveram politicamente todo o interesse e oportunidade em colocar Judas como adversário do filho de Maria, reforçando nos romanos posteriores a convicção de que Jesus não tinha sido rebelde a Roma e que a sua crucificação se devia à traição de que fora alvo pelos judeus (os perdedores da revolta contra os romanos) - Jesus passava, assim, a estar do lado dos vencedores!

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segunda-feira, abril 02, 2007

Reutilizar Auschwitz

Uma inaudita onda de medidas políticas de extrema-direita assola a Polónia, governada pelos ultraconservadores gémeos Kaczynski, Lech (o presidente) e Jaroslaw (o primeiro-ministro): depois de defenderem a restauração da pena de morte no país, de terem elaborado a legislação antiaborto mais restritiva da Europa, de iniciarem conversações com os EUA para, à revelia da União Europeia, a instalação de um sistema antimíssil e de intimarem 700 mil polacos (entre professores, funcionários públicos e jornalistas) para, no prazo de dois meses, confessarem o seu colaboracionismo comunista na época pré-Walesa, brevemente deverão aprovar legislação homofóbica no sentido de despedirem os professores que "promovam atitudes homossexuais", que o fútil preconceito desta gente designa de "uniões sodomitas".
É inequívoco o retrocesso civilizacional que estas medidas implicam, aproximando a Polónia de países como o Irão. Mas, tratando-se do maior país católico europeu, que até tem como recente referência nacional o ideário retrógrado de Karol Woytila (João Paulo II), não estranha que a convergência com o fundamentalismo religioso esteja a ser o caminho trilhado, enfraquecendo os argumentos daqueles que se opõem à adesão da Turquia à UE. Aliás, o silêncio da Igreja Católica sobre a violação dos direitos humanos em curso na Polónia, indicia a papal satisfação e contentamento por esta cruzada anticomunista, misógina e homofóbica...
Oxalá os gémeos Kaczynski não se lembrem de reutilizar Auschwitz, recriando uma nova «solução final» desta caça às bruxas! E como pode a UE continuar muda e quêda?

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