quinta-feira, maio 31, 2007

Aforismos de Woody Allen

Na sequência de uma daquelas conversas vadias com um amigo, em que os assuntos se entrelaçam - e, por exemplo, partindo de política ou futebol se acaba a falar na sensualidade de Scarlett Johansson, em cerejas ou nas vantagens higiénicas dos guardanapos de pano -, demos por nós em amena tertúlia a dissertar sobre os méritos artísticos de Woody Allen. A referência a este singular actor e realizador nova-iorquino suscitou o tema da genialidade de algumas pessoas.
Defendi que o mérito de Allen, e que confere qualidade à sua cinematografia, radica sobretudo na riqueza dos diálogos, na profundidade das ideias e nos gags que individualizam e identificam cada filme (pelo menos, dos que tive oportunidade de ver). Além disso, Allen destaca-se também, de alguma forma, na música (é conhecida a sua assídua performatividade no clarinete) e na ensaística literária, caso em que, inclusivamente, é autor de alguns dos mais hilariantes aforismos, designadamente os do foro relacional e sexual, como os que - objectivo deste post, decorrente da tal conversa vadia - a seguir passo a partilhar com os meus queridos cúmplices cibernautas:
"Bígamo: é um idiota ao quadrado."
"As vantagens do nudismo saltam aos olhos."
"A inactividade sexual é perigosa e pode produzir cornos."
"Quando tudo sobe, o que baixa é a roupa interior."
"Alguns casamentos acabam bem, outros duram toda a vida."
"Hoje em dia, a fidelidade só se vê nos equipamentos de som."
"É curioso que se chame «sexo oral» a uma prática em que o menos que se pode fazer é falar."
Digam lá, tem ou não tem piada?

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quarta-feira, maio 30, 2007

Do proletariado ao precariado

O paradigma laboral do século XXI justifica que o conceito de «proletariado» esteja a ser rapidamente substituído pela designação emergente de «precariado», consolidado numa dupla tendência de downsizing (há nas empresas cada vez menos efectivos) e outsourcing (há cada vez mais contratualização de serviços externos disponibilizados por empresas de trabalho temporário). Engrossam assim as fileiras de contratados a prazo, de falsos recibos verdes, de subempregados e de temporários; e, segundo dados fornecidos pelo INE, entre Janeiro e Março de 2006 e Janeiro e Março de 2007, houve um decréscimo de 75 mil trabalhadores efectivos e, inversamente, um aumento de 10,6% (63 mil pessoas) de contratados a termo.
Portanto, a inequívoca objectividade dos números indica que o contingente dos trabalhadores precários está em alta, ao ponto de 20% da população actualmente empregada se ver inibida de exercer o elementar direito constitucional de fazer greve, coagida pela lógica predatória da maximização do lucro e devorada pela obsessão capitalista que diviniza o binómio produtividade-competitividade. A sensibilidade e a preocupação sociais parecem ser agora ideais de gente irrealista e destituída de pragmatismo...
Mas as características do novo mundo laboral introduziram ainda uma aviltante desigualdade que se acentua e desmente os neoliberais que se escudam na falácia da modernização tecnológica que justifica a dispensa de mão-de-obra humana: aos cada vez mais que estão desempregados, contrapõem-se os cada vez menos que têm mais trabalho acrescido, tornando contraproducente fazer greve, ter uma gravidez de risco, necessitar de uma intervenção cirúrgica ou, inclusivé, fazer férias, num movimento de aniquilação de direitos básicos fundamentais que tanto custou a adquirir. Quem diria que, de direito inalienável, o trabalho se iria converter num bem precioso ou num privilégio invejável!
Como desmentir que se está a diluir, material e conceptualmente, a fronteira entre trabalho e... escravidão?

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Cidadania activa

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terça-feira, maio 29, 2007

Viver alegre ou morrer com saúde?

Vivemos num tempo de inaudita abundância que, contraditoriamente, se confronta com permanentes avisos de contraproducente consumo: o pão possui sal e hidratos de carbono em excesso; os legumes têm resíduos agrotóxicos; o leite tem caseína e, segundo alguns, não devia fazer parte da dieta (excepto na amamentação, pois é coisa pueril e de bezerros); a carne é louca ou tem gripe; o peixe está contaminado de mercúrio; o churrasco possui benzopirenos; os ovos são fonte de colestrol; os enchidos são ricos em gorduras saturadas; os bolos não deixam de ter açúcar e os edulcorantes são ainda mais nocivos; a cafeína vicia; as fibras insuflam o intestino; os conservantes provocam alergias; os aditivos são cancerígenos e os intensificadores de sabor provocam arritmia cardíaca e mal-estar; os alimentos geneticamente modificados estão sob suspeita...
Em suma, o desenvolvimento coloca-nos, mesmo aos que comem para viver, perante o incontornável dilema: ou se vive alegre na prazenteira satisfação da gula, correndo o risco de se morrer vitimado por uma qualquer doença; ou, para evitar tão tenebroso cardápio, se vive triste na insatisfatória subnutrição do comedimento alimentar, morrendo-se com saúde!

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segunda-feira, maio 28, 2007

Primum vivere deinde philosophare - 48

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Relativismo dos princípios jurídicos

- Estados anglo-saxónicos: É tudo permitido, excepto aquilo que estiver expressamente proibido por lei.
- Estados teutónicos: É tudo proibido, excepto aquilo que estiver expressamente permitido por lei.
- Estados de leste: É tudo proibido, mesmo que esteja permitido por lei.
- Estados latino-americanos: É tudo permitido, especialmente se estiver proibido por lei!

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domingo, maio 27, 2007

Pontes para o deserto da incompetência

Num repasto com economistas, e certamente já sob o efeito do calor etílico, Mário Lino reiterou a sua preferência pela Ota ao reafirmar que a zona a sul do Tejo é um contra-senso como localização do novo aeroporto: a margem esquerda não está dotada de infraestruturas, o que obrigaria passageiros, empresários, turistas a terem de se deslocar para norte. Entre várias metáforas escabrosas, o anafado ministro considerou que a margem sul sofre de algo parecido com um "cancro no pulmão" e é... um "deserto"!
Para compor o ramalhete de analogias e insinuações infelizes, no dia seguinte acorreu em auxílio do desbocado governante o senador Almeida Santos, assegurando que a nova estrutura aeroportuária a sul implicaria a construção de pontes, as quais se tornariam um alvo fácil de terroristas! Este inominável decano perdeu mais uma oportunidade de estar calado, provando que continua a ser tão útil à democracia como os eucaliptos no equilíbrio florestal mediterrânico... Por que razão os terroristas desejariam dinamitar pontes que dão acesso a um "deserto"? E, para quem intenta dinamitar pontes, não seria menos dispendioso e mais fácil dinamitar directamente os aeroportos? E os habitantes do "deserto" - insignificantes alentejanos e algarvios -, não serão eles merecedores de imediato reforço de protecção?
Esta é a estirpe de gente que a incauta maioria dos portugueses eleitores persiste em eleger. Agora é a vez de um PS cada vez menos «partido socialista» e mais «partido de Sócrates» ou «partido senil», deserto de ideologia social, de ideias sensatas e de competência, tantos são os grãos de areia a emperrar a engrenagem de um país já de si administrativa e institucionalmente apodrecido. O verdadeiro deserto parece ser o de políticos competentes e cidadãos exigentes!

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sexta-feira, maio 25, 2007

Primum vivere deinde philosophare - 47





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Legendar o silêncio icónico (48)

E você, ainda não se candidatou à Câmara de Lisboa?
(A lista de candidatos já parece uma lista telefónica!)

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quinta-feira, maio 24, 2007

Anomia lusitana

Sucessivas sondagens vindas a lume, e que periodicamente actualizam o sentido de voto dos eleitores lusos, parecem ter sido encomendadas pelo PS, dado apresentarem resultados invariavelmente favoráveis ao partido do Largo do Rato - a propaganda do Governo tem, portanto, surtido efeito. E isso apesar das circunstâncias adversas, designadamente os últimos números do desemprego que o INE divulgou e que dão conta de um aumento que agora se fixa nos 8,4%; ou seja, Portugal tem seguramente meio milhão de cidadãos em idade activa que estão desocupados, contrariando as tão ambiciosas como enganosas promessas de Sócrates (quem não se lembra dos 150 mil empregos?) - e já está o «engenheiro» a meio do mandato!
De facto, a incompetência de mais este (des)governo está, infelizmente, bem patente no fracasso de tantas medidas adoptadas e que o executivo reputa de "política reformista". Claro que o PSD não faria diferente e daria igual curso à exangue "estratégia de contenção financeira" que restringe benefícios sociais e fiscais e que tem diminuído o poder de compra e, consequentemente, envolvido os cidadãos no baraço de impagáveis empréstimos. Somos os primeiros no volume de impostos e dos últimos na qualidade de vida, na educação, na saúde ou na justiça...
O paradoxo do actual quadro económico parece ser o facto de à prosperidade da macroeconomia corresponder o definhamento da microeconomia, num balanço sempre desfavorável aos mesmos do costume, a ponto de a classe média se estar a dissolver em sentido descendente, cada vez mais empobrecida. Mas a generalidade dos portugueses, quais masoquistas impenitentes e relapsos na acrítica cidadania, persiste numa cómoda anomia, incapazes de reconhecer e interpretar os sinais e os números, como se nada se passasse e fosse mais importante uma romaria a Fátima, as contingências e deambulações sofridas por um casal britânico com filha desaparecida, as perspectivas de continuidade de Miccoli no Benfica, a injúria de um professor ao primeiro-ministro, ou todos os fait-divers afins...
Só num país assim o governo suscita ainda aprovação; mas o único futuro de um país assim é o da mera passagem do tempo!

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quarta-feira, maio 23, 2007

Fronteira entre verdade e difamação

Este é um caso curioso que nos faz questionar se existe ou não, em circunstâncias diversas, uma fronteira objectiva entre a verdade de uma asserção e o seu conteúdo meramente jocoso ou difamatório. Resumindo:
Chama-se Fernando Charrua, é professor e já foi deputado no sector alaranjado do Parlamento; estava destacado na Direcção Regional de Educação do Norte, mas foi agora devolvido à procedência, ou seja, recambiado para a escola a cujo quadro pertence e obrigado a vigiar e zelar pelo bom estado de conservação do acervo de livros da biblioteca. A causa para esta forçada missão de bibliotecário foi simplesmente ter aquele professor a ousadia de ter pensado em voz alta o que muitos milhões de portugueses ardorosamente pensam em imperscrutável murmúrio. O conteúdo do pensamento, embora prosaico, tem a particularidade de visar dois alvos: não só um principal (o primeiro-ministro), mas outro colateral (a mãe do dito).
Que Sócrates seja "filho da puta" parece-me de mais difícil averiguação do que, por exemplo, a idoneidade ou autenticidade dos seus conhecimentos de engenharia civil, pois desconfio que o primeiro-ministro está tão habilitado para exercer engenharia como eu para gerir uma adega vitivinícola... Quanto à reputação da sua progenitora, não sei se é a contida no conceito aduzido pelo ex-deputado, nem se este chegou mesmo a proferir tal epíteto, o que, a ter acontecido, revelou imprudência da sua parte: é um perigo emitir confidências perante a directora da DREN, que demonstrou ser uma afincada zeladora da imagem do (pseudo)engenheiro e leal ao cartão rosa que guarda na carteira. Aliás, a delação e o culto da personalidade às vezes são atitudes correlativas, mesmo se estão revestidas com o verniz da democracia.
Suspeito até que este incidente foi congeminado nos corredores de S. Bento (não o 16 do Vaticano!) com o firme e astuto propósito de vitimizar Sócrates - e a mãe! -, conseguindo assim, simultaneamente, elevar os seus índices de popularidade e desviar o mais possível a atenção acerca da miserável situação económica do país. E da presumível frase atribuída ao professor Charrua, mais do que ser o primeiro-ministro um filho da puta, a verdade inequívoca é governar Sócrates uma república das bananas!

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terça-feira, maio 22, 2007

Humores # 8

Bush vai visitar um colégio para falar sobre a guerra. Após o seu desconexo e inconsistente discurso, ele diz às crianças que, se quiserem, lhe podem dirigir perguntas. Um menino levanta a mão e Bush pergunta-lhe o seu nome.
- Meu nome é Bob - diz o puto.
- E qual é a tua pergunta, Bob? - interpela o ignóbil texano.
- Tenho 3 perguntas! Primeira: por que é que os EUA invadiram o Iraque sem o apoio da ONU? Segunda: por que é que o senhor ganhou o primeiro mandato, se Al Gore teve mais votos que o senhor? Terceira: o que aconteceu com Bin Laden?
Quando Bush se preparava para responder às perguntas, soou a campaínha para o recreio, pelo que disse às crianças que continuariam a conversa depois do recreio. Ora, quando acaba o intervalo, Bush pergunta:
- Onde estávamos? Ah, sim! Estávamos nas perguntas. Alguém quer perguntar-me alguma coisa?
Outro menino levanta a mão. O insólito inquilino da Casa Branca pergunta-lhe como se chama.
- Steve - adianta o miúdo.
- E qual é a tua pergunta, Steve?
- Tenho 5 perguntas! Primeira: por que é que os EUA invadiram o Iraque sem o apoio da ONU? Segunda: por que é que o senhor ganhou o primeiro mandato, se Al Gore teve mais votos que o senhor? Terceira: o que aconteceu com Bin Laden? Quarta: por que é que o sinal do recreio tocou 20 minutos antes? E quinta: onde está o Bob?

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A pulga chamada Brisa

O governo e o PS continuam a defender, com costumada fidelidade canina, os interesses particulares dos grandes grupos privados, protegendo-os do interesse público mesmo quando nenhuma razão plausível assiste a essa velada e subliminar procuração tão violadora da democraticidade na actuação política.
O último episódio ocorreu na 5ª feira, quando o PS chumbou na Assembleia da República os projectos do Bloco de Esquerda e do PCP que previam, por exemplo, que os automobilistas não pagassem a portagem nos troços de auto-estrada que, por motivo de obras, deixassem de prestar a funcionalidade própria desse tipo de vias. O grupo Mello, que controla a Brisa, agradece aos socráticos deputados (que se dizem "socialistas"!) por acautelarem tão institucionalmente um dos negócios mais lucrativos do país.
É assim que, escudados num contraditório proteccionismo estatal, muitos «homens de negócios»(!) vêm apregoar as virtudes da livre iniciativa e do mercado concorrencial, contra os desmandos da ineficácia centralista do sistema público. Por aqui se vê o oportunismo da obsessão pelos lucros, com a reprovável cumplicidade do Estado, que se faz passar pelo cão que oferece o vulnerável lombo ao indelicado parasitismo da pulga!

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segunda-feira, maio 21, 2007

Primum vivere deinde philosophare - 46

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Portugal, país 2 em 1

Portugal é um país 2 em 1, tão graves são as assimetrias profundas entre as regiões do litoral e do interior. Dados recentes da Marktest indicam que apenas 25 dos 308 concelhos (6% do território, onde reside 45% da população!), quase todos do litoral, concentram metade do poder de compra nacional.
Este acentuado desequilíbrio demográfico (e, por extensão, económico) prova à saciedade como os sucessivos governos têm descurado a implementação de medidas que contrariem a desertificação das zonas do interior; pelo contrário, o poder político tem agravado essas assimetrias, demonstrando uma insensibilidade e injustificável falta de solidariedade, subordinado que está a lógicas economicistas e eleitorais que discriminam negativamente o interior cada vez mais desabitado. Veja-se o encerramento de escolas do 1º ciclo, de serviços de saúde e valências hospitalares, de esquadras de polícia e de tribunais, num ciclo vicioso que condena a interioridade ao isolamento...
As medidas para fixar ou atrair populações nos despovoados concelhos do interior têm sido, principalmente, da iniciativa do poder autárquico e têm consistido, sobretudo, na concessão de benefícios pontuais e avulso (subsídios para nascimentos e casamentos, ou para fixação de residência por casais jovens e estudantes universitários, isenção de impostos municipais para empresas que neles se pretendam fixar, oferecendo um preço simbólico por m2 de área nas zonas industriais, etc.). Mas de que servem tais benesses autárquicas, se as pessoas e as famílias não podem, paralelamente, ganhar o seu sustento e rendimento nesses concelhos? Os municípios afectados pela sua posição no mapa parecem esquecer que a fixação populacional decorre fundamentalmente da criação de emprego.
Estancar a desertificação demográfica do interior só será viável se houver vontade e boa fé políticas por parte da administração central, na efectiva adopção e implementação de medidas que promovam a interioridade, sem as quais o esforço dos autarcas será sempre em vão. Porém, não sejamos ingénuos: enquanto o mundo rural não tiver peso eleitoral significativo, de nada adianta que o Presidente da República seja de Boliqueime e o Primeiro-Ministro de Vilar de Maçada!

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sábado, maio 19, 2007

Legendar o silêncio icónico (47)

Falácia do falso dilema ou verdade apodíctica?
(E que dizer de uma senhora com os dois atributos?)

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sexta-feira, maio 18, 2007

Roseta e a falsa independência

Num país que respire saudavelmente a democracia, a existência de candidaturas independentes é um dado adquirido na realização de actos eleitorais (sobretudo nos de âmbito regional, local ou autárquico), cuja disputa não deve ser um exclusivo dos partidos políticos. Assim se avalia também a qualidade, vitalidade e vigor da experiência democrática, diagnosticando acerca da capacidade de iniciativa e facilidade de intervenção dos ditos "independentes".
Ora, a eventual candidatura de Helena Roseta à autarquia lisboeta tem sido rotulada de "independente", o que não deixa de merecer um veemente reparo. Com efeito, e apesar de eu defender as virtualidades e virtudes das candidaturas verdadeiramente independentes, que merecem o meu aplauso cívico, considero contudo falacioso e politicamente desonesto, próprio de uma retórica enviesada, afirmar que Helena Roseta (como, em anteriores actos eleitorais, Manuel Alegre, Valentim Loureiro, Isaltino Morais, Ferreira Torres ou Fátima Felgueiras) é uma candidata independente. Ao fazê-lo, deturpa-se o campo semântico de «independência», designando de "independentes" os ex-filiados em partidos que depois confrontam em eleições com o capital de notoriedade e legitimidade pública de uma "independência" afinal extraída reactivamente dos partidos com que colaboraram longamente, como se nunca tivessem estado comprometidos com a cumplicidade de directórios, aparelhos ou decisões resultantes de práticas partidárias. Mormente Helena Roseta, que deambulou durante anos e foi deputada pelo PS e PSD, pelo que está longe de estar bacteriologicamente em estado puro!
Tal como Alegre e outros, a arquitecta quer ser agora contra o sistema que defendeu ao longo de décadas e a sua recente desfiliação do PS, pelo timing em que ocorreu, deve-se seguramente a demagógica e oportunista conveniência eleitoral e a puro revanchismo. Pobre esquerda se pretender uma candidatura comum em torno de Roseta... É caso para dizer que, em Portugal, a autêntica independência ainda não é politicamente compaginável com o genuíno pluralismo!

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quinta-feira, maio 17, 2007

Legendar o silêncio icónico (46)

O futuro do PSD, em Lisboa, é mais do que negro - é Negrão!
(Vai o número de candidatos ser proporcional à dívida?)

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Breve lição de História

Vontade de domínio e de poder sobre regiões férteis em recursos naturais (como petróleo, minerais, gás, etc.) agudizam diferenças de conteúdo ideológico e idiossincrático entre culturas e religiões, a tal ponto que chegam a ser conflituantes e promotoras de irresolúveis incompatibilidades entre si, originando práticas sociais tão díspares que o resultado, inevitável, é o terrorismo e a guerra provocados pelo atrito entre interesses e proselitismos antagónicos. Como exemplo paradigmático, temos o velho conflito no Oriente Médio entre israelitas e palestinos, que, num efeito de propagação geoestratégico, se converteu num conflito entre Ocidente e Oriente, entre judeocristianismo e islamismo.
Para se ter uma percepção mais correcta de como a paz naquela região é muito difícil, sugiro que se veja o «mapa animado» que ilustra, em apenas 90 segundos, como os diversos impérios cresceram e sucumbiram nos últimos 3000 anos, em torno daquela massacrada região e não só.

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quarta-feira, maio 16, 2007

Saudades da «Gabriela»

Tinha eu sete tenros anos de idade quando, faz hoje 30 anos, a RTP estreou na sua grelha de programação um, à época, tipo inédito de entretenimento: a primeira telenovela da história da televisão nacional, «Gabriela, Cravo e Canela», baseada no belo romance homónimo da autoria de Jorge Amado e adaptado para televisão. A «Gabriela» representou uma revolução não só em termos de formato, aniquilando de vez as fotonovelas e as radionovelas, mas também de mentalidades ao introduzir um choque nos costumes do país conservador, tradicionalista, rural e ainda em transição democrática, como era Portugal em 1977. Mais ainda tratando-se de uma narrativa de traição e adultério.
A bela Sónia Braga, no papel principal de entre uma galeria inesquecível de personagens, foi a primeira actriz brasileira a ter proeminente visibilidade no nosso país, encarnando a "Gabriela" e fomentando massivamente nos portugueses, de todos os segmentos sociais, o hábito de acompanhar um programa de TV, em doses diárias de 45 minutos, que reunia famílias à volta dos televisores e animava conversas em casa, no café, no trabalho, nos transportes ou na escola... É uma das poucas memórias de infância que guardo!
Nesse longínquo ano de 1977, a RTP era a única estação de televisão lusa, com dois canais e transmitindo ainda a preto, cinzento e branco (as outras cores viriam dois anos depois). Portugal vivia os tempos conturbados do PREC, em que a instabilidade social e as intrigas políticas dominavam os noticiários. Curiosamente, o próprio Conselho de Ministros de então suspendeu os trabalhos à hora da transmissão do último episódio, seis meses depois da exibição do primeiro episódio.
Trinta anos depois de «Gabriela», o dilúvio de novelas que lhe sucedeu e a exploração intensivamente industrial da fórmula, ocupando uma parte exageradamente grande das grelhas de programação dos canais de TV, esgotou a paciência de muitos que, entretanto, e com o advento de alternativas culturais (como clubes de vídeo, proliferação de shoppings e salas multiplex de cinema, aumento de estabelecimentos de diversão nocturna, etc.) deixaram de ligar a telenovelas. Em geral, o que hoje se televisiona merece um longo bocejo de enfado e, nisto de novelas, parece que não há amor como o primeiro: ah Nacib, que bela mulher tinhas!

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terça-feira, maio 15, 2007

Razões do divórcio unilateral

Amanhã, a Assembleia da República vai votar (e certamente reprovar) um projecto de lei sobre o divórcio, da iniciativa do Bloco de Esquerda, o qual defende o direito a que um dos cônjuges possa pedir o divórcio unilateralmente, ou seja, sem ter que existir acordo ou ter que provar a culpa da outra parte (por violência, agressão, bigamia, abandono, afastamento, etc.). Do meu ponto de vista, considero louvável um tal passo no sentido de reforçar a garantia das liberdades individuais, pois o dever associado ao casamento não é mais importante que o bem-estar pessoal e a quebra de vínculo afectivo e passional entre os membros do casal. Deixar de amar não pode ser criminalizado e o Estado não pode dificultar nem impedir a felicidade dos seus cidadãos.
O Bloco de Esquerda não descobriu a pólvora, uma vez que esta medida já existe na Alemanha (desde 1976), na Suécia (desde 1987), na Noruega (desde 1991) e na vizinha e conservadora Espanha (desde 2005); e não é por isso que, nestes países, o matrimónio tenha sido desvalorizado. O facto é que se reconhece que, em sociedades cada vez mais tecnológicas e com crescente mobilidade, os novos paradigmas interactivos e comunicacionais geram dinâmicas de convivialidade que têm potenciado o recrudescimento do número de divórcios, muitos dos quais litigiosos e penosamente violentos, física, psicológica e financeiramente.
Hoje, em Portugal, só há hipótese de divórcio não litigioso (não se invoca a culpa do parceiro) sem mútuo consentimento, mediante a separação de facto durante três anos, embora continuem, absurdamente, casadas para efeitos patrimoniais, fiscais e pessoais. O casamento não tem de ser um contrato vitalício, porque a lógica dos sentimentos pode não ter a duração e é distinta da lógica de imperativas obrigações contratuais. Será aceitável impor a alguém uma tal situação, ao longo de três penosos anos, dificultando complementarmente que possa refazer a sua vida sentimental?
O projecto do Bloco de Esquerda define que o tribunal julgue em matéria de pensões, mas abstraindo da culpabilidade e relevando a necessidade e o contributo (financeiro ou outro) de cada cônjuge ao longo da vigência do casamento. Por outro lado, a divisão de bens e a regulação do poder paternal são tratados autonomamente, não servindo de instrumento de pressão para aceitar ou não o divórcio, o que evita a vileza de chantagens e a lavagem de roupa suja. Assim, se este projecto fosse aprovado, toda a carga dramática de um tal processo seria, no mínimo, atenuado.
A proposta de divórcio unilateral é "divórcio a pedido", mas, suponho, não é o casamento igualmente a pedido? E não se trata de "divórcio na hora", visto se exigir a realização de duas conferências de conciliação que dissipem as dúvidas e as hesitações acerca da (in)viabilidade do casamento. Por conseguinte, não se trata de facilitar excessivamente o divórcio, mas humanamente reconhecer que a normalidade, a harmonia e a serenidade numa relação íntima entre um casal desavindo (em que, pelo menos, uma das partes deixa de se rever nesse casamento) deixa de ser possível. Pois como pode um casamento sobreviver saudavelmente contra a vontade de um dos elementos? Não será penoso a um cônjuge, que não queira continuar casado, ter que imputar ao outro uma culpa? Não será o fracasso de um casamento, quando «já não tem pernas para andar», causa suficiente para a sua recomendável dissolução?
Suspeito que, entre as vozes dos que hoje se opõem ao divórcio unilateral, estariam os primeiros a querer beneficiar dele à primeira oportunidade! O que se pede é a justa sensibilidade e o racional bom senso; mas o que, antevejo, não se vai corrigir é o irracional preconceito!

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segunda-feira, maio 14, 2007

Primum vivere deinde philosophare - 45

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sexta-feira, maio 11, 2007

Duas notas sobre um rapto

Mais uma vez somos confrontados com o desaparecimento de uma criança, provocando na opinião pública um sentimento de expectativa quanto ao desfecho do caso, sobretudo porque sabemos que nem todos os casos desta natureza acabam bem. Mas há duas notas sobre o desaparecimento, em Lagos, de Madeleine McCann que me merecem um particular comentário.
1. É evidente que os pais desta criança inglesa são responsáveis e culpados por negligência. Mas esta é a mesma negligência em que, com toda a certeza, incorreram todos os pais do mundo, só que tiveram mais sorte e foram favorecidos pelas situações e circunstâncias que tecem os acontecimentos.
Porém, e escamoteando essa contingência, e numa impertinente atitude de superioridade moral, há vozes, algumas de especialistas, que não se têm coibido de apontar publicamente o dedo acusador ao casal desafortunado, num sádico exercício que exponencia intoleravelmente a dor, o desespero e a angústia que, certamente, os pais de Maddie devem estar a sentir. Para carrasco já basta(m) o(s) eventual(is) raptor(es)!
2. Outra nota importante prende-se com as críticas que se ouvem acerca da desproporção de recursos humanos e materiais que estão a ser empregues na operação de localização da criança inglesa, em comparação com casos do passado em que a indigência de meios foi escandalosamente menor, como o do bebé português raptado no hospital de Penafiel, ou o do Rui Pedro que, então com 11 anos, desapareceu em Lousada, em 1998, e ainda se desconhece o seu paradeiro.
Claro que tais diferenças de tratamento são chocantes e não podem deixar-nos indiferentes. E isso até pode estar relacionado com uma lógica de subordinação das forças policiais e da autoridade política à inegável importância económica da nacionalidade da pessoa desaparecida, bem como ao impacto mediático causado. Todavia, há que elevar a fasquia a partir de agora, exigindo-se, para casos futuros, pelo menos a mesma prontidão operacional e disponibilização de meios, terminando com as ineficiências e ineficácias do passado. E isso independentemente da nacionalidade e estatuto das pessoas desaparecidas, sejam elas inglesas, portuguesas, timorenses ou etíopes, filhas de turistas ou de imigrantes ilegais...
O chauvinismo e arrogância ingleses podem ser motivo de lusa irritação, mas mais importante é aprender com os erros e não nivelar por baixo, até porque, neste caso, os prejudicados não falam português!

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Legendar o silêncio icónico (45)

É sempre a mesma desculpa!
(Ou a impertinência de um mal feminino...)

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Ipsis verbis [3]

"Senhores priores, eu sei como vossas mercês, com o venerando Bispo de Roma à cabeça, trovejaram tão ferinamente contra o sufrágio universal, contra a liberdade de expressão, contra a liberdade de imprensa, contra a liberdade de ensino, contra a liberdade de manifestação, contra a igualdade perante a lei, contra a liberdade de culto, contra a República, contra o 25 de Abril, contra o divórcio, contra a pílula, contra o preservativo. Trovejar até seria o menos, porque lamentavelmente chego a pressentir em alguns dos vossos colegas um ressentimentozinho por já não ser permitido queimar gente ou denunciar gente para ser queimada. Se a divindade que vossas senhorias reverenciam existisse, existência que nunca foi provada e de que me permito, discreta mas firmemente, duvidar, decerto que o perfil da personagem, como vem às vezes relatada, não se compaginaria com certos comportamentos e certas vozearias dos seus subordinados."
- escritor Mário de Carvalho, in «Jornal de Letras», nº 951

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quinta-feira, maio 10, 2007

A Igreja que ama a ditadura

De vez em quando, mas sem perder a impertinente regularidade, a máscara da Igreja Católica cai e desvela o verdadeiro rosto de ignomínia em que se erige muita da sua doutrinária idiossincrasia (tão antagónica dos valores cristãos originais), através de clericais vozes (ir)responsáveis debitando os mais diversos dislates e asserções irreflectidas. O que vale é que «vozes de burro não chegam ao céu» e as correntes humanistas liquidaram a Inquisição, o poder hegemónico e a influência do prelado sediado no Vaticano. Mas há que ter cuidado, pois esta instituição não dorme de todo e o menor descuido pode ser fatal ao progresso civilizacional.
Desta vez, a autoria do disparate dá pelo nome de Fernando Sebastian Aguilar, o arcebispo de Pamplona, que considera que os partidos políticos de extrema-direita podem ser "dignos de consideração e apoiados", porque são "fiéis à doutrina social da Igreja". E remata com o exemplo da Falange, o partido fascista de Primo de Rivera, o mentor do ditador Francisco Franco.
Está tudo num documento datado de 17 de Março, agora divulgado e no qual o arcebispo espanhol chega mesmo a instigar ao voto nesses partidos, afirmando que os mesmos "têm um valor testemunhal que pode justificar um voto". Da minha parte, entendo que estes são exemplos inequívocos - e já os há de sobra! - do etnocentrismo, racismo, homofobia e xenofobia que contamina e polui a «doutrina social» desta profana e secular igreja. Sendo eu ateu - assumo o risco de o assumir! -, aqui deixo a promessa de que me converterei ao catolicismo quando o próximo arcebispo de Pamplona, para não dizer o Papa, for um preto estrangeiro (para não dizer gay ou mulher!)...
Para Fernando Aguilar, como para outras vaticanas eminências pardas, afinal nem todos somos iguais, pois uns serão filhos de Deus, mas outros são filhos da meretriz!

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quarta-feira, maio 09, 2007

«Quo vadis» Europa?

No dia 9 de Maio de 1950, foi apresentada a «Declaração Schuman», na qual se propôs a criação de uma Europa organizada, naquela que foi a ideia seminal do que viria a ser a actual União Europeia. E faz hoje 12 anos que, na Cimeira de Milão, se adoptou este dia como o «Dia da Europa».
A «Declaração Schuman» aprofundou a necessidade de sulcar caminhos no sentido de uma construção europeia que congregasse a diversidade de nacionalidades numa união democraticamente consolidada. E esse histórico documento já antevia as dificuldades de tal processo, ao afirmar que: "a Europa não se fará de uma só vez, nem numa construção de conjunto: far-se-á por meio de realizações concretas que criem primeiro uma solidariedade de facto".
57 anos depois desta declaração pioneira, a ideia de Europa encontra-se ainda em maturação, não obstante os avanços já encetados, designadamente com a (parcial) união monetária. Agora com 27 membros, a crise de crescimento deu lugar à crise de entendimento e definição consensual de prioridades mobilizadoras, o que a tem deixado ora moribunda, ora em lume brando. Mas a inércia de decisão política parece ter correspondência na inércia de indiferença popular... Quantos cidadãos europeus se lembram da data? Quantos cidadãos europeus perspectivam pacificamente a concertação estratégica dos interesses nacionais com os interesses comunitários? Será mesmo viável construir os Estados Unidos da Europa? Quo vadis Europa?

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terça-feira, maio 08, 2007

Opressão cristã: na Irlanda como no Céu!

A recente vitória do «sim» no referendo à IVG é uma conquista civilizacional que vai certamente contribuir para, entre outros aspectos, a diminuição de graves injustiças sociais e desigualdades no nosso país. Neste caso, Portugal serve de exemplo positivo a outros países onde a irracionalidade atávica do obscurantismo religioso faz do aborto um assunto tabu e um dogmático preconceito.
Senão, veja-se o triste caso que se passou há dias na Irlanda, um dos países mais católicos da Europa. Uma irlandesa de 17 anos, decidiu interromper a gravidez, de quatro meses, depois de lhe ter sido dito pelos médicos que o bebé, após o nascimento, não irá sobreviver mais do que alguns escassos dias, em virtude de o feto sofrer de anencefalia, isto é, ausência de parte do crânio e do encéfalo (graças a Deus?). Como a lei irlandesa é muito restritiva (o aborto só é legal se a gravidez colocar a mãe em risco de vida ou suicídio), a jovem manifestou o desejo legítimo e racional de recorrer a uma clínica de abortos em Inglaterra (tal como as portuguesas se habituaram a ir a Badajoz), país onde a IVG foi legalizada há 40 anos.
Porém, o serviço de saúde irlandês impede-a de sair do país, exigindo-lhe uma autorização judicial para se deslocar à terra de Sua Majestade. Neste impasse, a gravidez da adolescente vai decorrendo...
Não configurará esta situação uma desumana e opressiva imposição de vontade alheia, correspondendo a uma forma ignóbil de tortura física e psicológica? Não justificará a impossível viabilidade do nascituro uma excepção lícita à proibição tirânica da IVG? Nem agora que a ideia estúpida do «limbo» foi posta de lado?
A igreja papal italiana tem boas razões, não só as históricas e as de erradas teologias e absurdas doutrinas, para se manter alojada na opulência da margem do romano rio Tibre. Mas, se a vaticana eminência quisesse, razões outras e acrescidas teria para sentar o santo rabo num trono algures em Dublin ou Varsóvia!
Pai Nosso que estais na Irlanda e no Céu, quando nos livrarás do mal?

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segunda-feira, maio 07, 2007

Primum vivere deinde philosophare - 44

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Dodot subsidia patronato?

A denúncia partiu da Central Unitária de Trabalhadores do Chile: a cadeia chilena de supermercados «Santa Isabel» obriga as suas operadoras de caixa a usar fraldas, pois o seu horário de trabalho não contempla pausas que permitam ir aos sanitários.
Por cá, sabemos que há empresas fabris, sobretudo do sector têxtil, que controlam com rigor matemático o acesso e as permanências nos sanitários. E num passado recente, nos anos 90, ficou célebre o caso da operária de uma fábrica em São João da Madeira, que urinou sobre a máquina onde trabalhava, em virtude de lhe ter sido negada a autorização para ir fazer as líquidas necessidades.
O mundo laboral está cada vez mais subvertido e subordinado por uma cruel lógica de eficiência e produtividade a todo o custo e maximização do lucro. No prazo de poucas décadas, é possível que, num registo de paradoxal ironia, venham a ser os patrões a ressuscitar e a reabilitar as teses marxistas, como quem morre envenenado com o seu próprio veneno. E, por falar em patrões, estarão eles a ser subsidiados e patrocinados pela Dodot?

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sábado, maio 05, 2007

O que os lisboetas merecem

Assumindo uma inusitada posição de força, Carmona Rodrigues não renuncia ao seu mandato de Presidente da Câmara de Lisboa, após ter sido constituído arguido num processo directamente relacionado com a sua actuação como edil. E, não é demais lembrá-lo, foi Carmona que negociou nomeações para empresas municipais a troco de apoios eleitorais, alinhando assim no «vale tudo» para chegar ao poder.
Com tal atitude política, o autarca-mor de Lisboa, para além de ser desleal para com Marques Mendes e provar a ingenuidade deste, revelou igualmente incapacidade em interiorizar os mecanismos básicos da ética democrática, movido antes por um sentimento de ódio e vingança pela falta de apoio institucional do PSD durante a crise camarária.
Mas, em democracia, as pessoas têm o que merecem: podendo escolher alternativas aos costumeiros candidatos de conveniência de PS e PSD, representantes de tantos interesses obscuros, os lisboetas elegeram Carmona e a sinistra equipa que o rodeou (os seus braços direito e esquerdo também são arguidos no mesmo processo), mesmo tendo José Sá Fernandes entre as opções possíveis. Lisboa, tal como Gondomar, Oeiras ou Felgueiras, são apenas alguns dos exemplos quer da falta de cultura democrática de muitos eleitos, quer da irresponsabilidade cívica e imaturidade crítica de muitos eleitores.
Afinal, num país cujos cidadãos se conformam e até comprazem com a cunha e a corrupção, os portugueses interpretam ao avesso o pressuposto deontológico segundo o qual "o exemplo deve vir de cima". Egoisticamente imersos nos seus interesses individuais, esquecem é que a justiça portuguesa protege a impunidade política e decide quem tem... os melhores advogados!

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sexta-feira, maio 04, 2007

Humores # 7

Como é hábito ao sábado, levantei-me cedo, vesti-me e agasalhei-me silenciosamente, tomei o meu café e até passeei com o cão. Em seguida, fui até à garagem, engatei o barco de pesca no meu 4x4 e ainda cheguei a dirigir-me para a marina. De repente, começou a chover intensamente. Havia até neve misturada com a chuva, ventos a mais de 80 km/h. Liguei o rádio e ouvi que o tempo seria chuvoso durante todo aquele dia. Voltei imediatamente para casa. Silenciosamente, tirei a roupa e deslizei rapidamente para debaixo dos cobertores. Afaguei as costas da minha mulher, suavemente, e sussurrei:
- "O tempo lá fora está terrível".
Ela, ainda meio adormecida, respondeu:
- "Acreditas que o idiota do meu marido foi pescar com este tempo?"

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Há traduções difíceis!

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Legendar o silêncio icónico (44)

Como não se estimula o consumo gay de hamburgueres!
(Apesar da qualidade da matéria-prima!)

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quinta-feira, maio 03, 2007

Da liberdade e do medo

Hoje é o Dia da Liberdade de Imprensa e, a este propósito, nuvens de manipulação censória têm pairado sobre legislação que o governo pretende aprovar em relação aos média. É a campanha em curso que confunde subserviência e obediência acéfala com crítica livre, legítima e democrática.
Cito um excerto do excelente artigo de opinião de José Gil, publicado na «Visão» que hoje veio a lume:
"Estão-se a tomar uma série de medidas que vão no pior sentido da liberdade democrática. É o «guia de boas práticas» incentivando os funcionários públicos à denúncia (considerada como um «dever legal») das «situações irregulares» dos colegas - uma ignomínia, um incentivo do Ministério da Justiça à corrupção moral, ao envenenamento das regras da cidadania, à delação, só imagináveis em regimes autoritários ou ditatoriais (que fazem do Estado um poder sagrado a que se deve tudo); é a concentração das polícias sob a tutela do primeiro-ministro, a Entidade Reguladora da Comunicação Social, o novo Estatuto do Jornalista, etc., com disposições que apontam subtilmente numa direcção: criar um clima moralizador da vida pública, substituir os comportamentos cívicos e deontológicos por comportamentos «morais» ou de «bom senso». (...)
O medo encolhe os cérebros, reduz o espírito, fecha os corpos. Está-se a formar um clima de medo. E o medo tem a particularidade de alastrar. Ao medo social de perder o emprego, de não subir na carreira, de perder as pensões, de não aguentar tanta pressão e constrangimento em tantos domínios, junta-se agora o medo de protestar, de falar, de se exprimir. O medo social está a tornar-se político: tem-se medo do Governo, e, talvez, um dia, do primeiro-ministro."
Infelizmente, faz sentido comemorar um tal dia e oxalá Portugal não se esteja a transformar num país com uma qualidade democrática semelhante à qualidade do curso superior de Sócrates!

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quarta-feira, maio 02, 2007

Licenciatura Simplex

Depois do sucesso do programa «Empresa na Hora», o ministério da Educação, em parceria com a Universidade Independente, decidiu criar o programa «Licenciatura na Hora». Através deste programa, qualquer cidadão passa a poder tirar qualquer licenciatura em menos de uma hora e sem sair de casa (incluindo aos domingos). Basta aceder ao site da UnI e seguir os passos e, em menos de uma hora, tem a licenciatura na mão.
Este programa está inserido no política do governo - o programa «Simplex» - que visa eliminar um dos grandes entraves ao crescimento do paí­s, que é a excessiva burocracia. Segundo palavras da Ministra da Educação, "era incompreensí­vel que um simples canudo necessitasse de 3 a 5 anos (no mí­nimo)" para ser conseguido. E, segundo palavras do ministro Mariano Gago, "este programa já tinha sido experimentado anteriormente. Mais concretamente no Governo de António Guterres, em 1996, no curso de Engenharia Civil, com o enorme sucesso que toda a gente conhece".
Com governos desta estirpe, Portugal vai finalmente ombrear com as grandes nações do mundo!

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terça-feira, maio 01, 2007

Polivalência e decadência da escola

Desde os remotos tempos da Academia ateniense fundada por Platão, as escolas foram consideradas lugares de excelência sapiencial, intelectual e cognitiva. Daí advem a dignidade com que estes espaços de formação têm sido encarados ao longo dos séculos.
Mas a tradição já não é o que era e, se em certos assuntos, a reformulação e até eliminação da tradição se justifica (escravatura, pena de morte, homofobia, etc.), outros há em que querer mexer no legado herdado só pode ter trágicas consequências culturais. Ora, é o caso do modo como a privatização em curso de serviços públicos básicos que o Estado devia prestar - na saúde, educação, justiça - leva à destruição de valores elementares, como o da justiça social, da equidade e da igualdade de oportunidades. Nesta voragem capitalista e neoliberal que se nutre de uma sociedade massificada e desprevenida, a escola é uma das instituições sociais que mais tem sido penalizada pela mudança de paradigma.
Em Portugal, a imagem da escola vai-se degradando quer pela mediatização frequente de casos de violência e indisciplina, quer pela implementação de políticas educativas pedagogicamente permissivas, facilitistas, irrealistas e desautorizadoras da autonomia e nobreza das funções docentes, com a crescente imposição e burocratização de tarefas e deveres, que agravam a escandalosa perda de direitos. Qualquer pessoa informada sabe que, em rigor, a escola pública no nosso país não está habilitada para cumprir cabalmente o objectivo formativo para que foi criada, com professores cada vez menos motivados e convertida que está em depósito ou armazém de crianças e adolescentes, muitos dos quais reflectem ausência de afectividade e deficitária interiorização de regras de convivência que as famílias a que pertencem não souberam transmitir, demitindo-se assim do seu papel de educação informal.
Mas é o próprio poder que tutela o ensino que se vai também demitindo das suas obrigações para com as exigências que impõe à escola, sendo um dos últimos episódios desta decadência o facto de muitas escolas portuguesas alugarem os seus espaços para eventos diversos do ensino, como (imagine-se!) casamentos e baptizados, que se constituem como fontes de receita para poderem funcionar. Aliás, na entrevista que deu à revista «Visão», na sua última edição, a ministra da Educação acha normal esse facto, que associa à autonomia das escolas e não à falta de adequado financiamento das mesmas. Nem sempre polivalência significa excelência!
A sinistra e inominável governante (não a nomeio para não poluir visual e eticamente este texto) chega mesmo ao ponto de dar este exemplo comparativo: "Vou só contar uma história que presenciei no Brasil. Era uma escola situada num morro e o espaço mais qualificado da favela. Era ali que se realizavam os baptizados e os casamentos." Este paralelismo é bem ilustrativo da desconsideração e do desconhecimento que a dona tem pela instituição que devia tutelar condignamente. Mas, afinal, sabemos que, hoje, analfabeto não é o que não sabe ler; e, por outro lado, como esperar mais de um governo chefiado por um obscuro e nada exemplar pseudoengenheiro?

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